Investidores estrangeiros apostam na bolsa brasileira

No acumulado do ano, a entrada de recursos de fora na Bovespa soma cerca de R$ 17 bilhões
Carolina Sá Leitão
Publicado em 24/08/2014 às 9:37


Há quem diga que os estrangeiros apostaram alto na bolsa de valores brasileira porque acreditam em uma eventual vitória da oposição nas eleições presidenciais. James Gulbrandsen, sócio da NCH Capital, gestora especializada em mercados emergentes e com sede em Nova York, não acredita nessa tese. Para ele, a razão de os estrangeiros investirem no Brasil é a crença de que o pior já passou para a economia brasileira. "Independentemente de quem vencer as eleições, a tendência é que a economia melhore. Qualquer candidato vai implementar mudanças", avalia o gestor. 

O sócio da NCH Capital diz que os fundos que estão nos mercados emergentes ainda estão "muito underweight" em Brasil, na comparação com o México, determinados países da América Latina e a Ásia. "Essa tendência vai se reverter ao longo dos próximos anos", opina. "Até porque agora Ásia e México estão super caros" diz.

Há cerca de dois anos a três anos, os investidores estrangeiros estavam vendidos em Brasil e a visão em relação ao País era "bem pessimista", relata Gulbrandsen. Mas desde fevereiro, esse jogo virou. Esses investidores passaram a investir de forma maciça na bolsa de valores brasileira. No acumulado do ano, a entrada de recursos de fora na Bovespa soma cerca de R$ 17 bilhões.

Questionado se o ingresso de capital externo no Brasil também está relacionado à piora do cenário em outros países emergentes, como Rússia e Argentina, Gulbrandsen disse não acreditar nisso. "Os mercados russo e argentino são pequenos, na comparação com o Brasil. O impacto na Bovespa não se explica apenas por isso", diz. 

A NCH possui nove escritórios no mundo, sendo oito no Leste Europeu. A NCH tem dois fundos locais e um fundo Offshore com estratégia Latam (Chile, Peru, México e Colômbia). 

Sergio Goldman, sócio da Maximizar Gestão de Patrimônio, contraria a visão de Gulbrandsen, ao afirmar que não acredita que os estrangeiros no geral estejam tão otimistas com o Brasil. Ele admite, porém, que gestores locais têm se mostrado mais pessimistas que os investidores do exterior. "Pode ser que parte dos estrangeiros acredite que a situação do Brasil não é tão ruim quanto em outros países", avalia Goldman. 

A dúvida do mercado agora é se os estrangeiros continuarão a apostar em Brasil, vão manter os recursos na bolsa de valores, ou se em determinado momento, deixarão o País. Ao fim de julho, o UBS publicou um relatório no qual seus estrategistas, Geoff Dennis e Howard Park, recomendaram que investidores vendessem ações do Brasil naquele momento. 

Os estrategistas lembram que a bolsa do Brasil teve um forte rali desde março, se descolando dos mercados emergentes. Mas explicam que o câmbio era responsável por boa parte do rali. Esse avanço, combinado com os ganhos das empresas em queda, levou a uma preocupação quanto ao valuation das ações.

O relatório citava algumas dúvidas quanto a reformas estruturais esperadas pelo mercado: Quais reformas podem ser implementadas? Quanta dificuldade econômica o País enfrentará no curto prazo? "O foco da principal reforma é a política econômica e um melhor desempenho de empresas estatais. Independentemente de quem vencer as eleições em outubro, o mandato das reformas deverá ser fraco", dizem os analistas.

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