Empresas: uma arma poderosa contra a independência da Catalunha

A decisão foi tomada depois da publicação de um decreto adotado pelo governo espanhol
AFP
Publicado em 06/10/2017 às 15:25
A decisão foi tomada depois da publicação de um decreto adotado pelo governo espanhol Foto: Foto: JAIME REINA / AFP


Depois da arma judicial, entra em campo a econômica. Em meio à crise na Catalunha, grandes bancos e empresas estão cumprindo sua ameaça de deixar a região, com aval do governo central de Madri. 

Essa sexta-feira (6), os diretores de CaixaBank, o terceiro maior banco da Espanha, decidiram migrar sua sede social de Barcelona para Valência, diante de uma possível declaração unilateral de independência nos próximos dias, para "proteger plenamente a segurança jurídica e regulatória.

A decisão foi tomada depois da publicação de um decreto adotado pelo governo espanhol nesta manhã que simplifica a mudança da sede social, deixando essa decisão nas mãos do conselho administrativo, e não da junta geral de acionistas, mais difícil de reunir. 

"As políticas irresponsáveis" do Executivo separatista catalão são algo que "gera preocupação, gera incerteza, e isso é o pior que pode haver no mundo empresarial", disse à imprensa o ministro de Economia, Luis de Guindos, após o fim do conselho semanal de ministros. 

"A alta finança catalã, em coordenação com o governo central, começou a executar ontem (quinta-feira) sua mudança simbólica da Catalunha para o resto do Estado. Um tsunami que atinge a anunciada declaração unilateral de independência", resumiu Manel Pérez no jornal La Vanguardia, de Barcelona.

Nesta quinta, o Banco de Sabadell, o segundo maior da região, já tinha anunciado a mudança de sua sede para Alicante (sudeste espanhol), indicando que não prevê mudanças nas equipes.

O principal objetivo dos bancos é se manter na zona do euro no caso de uma declaração unilateral de independência por parte das autoridades catalãs, e, assim, garantir seu acesso ao financiamento do Banco Central Europeu (BCE). 

No caso de uma separação, a mudança também permite continuar pagando seus impostos para o Estado espanhol, e não à embrionária Fazenda catalã, criada pelos separatistas, mas sem funcionamento efetivo ainda. 

'Não têm outra saída'

"Trata-se de uma mudança de sede mais cosmética que real", destacou ao jornal El Economista Juan Fernando Robles, professor da Escola de Comércio CEF. "É um movimento para acalmar a incerteza do mercado financeiro e dos clientes e evitar especulações", completou. 

Os banco catalães, que desde segunda sofreram grandes perdas de ações, temem uma fuga de depósitos. 

O diretor de uma agência do CaixaBank que não quis revelar sua identidade confirmou à AFP que alguns clientes individuais tiraram seu dinheiro com medo de perdê-lo, ou por raiva das autoridades separatistas. 

"Faz duas semanas comecei a me preocupar e pensei em tirar meu dinheiro do Sabadell, mas agora que foram para Alicante me sinto mais segura", admitiu à AFP Tamara Díez Otero, agente imobiliário de 36 anos.

Robert Tornabell, especialista em bancos da escola de comércio catalã Esade, confirma que houve retiradas, mas sem "grandes somas". "Não há pânico" por enquanto, garante. 

Os últimos dados disponíveis do Banco de España sobre movimentos de depósitos bancários só abrangem o primeiro trimestre. 

Contudo, diante das preocupações crescentes, os bancos "não têm outra saída" a não se mudar sua sede social. 

"O que acontece é que, ao fazê-lo, provocam grande pressão, porque os separatistas tinham prometido que nenhuma empresa iria embora", explica Tornabell. 

O impacto dessas "mudanças" é forte, ainda mais quando a partida dos bancos pode levar também suas filiais, bem como seguradoras e empresas imobiliárias. 

Fora do setor bancário, as preocupações também imperam. Nesta sexta, o grupo energético Gas Natural anunciou sua mudança de Barcelona para Madri, "enquanto se mantiver essa situação" de incerteza. 

O diretor do Freixenet, líder mundial de cavas, afirmou que planeja fazer o mesmo.

Outras empresas menores também deram este passo, como a Oryzon (biotecnologia) e a Dogi (têxtil).

"As grandes fortunas já estão há meses levando dinheiro para Madri e Valência", com medo desta possível declaração de independência, garante Tornabell. 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou, nesta sexta, que "as tensões e a incerteza relacionadas à Catalunha poderiam pesar na confiança e nos investimentos na Espanha", a quarta maior economia da zona do euro. 

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