Crítica: The xx é fac-símile de si mesmo em 'I See You'

No aguardado seu aguardado terceiro álbum, trio inglês fica abaixo das expectativas ao reciclar seu próprio som
GG ALBUQUERQUE
Publicado em 24/01/2017 às 10:16
No aguardado seu aguardado terceiro álbum, trio inglês fica abaixo das expectativas ao reciclar seu próprio som Foto: Foto: AFP


Ninguém esperava que o som soturno e atmosférico daqueles três jovens ingleses de 20 anos, desengonçados, introspectivos, sempre vestidos de preto, fosse cair nas graças do mainstream da música pop. O primeiro e autointulado álbum do The xx (assim, em minúsculas), lançado em 2009, vendeu cerca de 1,7 milhão de cópias em todo mundo e sua sonoridade foi incorporada em muitos hits nos Estados Unidos e Reino Unido – como Don’t Let Me Down, do Chainsmokers. Até mesmo Shakira gravou um cover deles. “A sua ‘assombração’ (nas letras) é referência em todas as outras sessões de escrita”, observou Ryan Tedder, compositor por encomenda de Taylor Swift, Ariana Grande, Beyoncé, Adele, entre outros.

A fama e a própria imagem do The xx levaram a uma crise de insegurança diante do desafio de gravar seu novo disco. A pergunta que atormentava Jamie XX (DJ e produtor musical), Romy Madley Croft (guitarra e voz) e Oliver Sim (baixo e voz) era: como fazer um som diferente sem perder a identidade da banda? Não por acaso, I See You, seu tão aguardado terceiro álbum, demorou cinco anos para ser lançado. 

Em Performance, a balada do disco, Romy transforma um show em metáfora para as máscaras de um relacionamento que está morto, mas ainda não definitivamente rompido. “Eu faço um show/ É uma performance/ Você não verá eu me machucar/ Quando meu coração quebrar”, lamenta com uma voz frágil. Em Brave For You, ela trata da morte de seus pais – a mãe morreu quando ela tinha 10 anos; o pai morreu quando ela, aos 20, estava em turnê em Paris.

Tudo isso vem com um vocal sussurrado sexy/melancólico forçoso – a herança maldita do Portishead. Jamie é um dos DJs mais espertos no quesito sample e aqui ele mantém o nível. Suas inserções são os poucos bons momentos de I See You. Ele mostra um repertório incrivelmente diversificado, indo do duo de R&B Hall & Oates (no single dançante On Hold) ao compositor contemporâneo David Lang (na dramática Lips). Mas não há nenhuma experimentação mais ousada nas texturas sonoras e tudo soa mal acabado e comum demais, ainda mais para uma banda que imprimiu uma nova marca sonora no indie e, como dito, no mainstream.

I See You é um amontoado dos clichês criados pela própria banda desde 2009 e mais uma porção de letras ruins – sofrência por sofrência, Marília Mendonça tem letras mais incisivas e personalidade mais forte. O The xx tornou-se um fac-símile do próprio The xx. 

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