Os países afetados pelo vírus Ebola instaram as Nações Unidas nesta sexta-feira a apresentar um plano de recuperação econômica que os ajude a amortecer os efeitos devastadores da epidemia na agricultura, na mineração e nas finanças públicas.
Guiné, Libéria e Serra Leoa reduziram dramaticamente suas previsões de crescimento, depois que a epidemia deixou 6.000 mortos e serviços de saúde sobrecarregados.
"Nós precisamos de apoio adicional, de forma a conseguirmos nos manter de pé quando esta epidemia acabar", disse o ministro das Finanças e da Economia da Guiné, Mohamed Diare, durante um encontro especial sobre o Ebola no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC).
Ministros dos três países afirmaram que a crise de Ebola impôs um duro peso a seus orçamentos nacionais e deixou setores chave, como a agricultura, à beira do precipício.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, lembrou que "antes da epidemia de Ebola, as economias de Guiné, Libéria e Serra Leoa eram vibrantes e crescentes".
"Agora, estão fracas e estagnadas. A renda está caindo. Os preços aumentaram. Os mercados estão vazios. As pessoas estão com fome", prosseguiu.
"Por isso é imperativo que, enquanto trabalhamos para pôr um fim à epidemia de Ebola, nós também devemos começar a nos concentrar na recuperação", disse.
O foco da ONU mudou para a recuperação econômica mesmo quando os últimos dados demonstravam que a epidemia estava longe do fim, com um aumento no número de casos registrados em Serra Leoa e Guiné, apesar de uma queda na Libéria.
As produções de arroz, milho e mandioca na Guiné encolheram entre 40% e 50% em função da epidemia e as exportações de batatas do Senegal despencaram, disse Diare em videolink de Conakry.
O projeto de mineração Simandou, um negócio estimado em US$ 20 bilhões de dólares, está enfrentando atrasos, enquanto o governo luta contra as perdas nas receitas geradas pelos impostos, combinada com um aumento dos gastos públicos, acrescentou.
- O Ebola faz encolher os orçamentos -
O ministro da Economia e do Desenvolvimento Econômico de Serra Leoa disse que, enquanto seu país recebeu US$ 712 milhões em ajuda, "apenas 5% foram destinados para os sistemas nacionais".
Kaifala Marrah disse que mais ajuda financeira deveria ser destinada para apoiar os orçamentos nacionais, permitindo aos governos ajudar pequenos fazendeiros, empreendedores locais, banqueiros e o setor turístico.
As flutuações monetárias deixaram um buraco de US$ 90 milhões no orçamento serra-leonês, forçando o governo a considerar medidas custosas para fortalecer a moeda, afirmou.
Duas outras importantes mineradoras, a London Mining e a Africa Minerals, também estão enfrentando dificuldades, afirmou.
O vice-ministro da Economia da Libéria, Mounir Siaplay, reforçou que trabalhadores expatriados quase não vão mais ao país, forçando as empresas estrangeiras a reduzir suas atividades.
Um estado de emergência de três meses tornou "a comida mais difícil de encontrar e mais cara de comprar", disse.
O Banco Mundial estima que o crescimento em 2014 desabou de 4,5% para 2,4% na Guiné, de 5,9% para 2,5% na Libéria e de 11,3% para 8% em Serra Leoa.
Guiné e Serra Leoa se encaminham para uma recessão em 2015 e a Guiné deve apresentar um crescimento modesto.
As Nações Unidas lideram os esforços para conter a epidemia de Ebola, que o Conselho de Segurança considera uma ameaça à paz e à segurança mundiais.