Intervir no câmbio evita fuga de dólar e quebradeira de empresas, diz BC

De acordo com o BC, 80% dos mais de US$ 100 bilhões em contratos de câmbio estão nas mãos de empresas que têm dívidas ou custos atrelados à moeda estrangeira
Da Folhapress
Publicado em 15/09/2015 às 16:37
De acordo com o BC, 80% dos mais de US$ 100 bilhões em contratos de câmbio estão nas mãos de empresas que têm dívidas ou custos atrelados à moeda estrangeira Foto: Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil


As intervenções do Banco Central no câmbio evitam que haja fuga de capitais e uma quebradeira de empresas por causa da alta do dólar. A afirmação foi feita pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, em audiência pública no Senado nesta terça-feira (15).

De acordo com o BC, 80% dos mais de US$ 100 bilhões em contratos de câmbio (swap) estão nas mãos de empresas que têm dívidas ou custos atrelados à moeda estrangeira e de investidores estrangeiros com recursos no Brasil (e que buscam proteção não ter de deixar o país). Os outros 20% estão com fundos de investimento no Brasil.

"Poderíamos ter uma quebradeira no setor privado. Vimos isso em 2008 e em outras crises", afirmou. "Teríamos fuga de capitais e um setor privado quebrado."

Tombini disse que a instituição nunca teve como objetivo segurar as cotações, que inclusive subiram nesse período, apesar de ver "alguns exageros aqui e acolá" nesse mercado.

O presidente do BC disse que o programa de intervenções foi lançado em 2013, quando os EUA começaram a retirar estímulos da economia, e que esse estoque será importante neste momento, em que se está às vésperas de um aumento de juros naquele país.

CRÍTICAS DO PT

O presidente do BC afirmou que a taxa básica de juros só deverá cair quando a inflação recuar "de fato" e quando as expectativas para o índice de preços estiverem "ancoradas".

"Essa taxa de juros é uma taxa de passagem. Não são taxas de médio e longo prazo para o Brasil", afirmou, se referindo ao patamar de 14,25% ao ano.

Segundo ele, não há voluntarismo do BC que baixe a taxa de juros de mercado, que passou de 13% no final de julho para 15% nas últimas semanas (juros para o período entre três e sete anos), sem que o BC tivesse alterado a taxa básica.

Essa alta foi influenciada por fatores como risco país e incertezas, segundo o BC. Tombini disse que, se a instituição cortasse hoje a taxa para 7%, os juros de mercado explodiriam.

A política de juros do BC foi criticada, durante a audiência, pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que apesar de ser da base do governo tem adotado postura crítica ao ajuste nas contas públicas.

O senador também criticou o uso do swap cambial, que gerou um custo extra de quase R$ 90 bilhões para a dívida pública neste ano.

"Como é que esse ajuste fiscal vai dar certo? A verdade é que a política monetária do BC destruiu qualquer esforço fiscal sério no país. Valeu a pena gastar R$ 84 bilhões em swaps cambiais?" questionou o senador.

O senador José Serra (PSDB-SP) afirmou que a política monetária contribuiu para aprofundar os desequilíbrios da economia brasileira e não para corrigi-los. Disse ainda que o BC foi conivente com a política de contenção de preços de tarifas e do câmbio antes da eleição do ano passado. O senador também criticou o uso do swap, ao invés das reservas em moeda estrangeira, nas intervenções no câmbio.

Em resposta ao senadores, o presidente do BC afirmou que não se pode colocar os juros artificialmente "onde a gente acha interessante", pois o mercado verá aumento de riscos e cobrará mais caro para financiar o governo.

Disse ainda que a instituição precisa segurar a inflação para preservar o poder de compra dos salários.

Em relação a usar contratos de swap ao invés de vender reservas, Tombini afirmou que o mercado de derivativos (mercado futuro) de câmbio é dez vezes o valor negociado no mercado à vista e que é neste segmento que está a maior demanda por proteção.

"A ação [do BC] praticamente acontece na parte maior do mercado, que é o de derivativos. Em alguns momentos vemos mau funcionamento do mercado à vista. Agora, fizemos uma operação e podemos fazer outras de empréstimos [de dólar das reservas]", disse Tombini.

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