O desemprego é preocupante na América Latina, onde milhões de pessoas trabalham na informalidade, sem contribuir para a previdência social, o que compromete a arrecadação de uma futura aposentadoria, advertiu a Organização Internacional do Trabalho (OIT) nesta terça-feira (2).
"Há um aumento na incerteza em termos de mercado de trabalho" na América Latina, disse Guy Ryder, diretor-geral da OIT, na abertura da Reunião Regional Americana no Panamá.
Segundo Ryder, após 2014 a região entrou em um ciclo de desaceleração econômica em que o desemprego médio passou de 6,1% para 8,1% em 2017.
No primeiro semestre de 2018, a taxa de desemprego subiu para 8,8% e afetou pelo menos 26 milhões de pessoas, segundo a OIT.
"É improvável reverter a tendência negativa dos últimos anos. Estamos enfrentando uma situação de desemprego que se qualificaria como preocupante", disse Ryder na reunião, que vai até sexta-feira.
Além disso, segundo o representante da OIT, mais da metade dos trabalhadores (53%) na América Latina trabalha informalmente.
Com esse panorama, de acordo com a OIT, será um "verdadeiro desafio" atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de compromissos adotados em 2015 por 193 líderes mundiais para erradicar a pobreza e a desigualdade em 2030.
O diretor da OIT observou que houve algum progresso em termos de igualdade das mulheres no mercado de trabalho, mas a situação dos jovens é menos animadora, com 18% de desemprego juvenil na América Latina.
Segundo a OIT, 40% dos desempregados da região são jovens.
Um desafio na região é a proteção social dos trabalhadores, a maioria dos quais não contribui para a previdência social, o que compromete seu acesso à aposentadoria.
"É preciso reconhecer que na América Latina mais da metade dos trabalhadores, 55%, não contribuem para nenhum sistema de previdência social", alertou Ryder.
A OIT afirma que na América Latina quase 71% dos idosos recebem algum tipo de pensão, enquanto apenas 28,9% das pessoas em idade ativa contribuem.
Na América Latina, apenas Bolívia e Guiana têm cobertura de aposentadoria superior a 90%. São seguidos por Argentina, Chile, Uruguai, Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador, Costa Rica, Honduras e Belize.
A cobertura em México, Nicarágua, Panamá e Paraguai varia entre 20% e 49%, enquanto na Guatemala, em El Salvador e no Peru não chega a 20%.
A OIT reconhece que as reformas previdenciárias não produziram o efeito esperado de garantir o acesso universal às aposentadorias.
Alguns países que optaram por sistemas privados estão retornando aos modelos de pensão solidária e pública, de acordo com Ryder.
Ele defendeu uma "cobertura de nível suficiente para garantir um padrão de vida decente. Também temos que ampliar a cobertura do sistema de proteção social e isso tem muito a ver com o desafio da informalidade".
A OIT pediu para os governos da região promoverem negociações coletivas entre organizações sindicais e empresariais.
"Há um déficit de diálogo social nas Américas, cada país tem suas particularidades, mas a consolidação contínua dos processos de diálogo social continua sendo uma questão pendente", afirmou Ryder.
Ryder ainda pediu para os países latino-americanos facilitarem o acesso ao mercado de trabalho a milhares de venezuelanos que abandonaram seu país, em meio a uma crise política e econômica.
"Temos que buscar a forma de criar a possibilidade" de que os venezuelanos migrantes possam "ter acesso aos mercados de trabalho", disse Ryder.
Contudo, reconheceu que isso "não é uma coisa fácil" devido ao discurso populista atual contra a migração em muitos países.