Em 1969, enquanto encarava uma temporada forçada na Itália, passando o maior perrengue, Chico Buarque conseguiu ser contratado, graças ao sucesso que A Banda tinha feito no país, para abrir uma turnê da cantora americana naturalizada francesa Josephine Baker, um dos maiores sucesso da chamada "era do jazz", nos anos 20.
Chico descreveu esta temporada com La Baker para o jornal O Pasquim, onde descolava uns cruzeiros como correspondente internacional: "Num desses coquetéis à imprensa cheguei até a posar ao lado dela para as fotografias. Mas só deu retrato de Josephine Baker, às vezes com um pedaço de bochecha minha", ironiza.
Em 1969, Josephine estava com 66 anos e vivia da glória do passado. Ela é mais lembrada pela ousadia dos trajes exíguos em cena, entre estes bananas à guisa de saia, que inspirou, por sinal, a marchinha Chiquita Bacana (de Braguinha), a da Martinica que se vestia com uma casca de banana nanica. Música gravada pela própria Josephine Baker com Ray Ventura.
Freda Josephine McDonald, nascida em 3 de Junho, em St. Louis, no Sul dos Estados Unidos, foi mais do que uma entertainer bemsucedida. Nos seus 71 anos de vida, ela quebrou todas as barreira que encontrou pela frente. Foi cantora, dançarina, espiã na resistência francesa na Segunda Guerra Mundial e ativista pelos direitos civis nos EUA. Mulher emancipada e primeira negra a se tornar celebridade mundial.
Aos 17 anos já se tornara bastante conhecida no teatro de revista e aos 19 anos começava a encantar Paris e a Europa. Antes disso, se casou aos 13 anos, com um operário chamado Willie Wells. Um relacionamento que durou muito pouco. Da primeira vez que o marido partiu para agredi-la, Josephine quebrou uma garrafa na mesa e o enfrentou. Fugiu pela janela deixando o pouco que possuía, e o marido com alguns cortes no corpo. Foram muitos os homens em sua vida. E mulheres também, incluindo, anos mais tarde, o breve namoro com a mexicana Frida Kahlo, em Paris.
Agregada a uma companhia de teatro vaudeville, Josephine Baker rodou os EUA até ancorar em Nova Iorque, onde se destacou com dançarina de charleston. E foi como tal que recebeu um convite para ir para Paris, como integrante de um grupo de 25 pessoas, todos negros e negras. Não foi o charleston, mas com uma coreografia batizada de Dança Selvagem que ela conquistou Paris.
E de tal forma que, com a eclosão da 2 Guerra e consequente ocupação da França pela tropas alemãs, ela foi instada a servir de espiã, deleitando nos palcos e leitos germânicos, japoneses e italianos, conseguindo extrair segredos importantes, anotados com tinta invisível. A fama fazia com que tivesse trânsito entre fronteiras de países em litígio.
No anos 50, ela se tornou ativista engajada. Recusava-se a cantar para plateias segregadas, participou, nos anos 60, ao lado de Martim Luther King de manifestações como a célebre marcha em Washington. Josephine Baker morreu aos 75 anos, com ela estavam algumas das 12 crianças que adotou, de várias nacionalidades, que costumava chamar de "A tribo do arcoíris".