Hot e Oreia prometem show explosivo no Rec-Beat 2020

Dupla mineira apresenta o disco 'Rap de Massagem' no Cais da Alfândega, durante o Carnaval do Recife
João Rêgo
Publicado em 21/02/2020 às 17:57
Dupla mineira apresenta o disco 'Rap de Massagem' no Cais da Alfândega, durante o Carnaval do Recife Foto: Divulgação


O rap vem tomando conta dos principais festivais do país – de atrações internacionais em eventos como o Rock in Rio e Lollapalooza, até a presença de artistas nacionais em festas tradicionais pelo Brasil. O cenário pode até não ser rentável para todos no meio, mas certamente você encontrará um ou outro nome do gênero em grandes shows na sua cidade.

É o que acontece nos 25 anos do Rec-Beat, tradicional festival do Carnaval do Recife. Em 2020, a curadoria do evento aposta em “duas” atrações do ritmo: o fenômeno Emicida e a dupla em ascensão Hot & Oreia.

A presença dos mineiros aponta também para outra movimentação importante; além dos grandes nomes carimbados, os menos centrais do gênero também conseguem apelo do público para figurar em line-ups (pena que isso não se estenda ainda para a cenas locais mais periféricas).

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“É um festival que a gente escuta falar há muito tempo. Vários ídolos nossos, referências sonoras, já tocaram nele. Os fãs estão pedindo muitas músicas na internet. A gente está indo com um repertório muito louco; vai ser um show assim, explosivo, diferente. Vamos ver”, adianta Oreia.

A dupla, que se apresenta neste sábado (22) no Cais da Alfândega, vem para o Recife pela terceira vez. Também não são figuras estranhas para o público geral. Tanto Hot quanto Oreia participaram da prolífica DV Tribo – grupo que reuniu nomes como FBC, Clara Lima e Djonga, com quem fizeram várias parcerias.

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No ano passado, a dupla lançou seu primeiro álbum de estúdio, Rap de Massagem. O disco explora as tendências sonoras e semióticas do trap para reacender uma tradição no hip hop como sátira crítica. “Massagem” alude justamente ao oposto de “rap de mensagem”, nome dado a corrente “mais política” do ritmo.

A pegada dos sons sempre são leves, com Hot e Oreia flutuando nos beats com versos irônicos e debochados. Algo pouco visto em projetos por aqui.

“Tudo que é novo sempre espanta; não que a gente seja os caras descolados, porque isso nos assusta também. A gente só tenta entender as coisas de forma melhor. Nessa parada do trap, o Sidoka, por exemplo, você não entende nada do que ele está dizendo, mas ele cria toda na música só com o flow. É quase como outro instrumento do beat. E o pessoal termina gostando porque isso traz um sentimento”, explica Oreia.

Crítica com humor

Mesmo com a ironia do título, o projeto não deixa de versar quase sempre sobre nossa atual situação política. A obra bebe em diversas fontes, da religiosidade africana às sonoridades do trap, para dar luz a um jeito autoral da dupla enviar sua "mensagem".

“Sempre tivemos isso do humor com crítica, é natural da gente desde de pequeno. A gente canta o que a gente vive, tem muita coisa ruim mas também somos muito palhaços”, brinca Oreia.

O disco conta ainda com participações especiais de nomes como Marina Sena, Luedji Luna, Luiz Gabriel Lopes e o próprio Djonga. Outra característica marcante no álbum é a teatralidade – algo presente tanto nos clipes como na presença de palco da dupla.

"Isso está na gente desde pequeno, aprendemos no sarau Vira-Lata a atuar. Vamos dublar um filme de animação daqui a alguns uns meses, por sinal".

Bagulho ingrato

Na última passagem de Hot & Oreia pelo Recife, a dupla se apresentou no Arvoredo – a casa mais importante para o rap independente da cidade. Infelizmente, no mês passado, o local foi fechado por problemas financeiros.

Se a tendência é de expansão de mercado para alguns nomes do rap, a realidade é dura para outros mais periféricos. Em Rap de Massagem, os mineiros celebram com auto-consciência a vitória na caminhada, mas também compreendem as contradições que o ritmo enfrenta atualmente.

“O rap é o bagulho mais ingrato que existe. Tanto que ele se tornou um ritmo musical a pouco tempo. Ele sempre foi só uma forma de protesto. Te dando um exemplo básico, o cara mais estourado do rap no Brasil o cachê dele chega no máximo a 80 mil, enquanto o cara menos estourado do Sertanejo, o cachê chega no mínimo a 100 mil", diz Oreia.

“É uma caminhada que exige toda uma estrutura. A maioria do público é de periferia, e às vezes não tem o dinheiro para pagar um ingresso de festival. O rap não é algo rentável, é difícil. É também uma coisa específica, nem todo ouvido consegue escutar. Hoje em dia está melhorando, mas ainda é muito difícil", conclui.

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