Mimo retornou a Olinda em grande estilo

Depois de um ano de ausência na Cidade Patrimônio da Humanidade por falta de recursos, festival voltou com música da melhor qualidade
GGabriel Albuquerque
Publicado em 21/11/2016 às 9:20
Foto: Beto Figueiroa/ Divulgação


No ano passado, a Mostra Internacional de Música de Olinda (Mimo) teve a sua etapa pernambucana cancelada por falta de recursos financeiros e corte de verbas — ironicamente o festival conseguiu ser realizado no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Mas a Mimo retornou à sua cidade natal e o fez com grande estilo. De sexta a domingo, foram apresentados 15 shows, além de uma mostra de cinema com 15 filmes e, antes disso, uma etapa educativa com workshops e masterclass.

Na última quarta-feira (16), a reportagem do Jornal do Commercio denunciou os problemas de infraestrutura do Sítio Histórico de Olinda. Na Mimo, porém, tudo foi contornado. Policiais circulavam pelo local a todo momento garantindo a segurança, a iluminação foi reforçada e a descentralização dos palcos evitou um tumulto de pessoas e deixou o trânsito livre.

Em termos artísticos, a volta da Mimo deixa clara a dimensão de sua importância. Ao lado do Rec-Beat, é o único festival que olha para além do eixo Europa/Estados Unidos e traz a música (nova ou canônica) da América Latina e da África. Em que outra ocasião o público do Nordeste poderia assistir shows como o do ganês Pat Thomas, importante precursor do afrobeat, ou de Totó La Momposina, a “rainha da cumbia”? A Mimo oferece essa oportunidade rara, provavelmente única de conhecer expressões culturais diversas, nos aproximando de lugares que nos parecem invisíveis – o que não deixa de ser um gesto político, mostrando que o mundo é muito maior e não se resume aos EUA.

No sábado, um dos shows mais impressionantes foi o do grupo Violons Barbares, um trio de instrumentistas que vinha da Mongólia, Bulgária e França. Eles reformulavam a música folclórica de cada país usando instrumentos tradicionais como a galduka (uma espécie de rabeca complexificada, com três cordas melódicas e mais 11 onze ressonantes) e o morinkhuur (um tipo de contrabaixo acústico com duas grossas cordas, tocadas por arco). 

Tudo aquilo fascinava a plateia da Igreja da Sé. Não como algo exótico ou estranho, mas pela força própria que a música tinha. As pessoas ouviram atentamente, em silêncio religioso, o solo que o mongol Dandarvaanchig Enkhjargal fez com o seu morinkhuur e o canto gutural diafônico (veja no vídeo acima). Atônitas, aplaudiram a performance de pé.

Rainha da cumbia

A programação do palco principal, na Praça do Carmo, começou por volta das 22h com apresentação de Totó La Momposina. Acompanhada de uma big band de percussão, metais, guitarra e baixo elétrico, fez a multidão dançar com as faixas de Tambolero, seu último álbum, misturando os ritmos ancestrais dos indígenas sul-americanos e a música afro-latina. Aos 76 anos, Totó exibia ainda exibia uma voz potente e vitalidade contagiante – o símbolo da voz feminina encarando o tempo, uma “mulher do fim do mundo”, assim como Dona Onete ou a Elza Soares. 

A noite terminou com o show do Bixiga 70, que subiu ao palco à meia-noite. A última passagem da big band paulista por Pernambuco foi em 2013, no Coquetel Molotov, ainda no Teatro da UFPE. Em Olinda, a banda mostrou o amadurecimento de sua fusão de jazz, funk e música latina. 

O festival terminou no domingo. Pela manhã houve uma bela apresentação do jazzista pernambucano Amaro Freitas no Convento de São Francisco. Acompanhado por Hugo Medeiros (da banda Rua, na bateria) e Jean Elton (baixo acústico), o pianista apresentou as músicas de seu álbum de estreia Sangue Negro, que dá uma roupagem jazzística a ritmos populares do Estado, como o frevo e maracatu

Tiago Calazans/ Divulgação
Mulher do público foi convidada para dançar no palco durante o show de Totó La Momposina - Tiago Calazans/ Divulgação
Beto Figueiroa/ Divulgação
Amaro Freitas lotou o Convento de São Francisco no domingo de manhã - Beto Figueiroa/ Divulgação
Beto Figueiroa/ Divulgação
Amaro Freitas lotou o Convento de São Francisco no domingo de manhã - Beto Figueiroa/ Divulgação
Foto: Tom Cabral/ Divulgação
Bixiga 70 encerrou a festa no sábado - Foto: Tom Cabral/ Divulgação
 Tiago Calazans/ Divulgação
Paula Lima e Leo Gandelman encerram o show cantando 'Maracatu Atômico' no meio da galera - Tiago Calazans/ Divulgação
Foto: Beto Figueiroa/ Divulgação
Violons Barbares é formado por músicos da Mongólia, França e Bulgária - Foto: Beto Figueiroa/ Divulgação

Além dos shows em si, a Mimo promove uma celebração, um clima de festa. Os palcos espalhados pela cidade alta (na Igreja da Sé, Carmo e Mosteiro de São Bento) estão convivendo com as prévias dos blocos de carnaval, com pessoas sentadas na calçada de casa, com a cidade, enfim. É um movimento de ocupação do espaço que está acaba reverberando as reivindicações do Ocupe Cine Olinda e Ocupe Calçadas. O saxofonista Leo Gandelman e a cantora Paula Lima perceberam esse clima e terminaram o show no meio da galera cantando Maracatu Atômico

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