O fim da expansão do setor automobilístico, que vem ocorrendo nos últimos meses, motivará o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a dar ênfase aos financiamentos para as montadoras que apostem em projetos de reengenharia, inovação e criação de modelos, disse o chefe do Departamento de Indústria Metalmecânica e Mobilidade do BNDES, Haroldo Prates, em entrevista à Agência Brasil.
No entanto, ele ponderou que os investimentos para implantação de fábricas e ampliação da capacidade produtiva continuarão ocorrendo. Segundo Prates, os pedidos de empréstimo das montadoras para renovação da frota de veículos ocorrem com ou sem cenário de crise. “Se a empresa não modernizar o veículo que está vendendo, o consumidor vai comprar do concorrente”. Esse tipo de investimento e de financiamento do banco é algo mais perene. Não há relação direta com a demanda, mas mostra grande correlação com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma dos bens e serviços fabricados no país.
Segundo ele, o incentivo a novos projetos não é novidade, já que fazia parte da programação tradicional de financiamentos do banco. “De três em três anos, normalmente, a montadora troca o modelo. Esses projetos as empresas trabalham usualmente conosco na linha de financiamento”, disse.
Nos últimos anos, o BNDES deu destaque aos financiamentos de projetos que apresentavam a maior demanda do mercado, que eram as ampliações do parque de produção das montadoras e a aprovação de novas plantas automobilísticas. As aprovações de financiamentos do BNDES para o setor automotivo somaram R$ 3 bilhões em 2014, até novembro. O valor inclui projetos de ampliações, desenvolvimento de novos produtos e exportação. Desde 2008, empréstimos do banco para o setor somam R$ 45,6 bilhões.
Prates observou que o setor automotivo brasileiro passou nos últimos dez anos por grande crescimento. Em 2013, o país foi o quarto mercado mundial de automóveis, caindo no ano passado para a quinta posição. “Por conta do grande crescimento do Brasil, várias montadoras entraram com pedidos de expansão, alguns financiados pelo BNDES. Houve um ciclo de expansão de capacidade grande no Brasil”.
O gerente do departamento de Indústria Metalmecânica e Mobilidade do BNDES Bernardo Hauch lembrou que muitos investimentos feitos ao longo dos últimos quatro ou cinco anos visaram à construção de novas fábricas. “A gente percebeu que, mesmo com a queda recente [das vendas], nenhum desses investimentos foi paralisado ou descontinuado em função dessa queda de demanda. Na minha visão, é uma aposta no longo prazo”.
Os investimentos projetados para o setor automotivo entre 2015 e 2018 alcançam R$ 59 bilhões, mostrando estabilidade em relação aos R$ 58 bilhões projetados entre 2010 e 2013. “Não tem quedas substanciais no investimento”, comentou Hauch.
O BNDES considera os investimentos em reengenharia automotiva prioritários dentro da linha de inovação. Em termos de desembolsos, os investimentos do plano de engenharia são os mais relevantes apoiados historicamente pelo banco. Comparando o setor automotivo com outros setores da economia, observa-se que ele tem um perfil grande de inovação. “Em relação à receita, as empresas investem em pesquisa muito mais do que outros setores da economia”, disse Prates.
Bernardo Hauch completou que a indústria automotiva contribui para o investimento em inovação no país. Levantamento do BNDES apurou que o setor investiu cerca de um quarto do que toda a indústria investiu em inovação nos últimos anos. Hauch observou também que o perfil das empresas se alterou, com expansão do quadro de engenheiros acima do que havia nos últimos cinco anos. A quantidade relativa de engenheiros nos quadros das montadoras subiu de 3%, em 2008, para 4,3%, em 2012, com aumento de 53%, revela o estudo do BNDES. “Mostra uma mudança de perfil”. Com isso, muitas montadoras têm condições de projetar carros globais, com tecnologia nacional, reduzindo a dependência externa.
Haroldo Prates disse que isso fortalece também a cadeia de fornecedores nacional. “Em vez de trazer um modelo importado, que é feito lá fora, você faz um projeto aqui e ele vai trabalhar em conjunto com fornecedores locais”. Os recursos liberados pelo banco para pesquisa e desenvolvimento (P&D) e engenharia na indústria automotiva representam cerca de 25% do total desembolsado para inovação no acumulado 2008/2013.