Inflação da China gera debate sobre estímulos

Desaceleração no índice de preços ao consumidor pede que a autoridade monetária da China tome atitudes preventivas para reduzir as taxas reais de juros
Danilo Galindo
Publicado em 15/10/2014 às 7:58
Desaceleração no índice de preços ao consumidor pede que a autoridade monetária da China tome atitudes preventivas para reduzir as taxas reais de juros Foto: Foto: Marcos Santos/USP Imagens


Os índices de inflação da China referentes à setembro vieram abaixo do esperado pelo mercado e levantaram questões entre os analistas sobre o risco de deflação e a possibilidade da autoridade monetária do país adotar estímulos adicionais à economia.

O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) da China caiu 1,8% em setembro na comparação com o mesmo período do ano passado. Já o índice de preços ao consumidor subiu 1,6% na mesma comparação. Os analistas consultados pela Dow Jones sugeriam recuo de 1,5% no PPI e alta de 1,7% no CPI.

Logo após a divulgação dos dados, as ações na China perderam força, refletindo o receio dos investidores em relação ao enfraquecimento da demanda doméstica. No entanto, ao longo da sessão, os mercados passaram a ganhar força, com as apostas na possibilidade de adoção de novos estímulos por parte do Banco do Povo da China (PBoC). "Os pedidos por medidas de estímulo à liquidez vão naturalmente aumentar e o panorama de um yuan mais fraco também se eleva, o que pode dar um novo rumo a guerra cambial global", disseram analistas do IG.

No começo do ano, a projeção era de que a inflação se elevasse mais no terceiro trimestre, disse a economista do HSBC, Ma Xiaoping. "Mas uma política mais voltada para o aperto monetário não permitiu que isso acontecesse", completou. A analista disse estar mais preocupada com a deflação no índice de preços ao produtor. "As empresas chinesas estão tendo dificuldades, pois embora as taxas nominais de juros não sejam tão altas, o aprofundamento da deflação ao produtor faz com que as taxas reais se elevem e reduzam seus lucros", afirmou.

Segundo o analista Kevin Lai, da Daiwa Securities, o PPI continua muito fraco, refletindo as dificuldades do setor industrial em lidar com a falta de poder de precificação, piorada por um dólar mais valorizado que faz pressão negativa nos preços das commodities.

Ainda na análise do HSBC, a desaceleração no índice de preços ao consumidor pede que a autoridade monetária da China tome atitudes preventivas para reduzir as taxas reais de juros. Xiaoping chamou atenção para o risco de deflação. "Um deflação global nos preços não está acontecendo agora, mas o risco obviamente está aumentando e os formadores de política deveriam tomar medidas adicionais", disse a economista.

Os analistas da Capital Economics, por outro lado, não estão preocupados com o risco de deflação. "A inflação mais baixa é reflexo da queda no preço das commodities, mais do que efeito do enfraquecimento da demanda doméstica", disse o economista Julian Evans-Pritchard. A expectativa é que os preços ao consumidor se recuperem nos próximos meses sem causar preocupações ou mudanças na política monetária.

Essa também é expectativa dos economistas da CIMB. "A inflação na China vai se recuperar ao final do quarto trimestre, mas o aumento não vai solicitar uma mudança de política por parte do banco central", disse o economista Zhang Fan. O analista atribui a desaceleração do CPI à demanda doméstica, a uma alta base comparação e ao recente corte no preço dos combustíveis.

Embora não acreditem numa mudança imediata na política de estímulos, alguns analistas dizem que são poucas as evidências de que as medidas direcionadas adotadas pelo governo nos últimos meses tiverem efeito significativo. "O mercado esperava muito dos estímulos direcionados, mas ou o estímulo foi pequeno ou não criou nenhum impacto substancial", disse o analista Kevin Lai, da Daiwa Securities. Entretanto, o economista avalia que o resultado do CPI em setembro não devem fazer com que o governo mude sua política ou faça algum corte nos juros imediatamente.

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