Alceu Valença trouxe isso tudo que viveu em São Bento do Una quando veio para a capital estudar o que fazia parte do figurino dos filhos de famílias abonadas do interior. O pai o queria doutor, mas Alceu Valença tinha outros planos: "Virei jogador de basquetebol. Viajei muito pelo Brasil, e deixei de ir pro cinema. Tinha um cara na seleção, Mosquito, com um metro e oitenta e seis senti um micróbio. Deixei o basquete. Fui expulso do (Colégio) Nóbrega, consegui voltar, e fiz o curso clássico.
Com 14 anos, meu tio Lívio e meu pai, me incentivavam pra ler literatura brasileira, toda literatura regional, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego. Então inventei de ser intelectual", recorda. Como intelectual, Alceu Valença redescobriu a paixão pelo cinema, enquanto as meninas do Recife descobriram que ele se parecia com Jean Paul Belmondo, o ator que transgrediu as regras hollywoodianas de beleza, o feio considerado bonito: "Ai aconteceu a nouvelle vague e eu era muito parecido com Jean Paul Belmondo, ele jogava box e tinha nariz quebrado. Meu nariz não era quebrado, mas parecia um artista de cinema. Então as meninas começaram a dar em cima de mim. Passei a fumar por causa de Jean Paul Belmondo, vendo os filmes de François Truffaut e Jean Luc Goddard, sobretudo os que tivesse Jean Paul Belmondo. Curioso é que a morte de Jean Paul Belmondo, em Acossado, de Godard, acontece na frente do teatro onde fiz meu primeiro show em Paris, em 1979.
"Faço o que eu quero, do jeito que eu quero, sabe por que? Tudo meu foi desta maneira. Com a música foi desta maneira, não queriam que eu fosse artista, cantor. Depois sofri muito bullying. Na época dos tropicalistas, perguntavam o que eu fazia. Eu dizia: faço música. Vamos fazer a música universal? Não, eu faço o que eu quero. Faço meus discos do jeito que quero, eu não pareço é com ninguém, eu sou eu e o boi não lambe. Ninguém manda em mim. Sou como meu pai", avisa o rebelde filho do doutor Décio Valença, que inteira 70 anos e deve ir pra muito mais. A mãe dona Adelma, está com 102, e o pai dela, Adalberto Oliveira de Paiva, em 1976, celebrou os 90 anos lançando uma plaquete com a história da brava São Bento do Una.