Grandes fundos dos EUA veem oportunidades na Argentina

A expectativa dos investidores é de que a Casa Rosada agora vai tomar medidas para reerguer a economia e buscar um acordo com os credores para solucionar o problema
Carolina Sá Leitão
Publicado em 10/08/2014 às 12:48


O default da Argentina pode não ser a pior coisa para o país. Ao contrário, grandes fundos de Wall Street, incluindo um de gestão de fortunas do megainvestior George Soros, estão vendo oportunidades de ganhar com o cenário atual na economia, apostando na compra de ações de grandes empresas. A expectativa dos investidores é de que a Casa Rosada agora vai tomar medidas para reerguer a economia, atualmente em recessão, e buscar um acordo com os credores para solucionar o problema. 

A perspectiva de recuperação e algumas ações com preços atrativos têm atraído vários grandes investidores. Entre os nomes comentados em Wall Street estão, além da gestora de Soros, o fundo Third Point e, segundo o jornal Financial Times, a gestora DE Shaw e a Renaissance Technologies, que também fizeram apostas recentes no país. O Third Point, que administra US$ 15 bilhões, comprou em julho pela primeira vez ações da petroleira YPF e adquiriu títulos locais de dívida do governo argentino, de acordo com uma carta a investidores assinada pelo presidente Dan Loeb. "Estamos no meio de um período crítico de inflexão no país", afirma o documento, destacando que a expectativa é de que a Argentina chegue até o fim do ano a um acordo com os "holdouts", os fundos que não aderiram às reestruturações de dívida de 2005 e 2010 e que entraram na Justiça para receber US$ 1,3 bilhão. 

Um acordo sobre a dívida, destaca o relatório, ajudaria o país a voltar ao mercado internacional de capitais, do qual está fora desde 2001, quando deu o maior calote soberano da história. "Esperamos descobrir oportunidades de investimento adicionais na Argentina, na medida em que o país saia de seu longo período de mal-estar", afirma o fundo. Ainda no documento, a gestora destaca que as eleições de outubro de 2015 podem ser uma oportunidade para o país mudar de rumo. 

Diferentemente do calote de 2001, quando o país não tinha recursos para pagar os serviços da dívida, agora a situação é diferente, destaca o economista-chefe para mercados emergentes da consultoria Capital Economics, Neil Shearing. O país tem os recursos e, inclusive, depositou US$ 830 milhões para pagar os credores da dívida reestruturada. Para ele, o default não chegou a ser uma surpresa e boa parte dele já estava embutido nos preços. Por isso, não se esperam maiores turbulências daqui para frente. 

As ações de empresas argentinas mais comentadas pelos gestores em relatórios, declarações e cartas à investidores são as de grandes empresas, principalmente as que têm ações listadas em Wall Street, por meio dos American Depositary Receipts (ADRs). Entre elas, YPF, Petrobras Argentina, Telecom Argentina, BBVA Banco Francés e Banco Macro. Ao todo, 16 companhias argentinas são listadas em Nova York. A casa de pesquisas de ações Zacks Investment Research recomenda, por exemplo, a compra de papéis da Petrobras Argentina. A previsão da casa é de que a empresa tenha lucros 18,3% maiores este ano, na comparação com 2013, sendo que a expectativa de números melhores não está ainda embutida nos preços. 

Outro megainvestidor de Wall Street, Mark Mobius, presidente da gestora Franklin Templeton, que tem ativos de US$ 900 bilhões, afirmou em entrevista ao canal de televisão CNBC que o default da Argentina pode ser a "melhor coisa" que aconteceu com o país e que, por isso, vai seguir investindo no mercado local. "Ninguém vai dar mais dinheiro para o país. Eles têm que colocar a casa em ordem, e é isso que as pessoas estão esperando ansiosamente acontecer", declarou na entrevista, ressaltando que o país tem algumas empresas que são competidores internacionais em seus segmentos. 

No último dia 30, a Argentina não conseguiu chegar em Nova York a um acordo com os "holdouts" e entrou no chamado "default técnico". No dia seguinte, o índice Merval, o principal termômetro da Bolsa de Buenos Aires, caiu 8,4%. O investidor da Fortress Investment Group, Michael Novogratz, declarou em um evento sobre investimentos que a baixa das bolsas era esperada, após a confirmação do default, e é uma boa oportunidade de compra de ações a preços mais baixos no país. 

Riscos

Apesar da expectativa de mudanças, os gestores destacam que investir na Argentina continua sendo uma aposta de alto risco. O Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês), formado pelos maiores bancos do mundo, avalia que a recessão pode piorar no curto prazo, enquanto a Casa Rosada não resolver a questão do calote. Mas os economistas da instituição também veem possibilidade de melhora se o país fechar um acordo com os credores, por exemplo, se bancos privados comprarem a dívida dos fundos.Dívida

Grandes fundos dos EUA veem oportunidades na Argentina

A expectativa dos investidores é de que a Casa Rosada agora vai tomar medidas para reerguer a economia e buscar um acordo com os credores para solucionar o problema

O default da Argentina pode não ser a pior coisa para o país. Ao contrário, grandes fundos de Wall Street, incluindo um de gestão de fortunas do megainvestior George Soros, estão vendo oportunidades de ganhar com o cenário atual na economia, apostando na compra de ações de grandes empresas. A expectativa dos investidores é de que a Casa Rosada agora vai tomar medidas para reerguer a economia, atualmente em recessão, e buscar um acordo com os credores para solucionar o problema. 

A perspectiva de recuperação e algumas ações com preços atrativos têm atraído vários grandes investidores. Entre os nomes comentados em Wall Street estão, além da gestora de Soros, o fundo Third Point e, segundo o jornal Financial Times, a gestora DE Shaw e a Renaissance Technologies, que também fizeram apostas recentes no país. O Third Point, que administra US$ 15 bilhões, comprou em julho pela primeira vez ações da petroleira YPF e adquiriu títulos locais de dívida do governo argentino, de acordo com uma carta a investidores assinada pelo presidente Dan Loeb. "Estamos no meio de um período crítico de inflexão no país", afirma o documento, destacando que a expectativa é de que a Argentina chegue até o fim do ano a um acordo com os "holdouts", os fundos que não aderiram às reestruturações de dívida de 2005 e 2010 e que entraram na Justiça para receber US$ 1,3 bilhão. 

Um acordo sobre a dívida, destaca o relatório, ajudaria o país a voltar ao mercado internacional de capitais, do qual está fora desde 2001, quando deu o maior calote soberano da história. "Esperamos descobrir oportunidades de investimento adicionais na Argentina, na medida em que o país saia de seu longo período de mal-estar", afirma o fundo. Ainda no documento, a gestora destaca que as eleições de outubro de 2015 podem ser uma oportunidade para o país mudar de rumo. 

Diferentemente do calote de 2001, quando o país não tinha recursos para pagar os serviços da dívida, agora a situação é diferente, destaca o economista-chefe para mercados emergentes da consultoria Capital Economics, Neil Shearing. O país tem os recursos e, inclusive, depositou US$ 830 milhões para pagar os credores da dívida reestruturada. Para ele, o default não chegou a ser uma surpresa e boa parte dele já estava embutido nos preços. Por isso, não se esperam maiores turbulências daqui para frente. 

As ações de empresas argentinas mais comentadas pelos gestores em relatórios, declarações e cartas à investidores são as de grandes empresas, principalmente as que têm ações listadas em Wall Street, por meio dos American Depositary Receipts (ADRs). Entre elas, YPF, Petrobras Argentina, Telecom Argentina, BBVA Banco Francés e Banco Macro. Ao todo, 16 companhias argentinas são listadas em Nova York. A casa de pesquisas de ações Zacks Investment Research recomenda, por exemplo, a compra de papéis da Petrobras Argentina. A previsão da casa é de que a empresa tenha lucros 18,3% maiores este ano, na comparação com 2013, sendo que a expectativa de números melhores não está ainda embutida nos preços. 

Outro megainvestidor de Wall Street, Mark Mobius, presidente da gestora Franklin Templeton, que tem ativos de US$ 900 bilhões, afirmou em entrevista ao canal de televisão CNBC que o default da Argentina pode ser a "melhor coisa" que aconteceu com o país e que, por isso, vai seguir investindo no mercado local. "Ninguém vai dar mais dinheiro para o país. Eles têm que colocar a casa em ordem, e é isso que as pessoas estão esperando ansiosamente acontecer", declarou na entrevista, ressaltando que o país tem algumas empresas que são competidores internacionais em seus segmentos. 

No último dia 30, a Argentina não conseguiu chegar em Nova York a um acordo com os "holdouts" e entrou no chamado "default técnico". No dia seguinte, o índice Merval, o principal termômetro da Bolsa de Buenos Aires, caiu 8,4%. O investidor da Fortress Investment Group, Michael Novogratz, declarou em um evento sobre investimentos que a baixa das bolsas era esperada, após a confirmação do default, e é uma boa oportunidade de compra de ações a preços mais baixos no país. 

Riscos

Apesar da expectativa de mudanças, os gestores destacam que investir na Argentina continua sendo uma aposta de alto risco. O Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês), formado pelos maiores bancos do mundo, avalia que a recessão pode piorar no curto prazo, enquanto a Casa Rosada não resolver a questão do calote. Mas os economistas da instituição também veem possibilidade de melhora se o país fechar um acordo com os credores, por exemplo, se bancos privados comprarem a dívida dos fundos.

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