Os líderes do G20 saíram nesta segunda-feira (5) em defesa da globalização e do livre comércio como melhor fórmula para estimular o crescimento, em um contexto marcado pelo protecionismo em muitos países do mundo.
"Decidimos apoiar um sistema comercial multilateral e nos opor ao protecionismo", declarou o presidente chinês, Xi Jinping, cujo país abrigou durante dois dias a cúpula do grupo na cidade de Hangzhou.
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, foi mais contundente e denunciou os "ataques populistas" contra a globalização.
"A maneira como a China conseguiu tirar 700 milhões da pobreza para formar uma classe média são histórias que não se incluem no discurso ouvido agora", lamentou, embora tenha reconhecido que a cúpula não pode beneficiar apenas alguns.
A denúncia do protecionismo foi o fio condutor desta cúpula do G20 que reúne todos os anos as 19 principais economias mundiais (industrializadas e emergentes) e a União Europeia, um fórum que representa 85% do PIB mundial e dois terços da população do planeta.
Nunca os países do grupo haviam adotado tantas medidas protecionistas, segundo dados da OMC.
Desde 2008-2009, o crescimento dos intercâmbios comerciais está estancado abaixo de 3%, contra os 7% das últimas duas décadas.
"A globalização não tem conotações positivas, também implica grandes desigualdades", reconheceu Angela Merkel, igualmente preocupada com a ascensão em seu país do partido de ultradireita AfD.
Os países no Cone Sul também quiseram passar uma mensagem para seguir com as reformas.
Michel Temer prometeu que o Brasil voltará a crescer graças às reformas e anunciou um plano de privatizações, enquanto o argentino Mauricio Macri defendeu o "combate ao protecionismo em todas as suas formas, incluindo o protecionismo agrícola, um dos mais arraigados".
No texto final, o G20 também fez referência ao dumping e aos seus "efeitos negativos sobre o comércio e os trabalhadores".
A questão é delicada e Europa e Estados Unidos denunciaram reiteradamente a questão do aço chinês, que o gigante asiático vende a preços muito baixos em detrimento dos produtores locais.
As dificuldades do acordo comercial entre Europa e Estados Unidos (TTIP) são um exemplo das reticências que o G20 denuncia.
O tratado foi criticado tanto pelos aspirantes à Casa Branca (o republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton) quanto por países europeus como Alemanha e França.
Na mesma linha se expressou o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, cujo país está negociando com muitas dificuldades um tratado de livre comércio com a UE (o chamado Ceta), que denunciou "a construção de muros", em uma referência velada a Trump.
Por sua vez, a primeira-ministra britânica, Theresa May, começou a buscar alianças comerciais após o Brexit e anunciou negociações com Índia, México, Coreia do Sul e Cingapura para um futuro acordo comercial.
No front geopolítico, a cúpula foi marcada por uma tentativa frustrada da Rússia e dos Estados Unidos de alcançar um acordo sobre o conflito na Síria.
"Tivemos conversas produtivas sobre o que seria um verdadeiro fim das hostilidades", disse o presidente americano, Barack Obama, depois de se reunir com Vladimir Putin.
O acordo buscava, entre outras coisas, levar ajuda humanitária à cidade de Aleppo, uma das mais castigadas pelo conflito.
Mas Washington acusou Moscou de ter voltado atrás em alguns pontos das negociações, tornando impossível um acordo.
Estados Unidos e Rússia, que realizam ataques aéreos na Síria contra os extremistas, embora separadamente, discordam sobre o futuro do presidente Bashar al-Assad, que continua atacando a oposição síria com o apoio da Rússia.
O conflito da Síria não foi o único discutido na cúpula. Também preocupa o lançamento nesta segunda-feira por parte da Coreia do Norte de três mísseis balísticos e as tensões entre China e Estados Unidos pelas reivindicações de Pequim no mar da China Meridional.