Após o tombo de mais de 1% na véspera, as ações da Petrobras voltaram a desabar nesta terça-feira (19), com investidores ainda demonstrando cautela com o nível de endividamento da companhia e o cenário para os próximos meses, apesar de o lucro registrado no primeiro trimestre deste ano ter surpreendido positivamente.
As ações preferenciais da estatal, sem direito a voto, tiveram desvalorização de 6,31%, para R$ 12,91 cada uma. Os papéis ordinários, com direito a voto, recuaram 6,08%, para R$ 13,75. O desempenho ajudou a empurrar o principal índice da Bolsa brasileira para baixo. O Ibovespa cedeu 1,26%, para 55.498 pontos. O volume financeiro foi de R$ 6,8 bilhões.
Nos três primeiros meses de 2015, a Petrobras registrou lucro de R$ 5,33 bilhões -acima da expectativa de cerca de R$ 2,5 bilhões. Mesmo assim, o banco americano Goldman Sachs revisou na véspera sua recomendação para o ADR (recibo de ação negociado em Nova York) da estatal de neutra para venda. Outras instituições também revisaram suas premissas após o balanço.
"O nível de endividamento da Petrobras é bastante delicado, o que reitera o risco de ela perder o grau de investimento. Se isso acontecer, ela teria dificuldade para realizar as emissões de títulos que pretende fazer, as quais ficariam mais caras", disse Carlos Müller, analista-chefe da Geral Investimentos.
"Não achei que [a queda das ações da Petrobras] fosse ser tão forte. É reflexo da incerteza sobre o endividamento e também é reflexo da recente valorização dos papéis da estatal, que estimula uma realização de lucros (quando investidores vendem ações compradas por um preço menor que o atual para embolsar a diferença)", acrescentou Müller.
Na última segunda-feira (18), a estatal apresentou dados de produção em abril. A produção média de óleo e LGN (líquido de gás natural), no Brasil, somou 2.134 boe (barris de óleo equivalente) por dia, expansão de 10,4% na comparação de doze meses e avanço de 1,2% em relação ao mês imediatamente anterior.
"A média apresentada até o momento fica dentro do esperado pela companhia para o exercício, o que consideramos favorável. Resta monitorar se esta foi uma reversão de tendência, o que seria favorável, ou se trata-se de um período fora da curva, por conta da redução de paradas programadas. Por ora, seguimos com visão cautelosa em relação aos ativos [da Petrobras]", escreveu a analista Karina Freitas, da Concórdia, em relatório.
NO VERMELHO
As ações preferenciais da Vale também pressionaram o Ibovespa nesta sessão. Após caírem mais de 1% ao longo do dia, elas fecharam em baixa de 0,53%, para R$ 16,89 cada uma. Os papéis continuam sendo influenciados pela queda nos preços do minério de ferro no mercado à vista chinês, uma vez que a China é o principal destino das exportações da mineradora brasileira.
Os bancos, setor com maior peso dentro do Ibovespa, encerraram o pregão no vermelho. O Itaú caiu 1,41%, para R$ 37,16, enquanto o papel preferencial do Bradesco mostrou desvalorização de 1,46%, para R$ 31,03. Já o Banco do Brasil recuou 2,96%, para R$ 25,27.
A agenda negativa colaborou para o mau humor do mercado nesta terça (19). O emprego na indústria teve queda de 4,6% no primeiro trimestre de 2015 em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o IBGE. É a maior queda para um primeiro trimestre desde o início da série história do IBGE, iniciada em dezembro de 2000.
JURO AMERICANO
Segundo analistas, o mercado também segue apreensivo à espera da ata da última reunião do Fomc (comitê de política monetária do banco central dos Estados Unidos), prevista para esta quarta-feira (20). As atenções se voltam para possíveis sinalizações sobre quando a autoridade monetária americana pretende começar a subir a taxa de juros daquele país.
Além de impactar a Bolsa, a expectativa pela ata do Fomc também refletiu no mercado de câmbio nesta terça (19). O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 0,22% sobre o real, cotado em R$ 3,019 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,72%, para R$ 3,041.
A agenda de indicadores dos EUA ampliou ainda mais as especulações sobre os juros americanos. Nesta terça (19), foi divulgado que o número de início de construções de novas moradias na maior economia do mundo saltou em abril à máxima em quase sete anos e meio, elevando novamente os rendimentos dos títulos do Tesouro americano.
"Quando o Fomc sinalizar que o movimento de alta de juros está se aproximando, teremos uma realização nas Bolsas americanas e na Bovespa também. E o dólar deve se valorizar. Como os indicadores dos EUA têm vindo mistos, há dúvida se de fato a economia daquele país está em alta sustentável ou ainda não", afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
Uma alta do juro americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA -que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes, provocando uma saída de recursos dessas economias. A menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima.
A Fed Funds Rate (taxa de juro americana) está em seu menor patamar histórico desde 2008, entre 0% e 0,25%, numa medida do Fed para tentar amenizar os efeitos negativos da crise financeira.
INTERVENÇÕES
Internamente, o mercado opera de olho na aprovação das medidas de ajuste fiscal e nas atuações do Banco Central do Brasil no câmbio.
Nesta terça (19), a autoridade monetária brasileira rolou para 2016 os vencimentos de 8,1 mil contratos que estão previstos para o início de junho, em um leilão que movimentou US$ 394,2 milhões. A operação é equivalente à venda futura de dólares.
Se mantiver esse ritmo até o final de maio, o BC rolará apenas 80% do lote total de contratos de swap com vencimento no início do próximo mês, que corresponde a US$ 9,656 bilhões. Nos meses anteriores, a rolagem estava sendo de 100% dos contratos.