Naomi Campbell, estrela explosiva da moda, defende sua franqueza

Modelo sino-jamaicana continua batalhando contra a discriminação
Marcelo Pereira
Publicado em 26/07/2014 às 20:55


NOVA IORQUE - Com 44 anos, ela ainda é um dos rostos mais conhecidos da moda. A super estrela Naomi Campbell reivindica o direito de ser franca, que tanto defendia seu mentor e amigo Nelson Mandela, para combater a discriminação em seu ambiente de trabalho.

A britânica de origem africana e sino-jamaicana, que reina há mais de um quarto de século nas capas das principais revistas de moda e em várias passarelas, voltou a falar de sua carreira excepcional durante uma entrevista exclusiva para a AFP. Mas não esqueceu da responsabilidade que acompanha o sucesso que tem.

"Mandela sempre me disse: 'Você tem que aproveitar quem você é para falar em alto e bom som sobre algumas coisas'", revela a supermodelo.

Campbell, muito próxima desde os anos 1990 do ícone da reconciliação racial sul-africano, morto em dezembro de 2013, continua marcada pela herança imensa de quem chamava de "avô".

Mas "nem tudo é fácil de dizer e nem tudo é facilmente aceitável por todo mundo, e nem todo mundo necessariamente vai gostar do que você disser", lembra a topmodel, conhecida também por ataques de estrelismo e escândalos na justiça com funcionários que a acusaram de maus tratos. 

SOZINHA NO PÓDIO

Campbell não "gosta de estar sempre sozinha no pódio" dos desfiles de moda, como única representante das modelos negras. Uma tendência comum até pouco tempo atrás, segundo ela.

Claro que, seguindo seus passos e os de Beverly Johnson, da grande Iman e depois de Liya Kebede, as modelos negras mais novas Jourdan Dunn, Joan Smalls e Chanel Iman conseguiram um lugar especial. 

A cantora Rihanna e a atriz ganhadora do Oscar Lupita Nyong'o também foram alçadas ao posto de ícones da moda, mais ainda falta muito.

"Quando comecei minha carreira, havia mais modelos de pele escura nas passarelas do que hoje", diz Campbell.

Para a bela adolescente londrina com olhos amendoados e maçãs do rosto salientes, tudo aconteceu de forma inesperada.

Aos 16 anos, apenas um ano após ter sido descoberta, já desfilava para Gianni Versace e entrou para a história aos 18 anos como a primeira modelo negra na capa da edição francesa da revista Vogue.

"Sempre tive um respaldo extraordinário" de estilistas como "Yves Saint-Laurent, Azzeddine Alaïa, Gianni Versace e Karl Lagerfeld. Todos me apoiaram muitíssimo no início da minha carreira, tive muita sorte", conta Naomi.

Ao lado da americana Christy Turlington e da canadense Linda Evangelista, Campbell foi uma das supermodelos dos anos 90 e nega ter sofrido discriminação racial, tema sobre o qual já falou em diversas entrevistas.

"Não posso dizer isso, tive o que quis e pude triunfar graças à ajuda dos estilistas, e continuo aparecendo nas capas da Vogue", afirma, pouco antes de partir para uma sessão de fotos da edição italiana da revista. 

"Por isso, sinto que devo ajudar agora as jovens modelos, porque sua relação com os estilistas já não é mais a mesma", explica Campbell.

Segundo ela, os diretores de casting colocam muitos obstáculos para as modelos e suas carreiras parecem depender cada vez mais do humor deles.

 "NUNCA CALAREMOS" 

"Quando me diziam 'não', sempre encontrava outra maneira de conseguir o que queria. Agora é um pouco diferente, porque (as modelos negras) têm medo de falar. Se fazem isso, não são selecionadas", explica. "Temos que ajudar essas meninas, sejam asiáticas, negras ou mestiças", acrescenta.

Naomi Campbell se uniu em setembro de 2013 a uma iniciativa mundial chamada Balance Diversity, lançada pela modelo novaiorquina Bethann Hardison para denunciar a falta de modelos negras nas passarelas.

"Não se trata de um movimento político, é simplesmente um diálogo", diz.

Desde então, "algumas pessoas tomaram consciência do problema e tentam melhorar as coisas". "O problema está lá fora, no mundo, na mídia, lá fora, então eu acho que as pessoas não têm como escapar como fizeram antes", acrescentou.


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