Com incertezas políticas, dólar fecha em alta e volta a R$ 4

A vigilância do BC aos movimentos do câmbio tem gerado dúvidas se a autoridade poderá atuar vendendo dólares no mercado à vista
Da Folhapress
Publicado em 01/10/2015 às 21:40
A vigilância do BC aos movimentos do câmbio tem gerado dúvidas se a autoridade poderá atuar vendendo dólares no mercado à vista Foto: Foto: Marcos Santos/ USP Imagens


O cenário político voltou a empurrar o dólar para cima nesta quinta-feira (1º), depois do alívio na sessão anterior. O adiamento da avaliação dos vetos à chamada pauta-bomba pelo Congresso, a expectativa sobre a reforma ministerial e o avanço das investigações de políticos envolvidos na Lava Jato ampliaram o ceticismo sobre a aprovação de medidas fiscais e provocaram alta nos juros futuros.

Após ter começado o dia em queda, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, inverteu a tendência ainda pela manhã e fechou o dia com valorização de 1,24% sobre o real, para R$ 4,006 na venda. Já o dólar comercial, utilizado no comércio exterior, avançou 1%, a R$ 4,004.

"A reforma ministerial e as notícias em relação à investigação de Eduardo Cunha [presidente da Câmara dos Deputados] na Suíça deixaram o mercado em alerta, em compasso de espera. Ele é um dos principais críticos ao governo", disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

A avaliação de analistas ouvidos pela reportagem é que, apesar do esforço demonstrado pela presidente Dilma Rousseff para dar mais espaço ao PMDB no comando de ministérios, as investigações de políticos da oposição podem complicar a negociação do governo com o Congresso.

O impasse amplia a chance de o país ter sua nota de crédito cortada por outra agência de classificação de risco além da Standard & Poor's, que retirou no mês passado o selo de bom pagador que atribuía ao Brasil.

Na véspera, Dilma informou à cúpula do PMDB que decidiu trocar o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) por Jaques Wagner (Defesa). Para Celson Plácido, analista da XP Investimentos, a reforma ministerial é uma "clara sinalização ao PMDB de que [a presidente Dilma] está mesmo disposta a sacrificar o PT para obter apoio no Congresso".

ATUAÇÕES E JUROS

O Banco Central iniciou nesta sessão seus leilões diários para estender os vencimentos de contratos de swaps cambiais que estão previstos para o próximo mês. A operação, que equivale a uma venda futura de dólares, movimentou US$ 510,9 milhões.

A vigilância do BC aos movimentos do câmbio tem gerado dúvidas se a autoridade poderá atuar vendendo dólares no mercado à vista, caso a cotação da moeda volte a disparar com novas especulações, como ocorreu na semana passada, quando chegou a atingir máxima de R$ 4,249.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, já afirmou que a autoridade poderá utilizar reservas internacionais para intervir no mercado. A avaliação de analistas consultados pela repirtagem, porém, é de que a probabilidade de o BC atuar no mercado à vista, por ora, é baixa.

"A última vez que ele fez isso foi há cinco anos. Se o BC atuar no mercado à vista, poderia passar a imagem de fraqueza ou descontrole ao sucumbir às especulações do mercado. Por isso que ele não deve abrir a guarda", afirmou Galhardo, da Treviso.

Em conjunto com as atuações do BC no câmbio, o Tesouro também tem promovido leilões extras de compra e venda de títulos públicos para tentar conter a volatilidade do mercado de juros. Nesta quinta-feira, o contrato de DI futuro para janeiro de 2016 subiu de 14,615% para 14,670%, enquanto o DI para janeiro de 2021 apontou taxa de 15,620%, ante 15,600% na véspera.

VALE SUSTENTA BOLSA

O principal índice da Bolsa brasileira atravessou um dia instável, mas fechou esta quinta-feira em alta, influenciado pelo bom desempenho das ações da mineradora Vale. O Ibovespa teve alta de 0,56%, para 45.313 pontos.

O movimento foi influenciado pelas ações preferenciais da Vale, que registraram valorização de 4,50%, para R$ 13,92 cada uma. Já os papéis ordinários da companhia tiveram ganho de 3,86%, para R$ 17,22. Os preços do minério de ferro negociados na China -principal destino das exportações da mineradora brasileira- tiveram leve alta nesta sessão, na esteira de indicadores econômicos positivos na segunda maior economia do mundo.

Ações com grande peso dentro do Ibovespa também fecharam no azul e ajudaram a sustentar o ganho do índice. É o caso da fabricante de bebidas Ambev (1,44%) e dos bancos Itaú (1,40%) e Bradesco (1,35%).

Em sentido oposto, as ações preferenciais da Petrobras (mais negociadas e sem direito a voto) recuaram 3,04%, para R$ 7,02 cada uma, devolvendo parte da forte alta de mais de 9% registrada na véspera, quando os papéis refletiram positivamente o reajuste nos preços dos combustíveis anunciado pela companhia nesta semana. As ações ordinárias, com direito a voto, cederam 1,99%, a R$ 8,37.

Os papéis da Marfrig lideraram as quedas do Ibovespa. A baixa é reflexo da terceira fase da Operação Acrônimo da Polícia Federal, que apura desvios em campanha do PT em Minas Gerais. A sede da Marfrig está entre os alvos da Operação.

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