Em 1983, Michael Jackson, com o diretor John Landis, lançou o mais célebre e melhor videoclipe da história do subgênero horror rock, Thriller, a canção para o Halloween tornada arte. Elmer Berstein escreveu a música incidental do vídeo, e Vincent Price coloca sua voz de ícone dos filmes de terror a serviço do Rei do Pop. Em outubro, a Sony Music empacotou mais um álbum póstumo de Michael Jackson produzido para o Halloween, Scream, uma compilação que reúne 14 canções de horror pop selecionadas de várias fases do cantor (inclusive com os Jacksons).
A música com temática apropriada ao Halloween – festa surgida na Inglaterra, não nos EUA, transportada para o Brasil como Dia das Bruxas, comemorado no dia 31 de outubro –, com assombrações como tema de canção, existem nos Estados Unidos praticamente desde o início da indústria fonográfica. Duke Ellington, Frank Sinatra ou Rosemary Clooney, quase todos os grandes nomes da música americana gravaram canções com letras “malassombradas”.
No Brasil, o horror na música vem de muitos anos antes da importação da festa. Alvarenga e Ranchinho cantam um clássico do repertório, digamos gótico, nacional, Romance de uma Caveira: “Eram duas caveiras que se amavam/ e à meia-noite se encontravam/ pelo cemitério os dois passeavam/ e juras de amor então trocavam .../ mas um dia chegou de pé junto/ um cadáver novo de um defunto/ e a caveira por ele se apaixonou/ e o caveiro antigo abandonou”.
A dupla era muito popular, a canção das caveiras (uma modinha) foi igualmente popular. A música quebrava o clima solene das serestas. Cinquenta e dois anos antes de ser oficializado o Dia do Saci, no mesmo dia do Halloween, Demétrius gravou um rock celebrando um das assombrações pátrias. De Baby Santiago e Tony Chaves, Rock do Saci fez sucesso em 1961: “Era noite de luar/ sai pra namorar/ quando ele pulou na minha frente a gritar/ cigarro, me dá um cigarro/ e eu eh eh eh/ quase que desmaiei”. Embora assustador, o Saci só queria mesmo um cigarro, mas estragou o namoro do casal.
Demétrius cantou também A Bruxa, que tem um grito horripilante como introdução: “Velha medonha, de faca na mão/ voando sentada, no vassourão/ olha a Bruxa, olha a bruxa/ a velha quer pegar criança/ Pra fazer sabão”. Roberto Carlos entrou um pouco atrasado na onda do horror rock. Em 1965, no álbum Roberto Carlos Canta para a Juventude, ele gravou, de Getúlio Côrtes, Noite de Terror: “Fazia noite fria/ eu logo fui dormir/ soprava um vento forte/ eu não pude nem sair/ pensei com meus botões/ um bom livro eu vou ler/ e um trago de uísque/ que é pra me aquecer/ mas uma mão gelada no meu ombro bateu .../ Bem junto de mim/ esse alguém me falou bem assim/ eu sou o Frankenstein”. A música foi regravada, em 1983, por Itamar Assumpção, no álbum Às Próprias Custas S/A.
Regionalista, Reginaldo Rossi cantou uma assombração pernambucana, o Papa-Figo: “Prestem atenção ao que agora eu digo/ lá na minha rua mora um papa-figo/ quem é que não sabe o que é um papa-figo?/ um homem parecido com um urubu/ há mil pessoas dizendo que ele é mais feio do que o dr. Valcourt” (doutor Valcourt refere-se ao personagem de Sérgio Cardoso em O Preço de uma Vida, novela de 1965, da TV Tupi). Genival Lacerda gravou um Xote do Papa-Figo, com letra não aconselhável para Halloween infantil: “Cuidado com o papa-figo/ ele age como um assassino/ ele pega, ele mata, ele arranca/ ele come o fígado do menino”.