Parentes e amigos tiveram a oportunidade de se despedir de Helio Jaguaribe durante a manhã desta quarta-feira (12), durante velório na Sala dos Poetas Românticos da sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro. Pouco antes das 14h, o corpo foi transportado para o Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo. O enterro foi acompanhado por dezenas de pessoas.
Jurista, sociólogo e escritor, Hélio Jaguaribe morreu no último domingo (9), aos 95 anos. Ele estava em casa, no bairro de Copacabana, e teve falência múltipla de órgãos. Helio Jaguaribe era casado com Maria Lucia Charnaux Jaguaribe e tinha cinco filhos. Em 2005, o sociólogo se tornou o 9º imortal a ocupar a cadeira 11 da ABL, que pertenceu antes a Celso Furtado e a Darcy Ribeiro.
O diplomata Roberto Jaguaribe, um de seus filhos, destacou o amor pela vida do pai e a generosidade oferecida a todas as pessoas que o procuravam. “Foi um homem que dedicou uma grande energia, sua vitalidade, sua lucidez e seu grande intelecto à construção de um país mais equilibrado. É um legado muito grande que se manifesta não apenas na sua obra de entendimento da Nação e dos homens, mas também nas ações concretas em busca de um mundo mais positivo”.
Um dos presentes ao velório foi o jurista e ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer, amigo de longa data de Helio Jaguaribe. Ambos são fundadores do PSDB, mas, segundo Lafer, a relação entre os dois é bem mais antiga.
“Quando eu era universitário, eu li os seus livros e fiquei deslumbrado pela profundida do conhecimento e pela capacidade de apontar rumos para o país. Depois, o conheci através de um primo que era seu amigo e então ficamos muito próximos. Eu fui estudar ciência política no exterior e Helio me apoiou na minha tese sobre o programa de metas de Juscelino Kubitschek. A versão brasileira desta publicação tem a orelha escrita por ele. Posteriormente, ele escreveu o prefácio de outro livro. Tivemos convergência em muitas empreitadas, entre elas está o capítulo da fundação do PSDB, que envolve a visão que ele procurou articular acerca da social-democracia”, contou.
De acordo com Celso Lafer, a obra de Helio Jaguaribe tem um alcance significativo e contribui para se pensar a formação do Brasil, da mesma forma como Celso Furtado e Darcy Ribeiro, seus predecessores na ABL. “Ele tinha enorme preocupação com a desigualdade no Brasil, formulou propostas de políticas públicas e tinha uma inquietação grande sobre os destinos da educação. Estou convencido que sua obra nos oferece pistas e caminhos para o futuro”.
O atual presidente da ABL, o escritor Marco Lucchesi, manifestou opinião similar. Para ele, o pensamento de Helio Jaguaribe envolve temas que estão na ordem dia e oferecem uma referência no horizonte. “Foi uma pessoa além do seu próprio tempo e traz visões que mais ou menos descreveram coisas que acontecem hoje. Não por uma carga profética, mas por uma leitura e uma sensibilidade extremamente refinadas”.
Segundo Lucchesi, assim como ocorrem com todos os imortais, a ABL tem agora o compromisso com a memória da vida e obra do sociólogo. “Sua memória não ficará adstrita a uma ou outra instituição, porque ela é um patrimônio nacional. Qualquer um pode tirar da obra de Hélio o proveito que julgar mais interessante e fértil”, acrescentou.
Nascido no Rio de Janeiro em 1923, Helio Jaguaribe se formou em direito pela Pontifícia Universidade Católica em 1946. Iniciou em 1952 um projeto de estudos, ao lado de outros jovens cientistas sociais, para reformular o entendimento sorbre a sociedade brasileira, fundando o Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (Ibesp). Na entidade, Jaguaribe foi secretário-geral e também diretor da revista Cadernos de Nosso Tempo.
Também por iniciativa dele, foi constituído em 1956 o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), ligado ao Ministério da Educação, para promover altos estudos no campo das ciências sociais. Em 1964, após condenar o golpe militar, Jaguaribe foi lecionar nos Estados Unidos, ficando na Universidade de Harvard, de 1964 a 1966; na Universidade de Stanford, de 1966 a 1967, e no Massachusets Institute of Tecnology (MIT), de 1968 a 1969. Retornou ao Brasil em 1969, quando ingressou no Conjunto Universitário Cândido Mendes.
Foi decano do Instituto de Estudos Políticos e Sociais desde sua fundação, em 1979, até 2003, continuando as pesquisas ativamente como decano emérito. Recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Johannes Gutenberg, de Mainz, Alemanha (em 1983); da Universidade Federal da Paraíba (em 1992); e da Universidade de Buenos Aires (em 2001). Recebeu também a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 1996 e a Ordem do Mérito Cultural, em 1999.