Augusto César leva o brega ao Manhattan Café

Ele se orgulha de ser aceito por todos os públicos
JOSÉ TELES
Publicado em 25/09/2018 às 9:47
De acordo com a família, cantor teve problemas renais, agravados pela covid Foto: foto: Léo Motta/JC Imagem


Artista vender disco na rua é mais comum do que se imagina. Agnaldo Timóteo é um dos mais notórios exemplos deste tipo de comerciante. Começou há cerca de 18 anos. O cantor paraibano Fernando Lelis, ídolo brega dos anos 70, pode ser encontrado todos os sábado, na Rua do Catete, Zona do Sul do Rio, vendendo CDs e DVDs. A prática é uma saída, alternativa, ou denúncia (como fez Agnaldo Timóteo). No caso do recifense Augusto César foi questão de sobrevivência mesmo. Com as gravadoras tornando-se praticamente distribuidoras de CDs e quase todas as lojas de discos fechando, ele passou a comercializar o que gravava, numa Kombi. Tanto vendeu, quanto chamou atenção para o seu trabalho.

 A grande diferença entre Augusto Cesar e os colegas é que estes se arvoram a camelôs temporários, enquanto Cesar passou 15 anos trabalhando pelas ruas do Recife (na verdade Região Metropolitana). Esta longa empreitada ocuparia um dos capítulos mais divertidos de uma possível biografia, pelas intervenções de fãs, de transeuntes, de cantores frustrados e até Roberto Carlos. Ele mesmo, o capixaba Roberto Carlos Braga, o Rei.

 “Eu estava com a Kombi na Rua Nova, quando passou Paulo Silvestre, grande amigo de Roberto Carlos, com quem trabalhou com 15 anos na época da Jovem Guarda. Ele convidou pra almoçar e prometeu me levar ao camarote de Roberto, que ia fazer show no Geraldão. Por coincidência, no mesmo dia, eu divulgava meu trabalho perto do Mercado de São José, e o secretário do Rei, Guto, estava passeando por ali, me viu e falou sobe mim pra Roberto Carlos, que também me convidou pro show, pra falar com ele no camarim”, conta Augusto Cesar.

SUCESSO

 Ele se apresenta, nesta sexta-feira, pela primeira vez no Manhattan, em Boa Viagem. “Preparei um show com meus sucessos, e clássicos de outros cantores, tem de Roberto Carlos, naturalmente”, adianta. Cantar numa casa classe A da Zona Sul para Augusto César não chega a ser uma novidade. Nos anos 1980, ele se apresentou em algumas também em Boa Viagem. Para ele o cantor deve ir aonde for contratado. Sem deixar de fora os cabarés, até porque o termo “brega” designava originalmente a música que se tocava no baixo meretrício.

 “Roberto Müller me disse certa vez que a gente só é realmente sucesso quando cantar em cabaré. Já cantei em vários, pelo interior continuam funcionando muitos. Aqui tem menos, mas lembro que há anos havia um grande quase em frente ao Aeroporto, o Mary’s Bar. Cantei lá e ainda trouxe as meninas pro palco”.

 Embora não refute o rótulo de brega, Augusto Cesar afirma seu estilo é o mesmo do início da carreira. “Embora tenha cantado frevo com a orquestra do maestro Guedes Peixoto, participado do Frevança, três vezes, cantando maracatus, canto mesmo é Jovem Guarda, tanto que já me apresentei com vários ídolos daquela época, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Erasmo Carlos, este muito tempo atrás”.

 Roberto Carlos ídolo, e grande influência, explícita nos maneirismos vocais, no corte de cabelo, e no seu maior sucesso, Escalada (Jorge Silva e Carlos Sérgio), de 1987. Escalada tem semelhanças com Cavalgada, de dez anos antes, um dos maiores sucessos da fase “música para motel” de Roberto Carlos. “Vou cavalgar por toda a noite/por uma estrada colorida/usar meus beijos como açoite/e a minha mão mais atrevida”. O cavaleiro de RC se transforma em alpinista com Augusto César: “Vou escalar todo o seu corpo/como se escala uma montanha/e vou depois gritar bem alto/todo o prazer dessa façanha”.

 A primeira é classificada como romântica, a segunda como brega. O cantor acha que é só uma questão de rótulo. Ressalta que a música de versos derramados, passionalmente incontidos já se fazia no tempo de Anísio Silva, Orlando Dias. “Roberto Carlos define muito bem do que se trata este estilo em Jovens Tardes de Domingo, quando lembra a Jovem Guarda e fala de canções que usavam formas simples pra falar de amor. Mas para inspiração é sempre importante ter traição, um deslize de alguém. Já fiz muitas inspiradas nisso, algumas com histórias próprias, mas nem todas comigo”, destaca.

Augusto César é dos últimos que ainda se pode chamar de “cantor de rádio”. Começou criança em programas feito Tia Linda, Jorge Chau Show. Foi como calouro do programa de Paulo Marques, que falou com Roberto Carlos pela primeira vez: “Eu concorria aos calouros cantando as músicas de Roberto, e um dia Paulo Marques me levou para conhecer ele, que estava hospedado no Grande Hotel, no Cais do Santa Rita”. Demorou, entanto, gravar o álbum de estreia, o que só aconteceu em 1985. Estourou dois anos depois com Escalada, sucesso nacional, pela gravadora 3M, com direito a Disco de Ouro (na época por cem mil cópias vendidas”.

 Depois de uma breve passagem por São Paulo, voltou para o Recife. Aqui construiu uma obra de 23 discos, entre LPs e CDs, dois DVDs, um deles gravado no histórico Teatro de Santa Isabel. Ou seja, com ele é, como se dizia antigamente, tanto faz veludo ou bunda de fora. O popular Treze do Vasco da Gama, ou o requintado Manhattan Café Theatro.

 

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