Atualizada às 12h46
Passageiros descendo dos taxis a mais de dois quilômetros do aeroporto e levando as malas nas costas, muito bate-boca, irritação e atrasos marcaram a manhã de tumulto no Aeroporto Internacional de Brasília devido a uma manifestação de aeroviários por ganhos salariais e melhoria nas condições de trabalho.
De acordo com a Inframérica, empresa que administra o terminal, 12 dos 94 voos previstos para decolar entre as 6h e 10h da manhã de hoje (22) atrasaram. Um voo foi cancelado mas, segundo a concessionária, o cancelamento foi programado e não teve relação com a manifestação.
Desde às 8h da manhã, o saguão do aeroporto de Brasília ficou tumultuado devido a manifestação. Acompanhado de dois filho, um aposentado que preferiu não se identificar estava inconformado com o ato dos aeroviários. “Eles não podem impedir o nosso direito de ir e vir. É um absurdo”, reclamou. Por conta da manifestação, ele e os filho perderam o voo no qual iriam para a Bahia. A companhia aérea se comprometeu a realocar o grupo em outro voo, até o final do dia.
Já a servidora pública Hildegard Farias disse à Agência Brasil compreender o momento escolhido pelos aeroviários para protestarem por melhores salários. “Se não for nessa época, eles não são ouvidos. Desde que não atrapalhem o aeroporto a ponto de cancelar voos, eles podem se manifestar. Apenas atrasar, não vejo problema”, minimizou. Acompanhada da filha, a servidora disse que se programou para chegar mais cedo ao aeroporto prevendo que poderia haver dificuldade por conta da grande movimentação nesta época do ano.
“Meu voo é a 11h e sai de casa das 7h. Infelizmente, tivemos dificuldade com o trânsito e estamos chegando agora, por volta das 9h”, contou. Em vários momentos da manhã, passageiros na fila de check-in vaiaram o ato dos sindicalistas. Houve empurra-empurra e a polícia militar interveio em momentos de maior agitação dos ânimos.
Com microfones e caixas de som, os sindicalistas tentavam, em vão, explicar aos passageiros prestes a embarcar os motivos da manifestação. Por volta do meio dia, os sindicalista, que tiveram apoio de integrantes do Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra, deixaram o terminal principal do Aeroporto de Brasília e se deslocaram para o Terminal 2. No trajeto, os sindicalistas discutiram com policiais militares, que tentaram dispersar os manifestantes com spray de pimenta.
De acordo com o presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários (SNA) e diretor da Federação Nacional dos Trabahladores em Aviação Civil (Fentac), Luiz Pará, a manifestação surpresa é resultado “da intransigência” do Sindicado das Empresas Aéreas (Snea), que representa as companhias aéreas
“Nosso dissídio coletivo é em dezembro e entregamos nossa pauta de reivindicações em setembro e até hoje não tivemos avanços. A mesa patronal não quer negociar e estamos fazendo esse ato pacífico. Oferecer 6% [de reajuste] é uma covardia e atribuímos esses transtornos aos representantes das companhias aéreas e pedimos desculpas aos passageiros”, disse Pará.
Além de reajuste do piso salarial de diversos segmentos dos trabalhadores aeroviários em 11%, os sindicalistas reivindicam criação do piso para agente de check-in, seguro de vida no valor de R$ 20 mil, fornecimento de cosméticos quando exigido pela empresa, cesta básica de R$ 326,67.
Luiz Pará não descartou novos protestos caso não haja uma contraproposta das empresas. "Nossa próxima reunião é no dia 7 de janeiro, mas se não houver avanço [nas negociações] vamos ver quais aeroportos podemos parar. Pode ser Galeão, Guarulhos, Fortaleza ou até o de Brasília novamente”, ameaçou.
Segundo a Inframérica, o Aeroporto de Brasília deve receber 117 mil passageiros nos dias 22 e 23 de dezembro, um aumento de 7% na comparação com mesmo período do ano passado. Nestas datas estão programados 1.014 voos comerciais entre pousos e decolagens. Por volta do meio dia, o movimento no terminal voltou a normalidade. A concessionária não informou se o atraso ocorrido na manhã de hoje impactará outros voos durante o dia.
Já a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou, por meio de nota, que o Tribunal Regional Federal da 1ª Região expediu hoje liminar determinando que aeronautas e aeroviários se abstenham de promover qualquer ação organizada que, direta ou indiretamente, interfira nas rotinas, condutas e protocolos estabelecidos e normalmente adotados nos aeroportos.
Ainda segundo a Anac, as companhias aéreas não são obrigadas por lei a realocar os passageiros que eventualmente tenham perdido o voo. No enanto, da mesma forma como ocorre em situações atípicas como chuvas e enchentes, as companhias têm realocado clientes sem ônus.