Depois de um período eleitoral complicado no Brasil, com muita violência e manifestações de ódio, a banda de reggae brasiliense Natiruts faz uma ode ao amor em seu novo disco, I Love, lançado nesta sexta-feira (7). Já é o oitavo álbum de estúdio do grupo.
“Falar de amor nesses momentos é um gesto de protesto, e no caso do Natiruts vem com propriedade, é um tema que a banda trata desde sempre”, explica o vocalista da banda, Alexandre Carlo, que afirma que o protesto do grupo, por meio de suas letras, vai além. “Falamos de preservação da natureza e de contemplação, que por mais que seja algo, por vezes, estereotipado, é coerente”, completa.
As músicas já estavam prontas quando a banda decidiu eleger uma delas, I Love, para nomear o disco, firmando assim o tema central do trabalho. Para Carlo, é um tema comum ao reggae, em geral. “A mensagem de Bob Marley em One Love é um dos pilares do reggae, tem a ver com o amor universal”.
Além de amor e de natureza, as músicas do novo disco falam ainda de positividade, uma marca da banda. “As pessoas que seguem o Natiruts procuram músicas sobre a espiritualidade, sobre força de vontade”, acredita Alexandre.
Por conta dos temas retratados ao longo dos mais de 20 anos de carreira, o grupo reuniu fãs que não são, necessariamente, amantes da música reggae, uma superação, segundo ele, não tão comum. “Poucos artistas conseguiram ultrapassar a barreira dos dogmas, principalmente religiosos”, opina Carlo, que mais uma vez cita Bob Marley. “As músicas deles transcenderam os dogmas religiosos do rastafári”, completa.
Por seu estilo mais pop e voltado para um público mais aberto, o Natiruts, segundo ele, sofreu resistência dentro do próprio reggae no início da carreira. “Há 20 anos, a banda era contestada pelos fãs do reggae, mas em vez de assimilar esse protesto, a gente sempre foi de encontro”, conta.
É algo perceptível no disco, que mistura gêneros musicais brasileiros e internacionais ao reggae do Natiruts. “A gente sempre gostou de mesclar e viajar por todos os lados. Arte é para libertar, não para prender”, diz. “Fomos uma das bandas que fizeram a comunidade do reggae entender que existem várias vertentes”, explica Carlo.
De acordo com ele, algumas dessas vertentes são o reggae mais próximo ao rastafári, como na banda Ponto de Equilíbrio, o reggae com uma mensagem mais política, como o de Edson Gomes e o reggae mais praiano, como no trabalho de Armandinho. “O reggae no caribe é como o rock nos EUA”, diz Alexandre. “São várias vertentes, como o punk, o pop rock, mas todos estão dentro de um grande chapéu do rock”, completa.
No novo disco, a banda mistura, inclusive, elementos eletrônicos, como na canção Xaxado de Amor. “Essa música é quase um dancehall, estilo derivado do reggae que, nos anos 80, usava como base baterias eletrônicas”, conta.
Na mescla de estilos do novo disco do Natiruts, entram alguns temperos importados. A faixa que dá título ao trabalho, I Love, conta com participação da banda de reggae norte-americana Morgan Heritage. “São descendentes diretos de músicos jamaicanos, mandaram muito bem na música”, elogia Carlo. A canção, que mistura português e inglês, será lançada ainda numa versão em espanhol.
Há ainda, no trabalho, uma outra faixa que ganha versão na língua hispânica, Deriram. Mais uma parceria internacional do álbum é a canção Mergulhei nos Seus Olhos, com vocais de Logan Bell, cantor e guitarrista da banda neozelandesa Katchafire. “Nos conhecemos quando estávamos em turnê pela Oceania”, explica Alexandre.
O disco conta ainda com mais duas parcerias nacionais. O cantor Thiaguinho compôs a faixa Serei Luz e entregou ao Natiruts. “Ele nos enviou a canção e resolvemos convidá-lo para cantar junto”, lembra. O último nome é de Gilberto Gil, que empresta seus vocais para Verde do Mar de Angola.
“Foi um sonho realizado, sabemos da dimensão dele para a música mundial”, afirma o vocalista do Natiruts. “Até retomando a questão política, vimos muitas pessoas destilando ódio contra ele, por conta de seu posicionamento, mas nós nunca vamos deixar ninguém rebaixar a importância de um ídolo como ele”, finaliza.