'22 Milhas' tenta dar um novo fôlego para filmes de ação, mas desliza

Dirigido por Peter Berg e estrelado por Mark Wahlberg, '22 Milhas' traz equipe militar altamente especializada em uma missão complicada; confira crítica
Rostand Tiago
Publicado em 19/09/2018 às 9:15
Dirigido por Peter Berg e estrelado por Mark Wahlberg, '22 Milhas' traz equipe militar altamente especializada em uma missão complicada; confira crítica Foto: Foto: Divulgação


É sempre positivo quando um diretor busca alguma abordagem diferenciada na própria linguagem cinematográfica para tentar trazer novos ares a filmes com estruturas saturadas. É o caso dos filmes de ação. Exemplares recentes como Em Ritmo de Fuga e Mad Max: Estrada da Fúria trouxeram inventivos recursos estilísticos para dar novo fôlego ao gênero. Entretanto, buscar essas experimentações nem sempre garante o bom funcionamento da obra, especialmente quando essa "ousadia" não é bem dominada por seu realizador. No caso, quando ele não consegue lidar com princípios básicos de uma narrativa.

É o que acontece em 22 Milhas, que estreia hoje. Acompanhamos uma equipe militar dos Estados Unidos, acionada em casos extremos, em que "a diplomacia e os militares" não são capazes de agir. Liderada pelo temperamentalmente explosivo James Silva (Mark Wahlberg), a equipe precisa levar um policial corrupto (Iko Uwais) de um país do sudeste asiático para um ponto de extração a 22 milhas de onde estão, despachando-o, a partir daí, para os Estados Unidos. Tudo em troca de um código que dará acesso à localização de perigosos artefatos nucleares roubados, mas claro que o caminho até lá está povoado de obstáculos bem armados, colocados por aqueles interessados em que o agente não revele o segredo.

Uma trama convencional à qual o diretor Peter Berg emprega uma montagem que evoca um certo frenesi, trazendo planos curtíssimos, cortados com apenas poucos segundos em tela. A estratégia até funciona nos momentos iniciais, ilustrando bem a eficiência e a rapidez do trabalho da equipe em uma pequena janela de tempo, fazendo uma boa sequência de abertura.
Entretanto, se esse é o maior trunfo dessa empreitada, sua força se perde no decorrer de 1h34, seu tempo de duração. Cenas de luta corporal, mesmo com a experiente presença do dublê e artista marcial Iko Uwais, acabam sendo sabotadas por esses cortes, deixando tudo confuso e sem peso. O resto acaba se esgotando com facilidade, deficiente de impacto ou tensão.

Roteiro oscilante

Se essa estratégia para de funcionar, então o interesse recai em seu enredo, que não chega a ser um desastre, mas é dono de oscilações sensíveis. A começar pelo James Silva, construído como um homem agressivo, que canaliza esse temperamento por meio de sua fala incisiva e verborrágica, em alguns momentos, uma persona que Wahlberg já demonstrou dominar bem em Os Infiltrados. No entanto, aqui, esse comportamento não vai além de uma caricatura, sem grandes implicações das consequências que essa conduta poderia causar em uma missão, é apenas um traço de sua personalidade, sem nenhum apelo narrativo.

O resto do elenco, muito por causa de seus personagens parcamente desenvolvidos, acaba em segundo plano, sem conseguir gerar interesse ou empatia por suas vidas. O indonésio Iko Uwais escapa um pouco disso, traduzindo bem a ambiguidade que seu policial carrega, mas nada de grande destaque. Povoado por essas desinteressantes pessoas, a trama ainda traz uma artificial virada em sua resolução, que pode até parecer a pretensão de um final aberto, mas deixa claro que se trata de uma tentativa de gancho para uma possível sequência.

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