Pop

Beyoncé pronta para revolucionar com Lemonade

Diva deve lançar seu novo álbum neste sábado (23)
Márcio Bastos
Publicado em 23/04/2016 às 12:12
Diva deve lançar seu novo álbum neste sábado (23) Foto: Divulgação


Se há um aprendizado a ser tirado da carreira de Beyoncé nos últimos anos é o de que a qualquer dia e a qualquer hora uma nova música ou disco podem aparecer na internet, assim, sem mais nem menos. Para os fãs, tornou-se um caso quase sadomasoquista: eles se deliciam com a espera por um novo lançamento da cantora, quase diariamente colhendo informações como verdadeiros detetives, ainda que sua diva tenha optado por se tornar cada vez mais lacônica. Beyoncé parece ter percebido que, para o público, ela fascina mais enquanto esfinge. Hoje, quando será exibido na HBO americana um projeto chamado Lemonade, ela pode finalmente revelar seu novo trabalho. Mais uma vez, o mistério permanece: sabemos data e horário, mas não do que se trata.

Toda essa nova tática de divulgação começou no dia 13 de dezembro de 2013, quando Beyoncé lançou de surpresa o quinto disco, que leva seu nome. Um álbum visual (a própria artista se refere assim a ele, porque o projeto chegou ao público com um clipe associado a cada canção). Foi um rebuliço: na internet, meios de comunicação, conversas de bar, todos, até os que não se interessavam pelo trabalho da cantora, comentaram a estratégia. O fenômeno teve efeitos a curto, médio e longo prazo: na primeira semana, ela vendeu 600 mil cópias do álbum (que só estava disponível digitalmente), em poucos meses embarcou na sua turnê mais bem sucedida e tornou-se referência, sendo copiada por artistas como Drake, Azealia Banks, Rihanna e Kanye West.

Um ótimo disco, o álbum visual evidenciou a genialidade empresarial de Beyoncé, que desde que rompeu com o seu pai – que cuidava da sua carreira desde a infância – tomou as rédeas criativas e marqueteiras da sua marca (sim, porque Beyoncé é sinônimo de um império que abarca música, moda, cinema...). Ao invés de investir no calendário tradicional de divulgação, com visitas a programas de rádio e televisão, entrevistas para revistas e toda uma maratona de aparições públicas que envolve o universo pop, ela fez com que o público – em especial os internautas – divulgassem o trabalho, seja reproduzindo memes (muitas das canções e dos vídeos parecem ter sido pensados para bombar no Tumblr e Twitter), discutindo o novo álbum ou simplesmente criando hype gratuito. E o silêncio de Beyoncé foi essencial nesse processo: em um momento no qual a exposição da vida privada é cada vez mais dissecada, ela optou por ter controle total sobre o que o público vê e fala sobre ela e sua família. O interesse por seu trabalho, portanto, passou a ganhar também um aspecto de tentar desvendar Beyoncé – que no fundo sempre foi uma grande incógnita – através das letras e dos vídeos.

Nada disso, porém, teria o mesmo impacto se, de fato, a música não fosse boa. Desde o disco (2011), Beyoncé parece menos interessada em competir com as cantoras mais jovens que dominam as paradas musicais. Em seus últimos dois trabalhos, em especial no álbum visual, a cantora fez experimentações sonoras e flertou com o alternativo, entregando algumas de suas melhores canções. Os temas também amadureceram: Beyoncé apresentava nas letras uma mulher madura, explorando sua sexualidade de forma mais visceral, e expondo também questões relacionadas ao seu casamento com Jay Z e o nascimento de sua filha Blue Ivy.

POLÍTICA

Apesar de pouco se saber sobre o novo disco de Beyoncé, tudo indica que vai se tratar de seu disco mais político até agora. Conhecida por, durante sua trajetória, não se envolver em temas espinhosos, ela surpreendeu ao lançar (de surpresa, claro) o clipe da faixa Formation, uma ode à cultura negra, além de crítica ferrenha à violência sistemática da polícia americana contra os afrodescendentes. A faixa foi divulgada em fevereiro, pouco antes da apresentação de Beyoncé no Super Bowl, final da liga de futebol americano e maior audiência da TV daquele país. Cercada de dançarinas reverenciando o Partido dos Panteras Negras, ela usou seu starpower para inserir na casa de milhões de americanos, muitos deles racistas, imagens de empoderamento dos negros. O resultado, claro, foi controverso: muitos reacionários ameaçaram boicotar a carreira da artista e até incitar violência contra ela. A onda de apoio, no entanto, foi muito maior.

No vídeo de Formation, Beyoncé aparece sobre um carro da polícia de Nova Orleans, em meio ao caos que maculou o estado após o Furacão Katrina. Com uma população majoritariamente negra, muitos acreditam que o governo negligenciou a região, tornando ainda mais simbólico o ato da artista. Pelo trailer de Lemonade, o tema deve ser aprofundado. Em algumas imagens, Beyoncé aparece andando com um bastão pelas ruas de Nova Orleans enquanto explosões acontecem atrás dela. Fora isso, caiu na internet uma foto dela e Jay-Z ao lado dos pais de jovens negros assassinados pela polícia americana.

Entre os colaboradores do álbum, Bone Thugs-N-Harmony, o cantor Future e o produtor Mike Will Made It, que produziu Formation. De acordo com algumas informações de bastidores colhidas pela revista Billboard, o trabalho deve ser ainda mais radical do que o seu antecessor. Hits estão longe de ser uma preocupação e Beyoncé quer tocar na ferida da sociedade americana. Um dos poucos a ouvir o disco, o estilista Ty Hunter afirmou a uma revista que o disco é “mais que incrível”.

Lemonade, segundo alguns, pode surpreender ainda mais e ser, de fato, um álbum-filme, não dissociando imagem de som. Assim como Formation, que foi disponibilizada para download gratuito, há quem especule que Beyoncé queira deixar mais uma marca na indústria ao disponibilizar um produto que aprofunde a ideia dos produtos pensados para plataformas digitais, já desapegando do CD. Bem, uma coisa é certa: a máquina de divulgação de Beyoncé continua genial – praticamente sem nos entregar nada, cá estamos discutindo o que pode vir.Uma certeza é que todos os olhos estarão em Beyoncé na noite de hoje. oncé na noite de hoje. 

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