Irmã do meio de Graça Araújo, Conceição Soares mora em São Paulo e veio para o Recife se despedir da jornalista. Ela ressaltou a força que a irmã tinha, a paixão pelo trabalho, a dedicação à profissão e o amor que sentia pela família. “Cuidava de todos”, destacou
JC – Quando foi a última vez que a senhora falou com Graça?
CONCEIÇÃO SOARES – Na quarta à noite, pelo WhatsApp. Ela sugeriu criar um grupo da família. Eu não estava muito bem e disse pra gente falar em outra hora. No fim, ela disse ‘eu amo tu’. Respondi idem. Eu nunca dizia idem, mas respondi desse jeito. Ontem (sábado) tive que dizer ‘eu amo tu, eu amo tu’, várias vezes.
JC – Como era Graça com a família?
CONCEIÇÃO – Braba, gostava de cobrar, de colocar no trilho. Mas também deitava no chão com os sobrinhos-netos, brincava. O trabalho era a vida dela. Viveu para o trabalho. Quando ia receber uma homenagem, uma medalha, mandava pra gente.
JC – Como começou a paixão pelo jornalismo?
CONCEIÇÃO – O sonho de infância era ser médica. Mas quando começou a trabalhar numa revista como auxiliar de redação conheceu um jornalista e se apaixonou pela profissão. Cursou jornalismo. Antes, trabalhou em banco e como gerente de loja de confecção. Veio para Pernambuco. Quase voltava para São Paulo porque não conseguia emprego. Numa entrevista, a pessoa, de cabeça baixa, disse que não tinha vaga. Ela pediu uma chance. O rapaz, pelo timbre da voz dela, resolveu contratá-la.
JC – O que fica de legado?
CONCEIÇÃO – De Graça fica a graça. Ela era nosso esteio, nosso maior orgulho, nossa paixão. Está doendo muito. Ficamos sem graça agora.
JC – O que a senhora acha de tantas homenagens?
CONCEIÇÃO – Graça era amável, sempre conversava com o povo. Quando eu vinha pro Recife, entrávamos no supermercado e ficávamos 30, 40 minutos, com pessoas falando com ela, beijando, abraçando, contando problemas. Ela nunca fechou os olhos para esse público.
“Minha tia sempre foi e será uma referência de amor e cuidado. A gente tinha muito orgulho dela, pela superação de saber de onde veio, de uma realidade tão inóspita, tão difícil, e chegar aonde chegou. Falei com ela, por telefone, duas semanas atrás. Ela comentou que vivia seu melhor momento profissional, que estava plena e feliz em todas as esferas da vida. Até disse que pensava em se aposentar, mas que estavam surgindo muitas oportunidades de trabalho”, relatou a estudante Yasmin Soares, 21, sobrinha e afilhada de jornalista.
"Conheci Graça quando eu frequentava o programa de Jota Ferreira. Sempre foi muito simpática. Ela vai fazer muita falta. Era como se fosse uma amiga da gente, falava na rádio de um jeito simples, escutava os entrevistados e as pessoas que telefonavam com atenção", comentou a dona de casa Carmem Souza, 56 anos, moradora de Tabajara, em Olinda
"Participei de quatro programas do Consultório de Graça. Ela era a dama do jornalismo pernambucano. Humilde, respeitadora. Fiz questão de vir me despedir dela. Ninguém esperava que morresse desse jeito, pois era muito saudável, se cuidava", lamentou a técnica em podologia Odete Gomes, 59, que exibia com orgulho uma foto tirada com a apresentadora
"Mandei fazer uma camisa com a frase 'A voz da verdade nos deixará muita saudade' e uma foto de Graça Araújo comigo, que tirei numa corrida ano passado. Ela inspirou muita gente a cuidar da saúde. Pretendo formar um grupo de corredores para homenageá-la", afirmou o motorista Fábio Souza, 27, morador de Santo Amaro, área central do Recife
"Graça tinha um coração lindo. Como cliente e amiga, construímos uma relação de 20 anos. Ela sempre foi muito cortês, simples, honesta, de uma bondade enorme. Nunca cometeu uma deselegância. Deixará muita saudade", destacou a empresária Julita Farias, 74 anos, dona de um salão de beleza onde Graça cortava o cabelo.