Desemprego e informalidade crescem na América Latina, diz OIT

No primeiro semestre de 2018, a taxa de desemprego subiu para 8,8% e afetou pelo menos 26 milhões de pessoas
AFP
Publicado em 02/10/2018 às 23:48
No primeiro semestre de 2018, a taxa de desemprego subiu para 8,8% e afetou pelo menos 26 milhões de pessoas Foto: Foto: Agência Brasil


O desemprego é preocupante na América Latina, onde milhões de pessoas trabalham na informalidade, sem contribuir para a previdência social, o que compromete a arrecadação de uma futura aposentadoria, advertiu a Organização Internacional do Trabalho (OIT) nesta terça-feira (2). 

"Há um aumento na incerteza em termos de mercado de trabalho" na América Latina, disse Guy Ryder, diretor-geral da OIT, na abertura da Reunião Regional Americana no Panamá. 

Segundo Ryder, após 2014 a região entrou em um ciclo de desaceleração econômica em que o desemprego médio passou de 6,1% para 8,1% em 2017. 

No primeiro semestre de 2018, a taxa de desemprego subiu para 8,8% e afetou pelo menos 26 milhões de pessoas, segundo a OIT. 

"É improvável reverter a tendência negativa dos últimos anos. Estamos enfrentando uma situação de desemprego que se qualificaria como preocupante", disse Ryder na reunião, que vai até sexta-feira.

Além disso, segundo o representante da OIT, mais da metade dos trabalhadores (53%) na América Latina trabalha informalmente. 

Com esse panorama, de acordo com a OIT, será um "verdadeiro desafio" atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de compromissos adotados em 2015 por 193 líderes mundiais para erradicar a pobreza e a desigualdade em 2030. 

O diretor da OIT observou que houve algum progresso em termos de igualdade das mulheres no mercado de trabalho, mas a situação dos jovens é menos animadora, com 18% de desemprego juvenil na América Latina. 

Segundo a OIT, 40% dos desempregados da região são jovens. 

Sem proteção social

Um desafio na região é a proteção social dos trabalhadores, a maioria dos quais não contribui para a previdência social, o que compromete seu acesso à aposentadoria. 

"É preciso reconhecer que na América Latina mais da metade dos trabalhadores, 55%, não contribuem para nenhum sistema de previdência social", alertou Ryder. 

A OIT afirma que na América Latina quase 71% dos idosos recebem algum tipo de pensão, enquanto apenas 28,9% das pessoas em idade ativa contribuem. 

Na América Latina, apenas Bolívia e Guiana têm cobertura de aposentadoria superior a 90%. São seguidos por Argentina, Chile, Uruguai, Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador, Costa Rica, Honduras e Belize. 

A cobertura em México, Nicarágua, Panamá e Paraguai varia entre 20% e 49%, enquanto na Guatemala, em El Salvador e no Peru não chega a 20%.

A OIT reconhece que as reformas previdenciárias não produziram o efeito esperado de garantir o acesso universal às aposentadorias. 

Alguns países que optaram por sistemas privados estão retornando aos modelos de pensão solidária e pública, de acordo com Ryder. 

Ele defendeu uma "cobertura de nível suficiente para garantir um padrão de vida decente. Também temos que ampliar a cobertura do sistema de proteção social e isso tem muito a ver com o desafio da informalidade". 

A OIT pediu para os governos da região promoverem negociações coletivas entre organizações sindicais e empresariais. 

"Há um déficit de diálogo social nas Américas, cada país tem suas particularidades, mas a consolidação contínua dos processos de diálogo social continua sendo uma questão pendente", afirmou Ryder. 

Apoio à Venezuela

Ryder ainda pediu para os países latino-americanos facilitarem o acesso ao mercado de trabalho a milhares de venezuelanos que abandonaram seu país, em meio a uma crise política e econômica.

"Temos que buscar a forma de criar a possibilidade" de que os venezuelanos migrantes possam "ter acesso aos mercados de trabalho", disse Ryder.

Contudo, reconheceu que isso "não é uma coisa fácil" devido ao discurso populista atual contra a migração em muitos países.

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