Risco de perder usinas e crise fazem valor da Cemig voltar aos níveis de 2005

Sem as três unidades geradoras, a estatal mineira deve amargar queda de rentabilidade e reduzir a distribuição de dividendos
Do Estadão Conteúdo
Publicado em 05/09/2015 às 10:55
Sem as três unidades geradoras, a estatal mineira deve amargar queda de rentabilidade e reduzir a distribuição de dividendos Foto: Foto: Divulgação


O valor de mercado da estatal mineira Cemig atingiu nesta semana o mais baixo patamar desde 2005. A companhia, que valia mais de R$ 30 bilhões três anos atrás, hoje está avaliada em menos de R$ 10 bilhões, pressionada pela possibilidade de perder o controle de algumas de suas principais usinas hidrelétricas. O viés político que passou a contaminar a trajetória das ações desde antes da eleição do governador mineiro Fernando Pimentel (PT) e a ainda delicada situação do setor elétrico nacional também contribuíram para a avaliação menos favorável da companhia. 

Na terça-feira (1), o valor de mercado da Cemig atingiu a marca de R$ 9,311 bilhões, o menor patamar desde o dia 29 de março de 2005, quando a empresa foi avaliada em R$ 8,956 bilhões. Apenas neste ano, as ações já se desvalorizaram mais de 40%. 

A trajetória gradativa de desvalorização das ações se acentuou a partir do final do primeiro semestre, após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinar que a Cemig não teria direito à renovação do contrato de concessão da usina hidrelétrica Jaguara. Diante da decisão, o mercado financeiro passou a precificar não apenas o fim da concessão dessa usina, mas também o das usinas de São Simão e Miranda. 

Sem as três unidades geradoras, a estatal mineira deve amargar queda de rentabilidade e, consequentemente, reduzir a distribuição de dividendos. Para evitar esse cenário adverso, o presidente da estatal Mauro Borges, indicado por Pimentel, negocia com o governo federal com o objetivo de manter o controle sobre as três usinas. 

 

Reembolso

 

Caso não obtenha êxito nessas negociações, a Cemig corre ainda outro risco. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) poderia determinar que a estatal mineira devolvesse à União montante equivalente à receita obtida com a venda da energia gerada pelas usinas de Jaguara e São Simão desde o fim das concessões. Esse valor, segundo a Guide Investimentos, pode somar entre R$ 2,5 bilhões e R$ 4,5 bilhões. O Credit Suisse já prevê um valor maior, de R$ 4,7 bilhões. 

"A perda (das concessões) já está parcialmente precificada. A questão que resta é se ela precisará fazer o reembolso ou não para a União. Não dá para saber qual será o futuro da Cemig sem saber como serão decididas as questões pendentes", pontua o analista da Guide Investimentos, Rafael Ohmachi. 

Mas a questão política associada ao futuro das concessões vencidas não é o único problema a ser superado pela Cemig. O volume de água dos reservatórios obrigou o Operador Nacional do Sistema (ONS) elétrico a reduzir a geração das hidrelétricas, o que ocasionou um déficit de geração hídrica (GSF) maior e, consequentemente, maiores despesas por parte das geradoras com a compra de energia. 

A área de distribuição da Cemig, por sua vez, foi afetada pela redução do consumo. No segundo trimestre deste ano, a venda de energia para consumidores finais alcançou 11.305 GWh, queda de 7 58% em relação ao mesmo período de 2014. 

 

Ações

 

Nos últimos dias, as ações da Cemig ainda têm sofrido pressão adicional em função de duas notícias relacionadas ao mercado acionário. A primeira foi a aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de um ato de concentração entre BNDES Participações (BNDESPar), Cemig e AGC Energia, subsidiária da Andrade Gutierrez com participação societária na Cemig. 

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