Tom Zé fecha com muita energia primeira noite da Mimo Olinda 2018

Tropicalista fez apresentação incendiária de sempre, logo depois do show dos portugueses da Dead Combo
Bruno Albertim
Publicado em 24/11/2018 às 13:00
Tropicalista fez apresentação incendiária de sempre, logo depois do show dos portugueses da Dead Combo Foto: Rogério Von Gruger / Divulgação


Logo depois da meia-noite, o indomável Tom Zé confirmou a imprevisibilidade de sempre. Aos 82 anos, o papa do Tropicalismo continua com a energia incomum e o vigor do menino nascido na cidade baiana de Irará. Feliz como a multidão magnetizada diante de si, fez no Palco da Mimo 2018, na Praça do Carmo, um show incendiário da primeira a última sílaba cantada. Uma noite de tropicalismo icônico, atemporal e dilacerante - nem mesmo a chuva, ora mais forte, ora mais fina, sempre constante, fez o público arredar o pé da praça.

Tom Zé estava feliz em voltar ao Mimo, de ouvidos sempre abertos para as possibilidades do novo. “Uma vez, vi que aquele rapaz, músico da Paraíba, que foi secretário de cultura de lá (Chico César), dizendo que não seria possível dinheiro público para o forró de plástico, Logo depois daquilo, quis ouvir alguma coisa dessa música”, disse ele, numa conversa com o público, mais cedo, durante o Fórum de Idéias da Mimo, realizado no Mercado Eufrásio Barbosa, sobre as possibilidades de inovação na música brasileira para além das velhas gavetas classificatórias do bom gosto. “Uma da mais importantes revoluções recentes da música brasileira aconteceu aqui, com a manguebeat”, continuava. No repertório sem surpresas, apenas, para o deleite do público reverente, seus clássicos estruturais. Ao final do show, retribuindo a reverência, Tom Zé puxou umas pessoas para o palco e um corinho sobre as cidades anfitriãs: “Re-ci-fe! O-lin-da!”

Antes de Tom Zé, a abertura dos serviços na Praça do Carmo ficou por conta da (um tanto) inclassificável e (muito) polifônica banda portuguesa Dead Combo. Ternos bem cortados, posturas afirmativas, olhares agudos, uma certa elegância underground, os “meninos” da Dead subiram ao palco por volta das 23h com o repertório do álbum Odeon Hotel, fresquíssimo, gravado e lançado em Lisboa em abril deste ano. Frontmen e núcleo-base da banda que, em uma década, vem reescrevendo o pop cult português, Tó Trips (guitarra) e o múltiplo Pedro Gonçalves (guitarra, baixo, escaleta e pianinho) contaram com o auxílio dos parceiros Alexandre Frazão (bateria), Gui (sopros e teclado) e António Quintino (baixo e guitarra).

FADOS

À sua maneira, a Dead Combo aplica uma receita bem tropicalista à base lusa de sua musicalidade. Como se uma casa de fados malandros tivesse sido aberta numa cidade qualquer próxima da fronteira dos Estados Unidos com o México, - os músicos injetam doses de música latina no fado (que, como o samba, não tem uma musicalidade única, e pode ir do sentimentalismo nostálgico e castiço de Amália Rodrigues à picardia e teor crônico, como no partido-alto, das rodas de fado malandro) com pitadas hormonais do bom rock´n´roll e discursividade de um Nick Cave. A princípio desconfiado e até meio sonolento com algumas músicas lentamente atmosféricas que mais pareciam trilha de filme que música de palco pop, depois curioso e logo convertido, o público caiu nesse fado de tantos sotaques. A Dead Combo faz música do mundo e para o mundo.

A noite começou, contudo, com o concerto de Hermeto Pascoal na Igreja da Sé com Hermeto Pascoal. Lotado, o templo sediou a apresentação do bruxo com seu grupo histórico e legendário - Itiberê Zwarg (baixo), Jota P. (saxes e flautas), Fabio Pascoal (percussão), André Marques (piano) e Ajurinã Zwarg (bateria). Lotadíssima, aliás: nem o atraso de quase uma hora por problemas no fornecimento de energia fez o povo desistir de ver o bruxo.

Neste domingo (25), a Mimo de encerra sua edição comemorativa de 15 anos em Olinda com duas pratas da casa. Mais cedo (18h), a diva cirandeira Lia de Itamaracá abre os trabalhos na Praça do Carmo. Em seguida, às 20h, a banda Eddie bota o povo pra dançar com seu Original Olinda Style.

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