O Rec-Beat, principal espaço da música alternativa no Carnaval do Recife, no Cais da Alfândega, iniciou sua edição de 2020, neste sábado (22), com uma noite de apresentações pulsantes. Com uma grade eclética, que abriu espaço para diferentes gêneros musicais, o festival, que completa 25 anos, mais uma vez apostou na força do rap e do brega-funk, além da pluralidade da música pernambucana, promovendo vários momentos de catarse.
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Com um atraso de quase duas horas para dar início à programação, a primeira noite do Rec-Beat foi aberta com o projeto pernambucano Estesia, que apresentou um show especial intitulado Estudando o Bregafunk. Formado pelo duo de produtores Pachka (Miguel Mendes e Tomás Brandão), pelo cantor e compositor Carlos Filho e pelo iluminador cênico Cleison Ramos, o Estesia levou para o palco do Cais da Alfândega um show potente, com versões de clássicos do brega, como Dizem Que Sou Louca, com roupagem em diálogo com a música eletrônica. Os artistas convidaram ao palco MC Draaak, que fez uma performance instigada pautada pelo brega-funk e o trap.
Em seguida, o músico e compositor Elkin Robinson, da Ilha de Providência, apresentou sua sonoridade influenciada pelos ritmos caribenhos, incluindo o calypso e zouke. A apresentação teve um caráter mais acústico, com muitas letras cantadas na língua crioula.
Após Elkin, o pernambucano Martins fez o show do disco que leva seu nome e confirmou seu lugar como um dos principais artistas da nova geração da música local. Muitos de seus fãs compareceram ao Rec-Beat e cantaram juntos canções como Queria Ter Pra Te Dar, Estranha Toada e Me Dê. Destaque também para Absurdo Ser Normal, parceria com Igor de Carvalho, que foi intercalada com comentários de Igor sobre o desmonte da cultura e os ataques às instituições democráticas.
A dupla mineira Hot & Oreia foi um dos destaques da primeira noite do Rec-Beat 2020. A maior parte do público sabia todas as canções apresentadas, como Estilo, Eu Vou e Rappers, e cantou junto dos rappers, que são uma força no palco. Enérgicos e com letras que revelam um olhar afiado sobre a sociedade contemporânea, com denúncias e ironia, eles promoveram momentos que devem entrar na história do festival.
O primeiro deles foi um pedido de casamento. O noivo, que é fã dos rappers, entrou em contato com eles pelo Instagram para viabilizar a surpresa - e foi atendido. O outro foi quando a dupla, de supetão, pediu para o público abrir uma roda. Hot e Oreia desceram do palco e cantaram junto à plateia, que foi ao delírio.
Os músicos aproveitaram também a oportunidade para se posicionar contra a intolerância religiosa, o racismo e a homofobia. O público também puxou coros contra Jair Bolsonaro.
Destaque da cena brega-funk de pernambuco, Rayssa Dias fez história ao se tornar a primeira mulher a representar o movimento no palco do Rec-Beat. Talentosa e com grande presença de palco, ela apresentou canções suas tanto de brega-funk, quanto no estilo mais romântico, sendo acompanhada pelo público a todo instante em faixas como Deixa o Povo Falar, Malvadas Q Brota e Foda Demais. Ela recebeu no palco Lady Laay e Paulinha Escamosa.
Ciente da importância de ocupar aquele espaço, Rayssa ressaltou que era simbólico que uma mulher negra, periférica e lésbica estivesse em um dos principais palcos do Carnaval do Recife. A artista tocou em temas como o racismo e o preconceito contra a cultura periférica. Afirmou que, apesar da repressão, o brega-funk resistia e transformava vidas.
Encerrando a noite, Karina Buhr apresentou o show de Desmanche, seu disco mais recente, que ainda era inédito no Recife. Assim como no álbum, o show deu destaque para os instrumentos percussivos. Karina privilegiou as canções mais pulsantes do disco, como A Casa Caiu e Sangue Frio, deixando as "mais lentinhas", como ela classificou, para quando voltar ao Recife, o que ela prometeu que acontecerá em breve.
Sempre enérgica e cortante no palco, além de canções do novo trabalho, Karina Buhr também apresentou faixas de trabalhos anteriores, como Eu Sou Um Monstro e Pic Nic.
19h30 – DJ Nadejda (PE)
20h00 – Nina Oliveira (SP)
21h00 – Josyara (BA)
22h00 – BAD DO BAIRRO (SP)
23h10 – N3rdistan (Marrocos)
00h30 – Omulu (RJ)