A história do primeiro disco brasileiro de música eletrônica

'Música Eletrônica', do maestro Jorge Antunes, é relançado pela espanhola Guerssen Records
GGabriel Albuquerque
Publicado em 22/11/2016 às 9:41
Foto: Acervo Paulo Beto/ Reprodução Flicker


Professor da Universidade de Brasília há 43 anos, o compositor e maestro carioca Jorge Antunes nunca parou de produzir e acumula um catálogo vasto que inclui muitas obras sinfônicas, música de câmara e duas grandes óperas. Mas o seu principal trabalho é antigo: o álbum Música Eletrônica (1975). Ainda que pouco conhecido entre o grande público, trata-se de um importante marco histórico: é o primeiro disco brasileiro de música eletrônica.

Depois de contatar Jorge Antunes no início do ano, resultando num livro em 2011.

Dois anos depois, em 1963, Antunes já era estudante de composição da Universidade do Brasil (atual UFRJ). Ele tinha receio de mostrar suas peças eletrônicas aos professores (“na época era tachado de maluco”), mas comentava sobre o assunto com os colegas. O professor Henrique Morelembaum acabou tomando conhecimento do trabalho de seu aluno e organizou uma apresentação para ele na Universidade. “Foi ótimo porque o pessoal não conhecia, não tinha ouvido falar. Do público não tinha quase ninguém da escola de música”, relembra. 

Estes eram elementos raros para a música brasileira até então. O álbum Electronicus (1974), de Renato Mendes, foi o único brasileiro a ganhar o prêmio Nidden, dedicado à música produzida por instrumentos eletrônicos. Porém, só apresentava versões de clássicos da MPB como A Banda e A Noite do Meu Bem tocadas por um sintetizador moog – ou seja, é um disco de sonoridade eletrônica, não de música eletrônica propriamente. Walter Smetak, Tom Zé e Caetano Veloso utilizaram essas técnicas, mas de forma mais pontual. E, diferente de discos como Todos os Olhos e Araçá Azul, Música Eletrônica foi bem recebido na imprensa. 

Até mesmo antes do lançamento do álbum, Jorge Antunes já era pautado por trazer ao Brasil a experimentação das vanguardas musicais europeias. O jornal Última Hora de 15 maio de 1968, por exemplo, anunciava em sua manchete: “Nova linguagem na arte: música eletrônica tem ruído de copo quebrado”.

“O disco vendeu todas as cinco mil cópias em um ano. A Mangione tinha um esquema de distribuição e divulgação forte. Saiu uma entrevista comigo em página inteira da Veja. Também deu na Folha, O Globo, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, Estadão”, conta Antunes. 

Além de três faixas bônus, o relançamento da Guerssen Records faz uma compensação histórica ao incluir as versões integrais de Historia de un Pueblo e Auto-Retrato. As obras continham trechos musicais com sons que se reportavam aos generais da ditadura militar ainda vigente e com a citação da Internacional Comunista. Na edição original de 1975, Jorge Antunes cortou essas partes para evitar novos problemas com os militares.

Assista ao documentário Maestro Jorge Antunes: Polêmica e Modernidade:

e

Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory