Nos livros sobre a Jovem Guarda geralmente se conta que a TV Record tinha um horário vago em sua grade à tarde, no domingo, devido a proibição da transmissão direta do futebol pela Federação Paulista. A ideia de ocupál-o com um programa de música jovem veio dessa eventualidade. Foi assim, mas não apenas assim. O futebol ao vivo foi ao ar para ocupar o espaço deixado aberto pelo programa de Antonio Aguillar, Reino da juventude, na Record. Aguillar foi um dos desbravadores do rock and roll em São Paulo, com programas em rádio e televisão. Boa parte dos artistas que em seguida fariam a Jovem Guarda, se apresentavam no Reino da juventude: Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa, Sérgio Reis, Renato e seus Blue Caps.
Um imbróglio entre Aguillar e o grupo The Clevers, que depois seria rebatizado de Os Incríveis, provocou o boicote de vários artistas ao programa de Antonio Aguillar, cartas de fãs condenando a atitude do apresentador, e a consequente baixa na audiência. Empresário dos Clevers, Aguillar teria proibido o grupo de usar o nome depois de uma bemsucedida turnê à Europa, ao Japão e à Argentina. O que o levou a proceder assim (conforme é contado no livro História da Jovem Guarda, de Débora Aguillar e Paulo Cesar Ribeiro), foi o fato de que a pessoa que o empresário convidou para acompanhar os Clevers passou a influir no grupo, com o intuito de empresariá-lo. Aguillar proibiu o grupo de usar o nome e o caso acabou na Justiça. A confusão sobrou para o Reino da juventude, que saiu do ar.
O terreno para um programa como o Jovem guarda vinha sendo preparado já há algum tempo. No Rio, Jair de Taumaturgo apresentava, na TV Rio, programa Hoje é dia de rock, cujo elenco era praticamente o mesmo que seria contratado pela Record, como recorda Liebert Ferreira, baixista dos Fevers: "A gente formou um grupo no Colégio Piedade, em 1965. Começou tocando em clubes até que fomos à TV Rio fazer um teste para o programa Hoje é dia de rock, passamos e de repente o grupo estava lá, com todo aquele pessoal que depois fez a Jovem Guarda, Roberto, Erasmo, Leno e Lilian, Renato e os Blue Caps", conta Liebert, que na época estava com 19 anos.
"Jovem" era uma palavra que a publicidade começara a usar, depois que se constatou que os adolescentes brasileiros começavam a consumir, a criar um mercado próprio. A onda jovem foi arrastando muita gente, entre eles um adolescente, nascido em Natal, conhecido como Leno. Ele estava com 16 anos quando formou uma dupla com Lilian Knapp, amiga de infância. Meses depois cantavam no palco do Teatro da Record, na Rua da Consolação, Centro de São Paulo: "Eu estava com 17 anos quando Pobre menina estourou. Mas para mim foi tudo supernatural. Pegava a ponte aérea, fazia o programa, às vezes voltava para o Rio, às vezes continuava em São Paulo", comenta Leno, que voltou a morar na cidade natal.
O sucesso do Jovem guarda foi imensamente maior do que se podia esperar, inclusive colegas de TV, que militavam em outras hostes, como foi o caso de Elis Regina, que soltou os cachorros contra o iê iê iê nas páginas da Intervalo, a mais importante revista de TV do País, que documentou em detalhes a ascensão e queda do programa. Elis estava fora do País quando o Jovem guarda começou e logo se propagou pelas principais capitais, com a ajuda do videotape: "De volta ao Brasil, eu esperava encontrar o samba mais forte do que nunca. O que vi foi essa submúsica, essa barulheira que chamam de iê iê iê, arrastando milhares de adolescentes que começam a se interessar pela linguagem musical e são desencaminhados. Esse tal de iê iê iê é uma droga, deforma a mente da juventude", desabafou a explosiva Pimentinha, então com apenas 20 anos.