Coragem. Se tem uma palavra que define Solange Almeida e Claudia Leitte, que se apresentam neste sábado (2) na UB Fest, no Itaipava Catorze, no bairro do Recife, é justamente esta. Enquanto a morena está dando os primeiros (grandes) passos há pouco menos de um ano, a loura comemora exatamente uma década desde que decidiu andar pelas próprias pernas. E entre ambas, é fato: o sucesso permanece junto a elas.
O Jornal do Commercio conversou com Solange Almeida por telefone, num papo de muita simpatia, franqueza e segurança a cada palavra. Ela contou, por exemplo, como tem sido ser a “dona da porra toda”, como diz o título da canção que abre seus shows.
“É muito desafiador você ser cantora, escolher um repertório, estar por dentro de logística, de como é a montagem do palco, quais as necessidades das pessoas que estão ao meu redor, das minhas necessidades, eu me envolvo com tudo. Para você ter ideia, até as passagens de avião eu gosto de pesquisar! Antigamente, eu tinha pessoas que faziam tudo por mim. Hoje eu também tenho, mas o gosto é diferente. Se der certo, o mérito é meu. E se der errado, infelizmente, a culpa é minha”, explica a morena de 43 anos.
Para o show que ela trará hoje ao Recife, Solange vai explorar desde o seu repertório novo até sucessos dos pernambucanos Dadá Boladão, Troinha e até A Favorita. “Eu acho que o artista tem que cantar para o povo, e não o que ele quer. E eu tento fazer as duas coisas: cantar o que é sucesso, mas também o que eu goste de fazer. Eu tenho um projeto que é o Sol na Praia, onde eu canto de tudo: MPB, forró, sertanejo, música eletrônica, axé... As minhas referências são tudo o que eu ouço e é sucesso”, garante a baiana.
Sobre as suas referências para o trabalho, a morena contou que se espelha em Ivete Sangalo, mas não quer ser igual a ela: “Eu tenho referência de pessoa, de cantora, que é a Ivete Sangalo, mas não quero ser comparada com ela. Eu quero ser a Solange porque Ivete só tem uma. Ela é única, maravilhosa, é tudo, e eu não quero essa comparação. Até porque nunca quis ser ela. Mas ela seria uma grande referência, se fosse para pensar em uma, porque Ivete é multi. Tudo o que Ivete canta fica lindo, fica maravilhoso. Ela é uma pessoa que eu amo. Algumas pessoas chegam a comentar como cantamos de forma parecida, mas não. É tudo tão natural, mas não é para ser como ela”.
Quando começamos a falar sobre empoderamento feminino, Solange também elogiou o trabalho da cantora Anitta, que está rompendo barreiras. “A mulher sempre teve o seu lugar. Mas hoje, principalmente na música, você vê mulheres em destaque em todos os ritmos. Não é mais aquela coisa que tinha um ritmo que a mulher não podia fazer. Fazendo uma comparação: hoje nós temos no Brasil uma artista que é multi, que se permite tudo, faz o que quer, quer conquistar o mundo, e está conquistando, que é a Anitta - independente do que as pessoas falem dela. Ela canta outras coisas, e eu tento, ao meu modo, fazer isso”, esclarece ela, comentando as pressões de se estabelecer como uma cantora solo de forró.
“Eu era muito cobrada pelas pessoas, pelas cantoras de forró, de ser uma líder do movimento feminino nesse ritmo, mas não fui a primeira. Veio a Samyra Show, daqui do Ceará, a Márcia Fellipe, a Walkyria Santos... É muito difícil sair de uma grande banda de sucesso e tentar conseguir um lugar ao sol sozinha. É difícil conseguir um lugar no mercado, ser bem vista, sem que as pessoas lhe olhem com preconceito, ainda mais com o forró. Então fico feliz de ver, hoje, esse posicionamento da mulher. Saber que, de alguma forma, eu contribuo como cantora, mãe e ser humano, tentando mostrar o meu melhor para as pessoas. E eu tenho certeza que vamos conseguir muito mais ainda”, ressalta.
Outra surpresa em seu repertório é a inserção dos sucessos da cantora Pabllo Vittar. Para a forrozeira, as canções da drag queen são uma forma de lutar contra o preconceito ao público LGBT, que também lhe segue há muito tempo: “Eu fui a primeira cantora a colocar a música de Pabllo Vittar no repertório. Eu conheci através da minha filha, que pirou e me pediu para cantar nos shows. E eu tento passar, principalmente para os meus filhos, que somos todos iguais. E eu acho que isso já começa de casa, da educação que se dá aos filhos. Acho que é por isso que existe tanta intolerância nas pessoas. Eu costumo dizer que eu nasci num corpo de mulher, mas sou uma gay! Porque me identifico muito com eles. No meu staff, a maioria são gays. E são pessoas tão talentosas, felizes, queridas e tão cheias de amor, que eu acho que as pessoas deveriam ter o coração mais aberto para os LGBTs, para o branco, o preto, o vermelho, o rico, o pobre, o gordo, o magro. É um aprendizado diário que eu tenho com todos eles”.
Diante de tanta simpatia e espontaneidade, perguntamos a Solange Almeida o que a tira do sério. “Mentir. Falar alguma coisa minha que é mentira. Colocar palavras na minha boca, falar coisas que eu não disse. É uma das coisas que mais me tira do sério! Injustiça me tira do sério também. Eu odeio ver injustiça. Eu odeio mentira, odeio mentir, eu odeio ser enganada! Isso tudo me tira do eixo”, revela.
A relação da cantora com Pernambuco é um capítulo a parte, que ela faz questão de contar. “No ano de 1999, tinha 17 dias que eu havia tido o meu filho Rafael. Ele nasceu no dia 2 de outubro. No dia 19, me mudei para Carpina para cantar em uma banda chamada Banda G. E a partir dali, fui cantar em uma banda de forró, algo que eu nunca tinha feito antes. Eu tinha passado por banda de baile, de axé, mas não tinha cantado em uma banda de forró, e Pernambuco me deu esse presente. Eu passei 1 ano e meio nessa banda e fui muito feliz. Foi uma banda que me projetou para que eu pudesse ir para o Caviar com Rapadura. Do Caviar eu fui para o Aviões do Forró. Então comecei a minha carreira como cantora de forró no Pernambuco. Sou muito grata a esse Estado por muitas coisas que eu vivi, pelos fãs que eu tenho, pelos amigos que eu conquistei. É um lugar que eu tenho uma gratidão muito grande, um carinho enorme e uma afinidade também muito grande. Adoro ir aí no Centro de Recife para comer o meu cachorro-quente com carne de charque, entendeu? (risos) Eu adoro, amo muito!”, conclui Solange.
UB Fest – com Claudia Leitte e Solange Almeida. Neste sábado (2), a partir das 16h, no Itaipava Catorze (Armazém 14, S/N, Bairro do Recife). Ingresso: R$ 140, à venda nas lojas Ticket Folia, Ingresso Prime, NE10 Ingressos e no Centro Universitário Unibra.