O marketing das campanhas está pronto para a artilharia do segundo turno presidencial. A baixaria deverá fazer parte das discussões, mas os assuntos econômicos, finalmente, serão mais valorizados. Os candidatos Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) terão de se posicionar com mais clareza sobre temas como inflação, desemprego e juros, assuntos que dizem respeito diretamente ao dia a dia do brasileiro.
Os tucanos vão questionar o baixo crescimento econômico combinado com inflação alta que tende a reduzir os avanços de renda da população nos últimos anos. Petistas vão questionar o modelo de Estado mínimo com as privatizações, defendendo as conquistas sociais implementadas nos seus 12 anos de governo.
Para os especialistas, no entanto, a discussão econômica encontra uma barreira no entendimento do eleitor, já que muitos dos assuntos são de difícil compreensão. “A questão da economia já está no centro das discussões. Não do debate, mas do noticiário”, pondera o cientista político Túlio Velho Barreiro. Apesar disso, ele diz que a carga do PT vai ser toda na comparação da administração petista contra os oito anos do ex-presidente Fernando Henrique.
Para o professor da UFPE, Adriano Oliveira, só existem duas opções neste debate: corrupção ou economia. Neste segundo caso, avalia, “há consensos como os relacionados ao combate à inflação, a preservação dos programas sociais e enfraquecimento do crescimento econômico.
Para o economista Jorge Jatobá, da Ceplan, a discussão econômica vai surgir, mas vai atingir pouco o eleitor, principalmente pelo baixo nível de educação da população e por uma questão prática de tempo. “O Brasil entrou em recessão técnica [a economia caiu 0,2% e 0,6% em dois trimestres este ano]. A questão é que o problema do desemprego ainda não passou pela porta”, diz. “O mercado de trabalho dá sinais claros de crise. A taxa de geração de empregos [PELO CAGED]cai há 12 meses. Ainda não houve desemprego porque a indústria espera o resultados das eleições, pois demitir tem custos”, completa.
Jatobá avalia que Dilma tem vantagem nas regiões mais pobres por causa dos programas sociais e de melhoria de renda do salário mínimo, mas que o modelo de crescimento pelo consumo já chegou no limite e que agora é hora de mudar o motor de crescimento para o lado do investimento, o que de certa forma a atual administração começou nos últimos dois anos. Com as empresas perdendo o medo e voltando a investir, a oferta de emprego seria ampliada.
Para voltar o investimento privado é necessário criar expectativa positiva, que se ganha reduzindo inflação e melhorando os gastos públicos. “Não tem remédio doce para controlar inflação. São juros altos e menos crédito para conter a demanda agregada (consumo) e corte de gastos públicos.” Por isso, acredita, a oposição terá dificuldade em dizer que terá de tomar ajustes amargos. “Com Aécio esses ajustes seriam mais rápidos. Com Dilma, o ajuste será gradual, mas eu desconfio que não trará resultados, já que as empresas precisam de expectativas positivas para voltar a investir”.