Nana Caymmi é talento e descontração no Teatro da UFPE

A cantora não saiu do seu repertório dor-de-cotovelo
JOSÉ TELES
Publicado em 09/07/2012 às 9:35
A cantora não saiu do seu repertório dor-de-cotovelo Foto: Foto: Priscila Buhr / JC Imagem


A plateia, que lotou o Teatro da UFPE, sábado (7) à noite, aplaudiu até quando a cantora Nana Caymmi disse que havia cometido um erro. Com um cenário simples, apenas a iluminação e uma mesa com um adorno de flores, descontraída, embora o peso a obrigasse a cantar sentada, bebericando um uisquinho, ela jogou para a torcida, quase feito um time que entra em campo apenas para cumprir tabela. Quase porque ela se esforça, não cansa de mostrar o quanto sabe e pode. A voz pode alçar vôo até as alturas para, em segundos, descer e planar nos tons mais graves, como aconteceu em Dora, uma das canções do bloco em que interpreta o pai Dorival Caymmi (voltou à Dora no final do show).

Dora, aliás, foi uma das poucas canções do repertório que não um desengano amoroso no tema. A própria Nana Caymmi faz blague disto, comenta que suas apresentações são terapias intensivas, tantas a importância que cada música tem em fases variadas de sua vida pessoal. “Nem sei como tem quem queira ouvir”, brinca, e vai desfiando um repertório que abriu com sambas-canção de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Dolores Duran, a musa da dor-de-cotovelo, tão onipresente em sua obra quanto Dorival Caymmi.

Foi com "Castigo", de Dolores Duran, que a plateia começou a fazer o inevitável corinho, mas não tanto quanto é comum quando se ouve canções tão conhecidas quanto "Só louco", "Marina", ou "Não se esqueça de mim" (Roberto e Erasmo). Os admiradores de Nana Caymmi, ou seja, a imensa maioria da plateia, afinal a filha de “seu Dorival" (como ela costuma chamar o pai), nunca foi a cantora da moda, ou de “hype” (quer dizer, da última tendência).

Isto é certamente a explicação para que seu nome sempre esteja atrás e algumas congêneres, que marcaram a carreira seguindo modas e tendências.  Aos 71 anos, Nana Caymmi continua cantando uma enormidade. Seu show escapa de ser um sisudo recital, pelos oportunos cacos que vai atirando ao longo da apresentação: “Eu aturo esta mala sem alça há 20 anos, mas eu amo”, brinca ao elogiar o violonista João Lyra. Ou: “Esta é a última do show. Mas se vocês querem, eu canto. Depois me pico e vamos pra casa jantar”, em resposta a alguém da plateia que no começo gritou pedindo "Resposta ao tempo" (Cristóvão Bastos/Aldir Blanc), um dos muitos temas de novela cantados por ela (da minissérie Hilda Furacão).

Pouco antes de finalmente cantar a solicitada "Resposta ao tempo", Nana avisou que o show ia terminar e que queria voltar a cantar no Recife, confirmando que o anúncio da aposentadoria (anunciado num show no Rio, em abril passado), foi apenas mais um dos cacos que enxerta nos roteiros que lhe escrevem e que ela nunca segue.

 

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