Das águas do Litoral Norte, a ciranda de Lia de Itamaracá se transporta hoje para a terra firme do centro do Recife. O Pátio de São Pedro foi o local escolhido para receber, a partir das 19h, a primeira audição pública de Ciranda Sem Fim, quarto álbum de Lia, lançado pelo selo Natura Musical e disponível para audição nas plataformas de streaming.
Sucessor de Ciranda de Ritmos, lançado há quase dez anos, o novo registro traz 11 faixas que exploram a capacidade da artista em passear por estilos e parcerias várias. A música que dá nome ao álbum, por exemplo, é um presente dado pelo carioca Lúcio Sanfilippo, em 1999. A letra recorda o trabalho que Lia exerceu como merendeira, durante quase três décadas, na Ilha de Itamaracá.
Ativa desde o começo do processo de feitura do álbum, Lia se mostrou empolgada em cantar músicas ditas mais intimistas, como a versão brasileira de El Reloj, do mexicano Roberto Cantoral, por aqui batizada de O Relógio e popularizada por Altemar Dutra em versos como “Por que não paras relógio / Não me faças padecer / Ela irá para sempre / Breve o sol vai nascer”.
“A intenção principal é mostrar que, acima de qualquer coisa, Lia é uma grande cantora. Ela tem todos os títulos em torno de ser cirandeira, claro, mas queríamos mostrar esse dom dela como intérprete também”, detalha, em entrevista ao JC, Hélder Aragão, o DJ Dolores, que assina a produção do disco junto a Ana Garcia.
“Quando eu a procurei, tinha imaginado fazer um disco de bolero, de música romântica. Ela gostou do projeto e certo tempo depois me enviou alguns áudios cantando umas músicas que ela gostava de ouvir, umas coisas meio jocosas, rasgadas. Botei uma ou outra sugestão, mas a maior parte veio dela”.
Outro destaque vai exatamente para a parceria entre a voz de Lia e as poesias escritas por compositoras como Alessandra Leão (em Falta de Silêncio) e Ava Rocha e Iara Renó (com Mulher). Com Alessandra, aliás, a intimidade vem de antes, em participações em shows e na gravação do mais recente disco da conterrânea, Macumbas e Catimbós, lançado em maio.
“Tive muita liberdade para conduzir o processo, agradeço bastante a confiança de Lia, mas nada aconteceu sem o aval dela”, conta DJ Dolores. “Discutimos, argumentamos. Algumas sugestões minhas não foram acatadas. Eu sugeria algo porque achava que fosse ficar ótimo e ela dizia um ‘não quero cantar isso, por tais e tais motivos’. Aprendi muito com ela nesse processo de argumentação. Por último, em caso de impasse, eu cedia”.
Também participam do álbum o paraibano Chico César, como autor de Desde Menina, o percussionista Lucas dos Prazeres e o baixista Yuri Queiroga. Com tantas participações, a transmissão para o palco ainda está sendo montada, mas poderá ser vista em breve. Uma palinha será na audição de hoje que, além de Lia, conta com o DJ Dolores e participação da DJ Pax e do Som na Rural, de Roger de Renor.
O show completo, com abertura oficial da nova turnê, acontece próximo dia 16, durante o Festival No Ar Coquetel Molotov, no Caxangá Golf & Country Club. As versões físicas de Ciranda Sem Fim, em CD e LP, devem chegar às prateleiras ainda este mês.
SAUDAÇÕES
Ciranda Sem Fim coroa um ano de grandes reconhecimentos a Lia pelo papel fundamental de produção e difusão da cultura popular negra e pernambucana. Em março, foi uma das homenageadas do bloco Galo da Madrugada. Em julho, teve a trajetória registrada no livro-reportagem Lia de Itamaracá, do jornalista Marcelo Henrique Andrade.
No mês de agosto, além de ser titulada Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco, ganhou as telas de cinema como Dona Carmelita, a matriarca com fortaleza de entidade do povoado–título do longa Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.
SERVIÇO:
Audição pública de Ciranda Sem Fim, de Lia de Itamaracá, com DJ Dolores, DJ Pax e Som na Rural – Hoje, a partir das 19h, no Pátio de São Pedro, Centro do Recife. Acesso gratuito.
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