Em evento realizado pelo Banco Central, o novo presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, afirmou nesta quarta-feira (4) que a taxa de juros no Brasil é "pornográfica".
A afirmação foi feita diante de praticamente toda a diretoria do BC, que é responsável por fixar a taxa básica de juros (Selic) no Brasil, hoje em 14,25% ao ano.
Uma das ausências no evento foi a do presidente do BC, Alexandre Tombini, que desmarcou de última hora sua participação na abertura do Fórum de Cidadania Financeira.
"A taxa de juros hoje, eu tenho dito que ela é pornográfica. Entre a taxa básica e a taxa de ponta, tem uma cadeia alimentar imensa", afirmou Afif, que deixou no mês passado o ministério das micro e pequenas empresas, extinto na reforma ministerial.
Taxa básica de juros (Selic)
"Eu queria dizer aos meus amigos do BC que nós temos uma distância muito grande a percorrer para o crédito chegar na ponta. Pena que meu amigo, o nosso presidente [Tombini], não está aqui presente hoje."
O presidente do Sebrae, cargo no qual foi empossado na semana passada, cobrou ainda do BC e do Ministério da Fazenda a adoção de uma proposta apresentada no início do ano para liberação de recursos dos depósitos compulsórios. O dinheiro seria direcionado obrigatoriamente ao crédito para capital de giro de pequenas empresas.
"A micro e pequena empresa precisa de oxigênio para atravessar este momento de crise. Ela ainda sustenta o emprego, com saldo positivo de 109 mil vagas criadas."
Pela proposta, seriam liberados R$ 40 bilhões para crédito a essas empresas. Segundo ele, a resposta recebida do BC foi um "estrondoso silêncio".
Questionado sobre o papel do BNDES no financiamento às empresas de menor porte, Afif disse que o banco estatal só libera dinheiro para empresas que estão acima do limite do Simples (R$ 3,6 milhões).
Ele disse ter questionado o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, sobre os empréstimos a companhias com faturamento abaixo desse valor e recebido a resposta de que o banco estava com dificuldade de achar o dado.
Segundo Afif, o número não existe. "Ele só empresa para os maiores entre os pequenos. É uma taxa favorecida, mas para muito poucos."
Sobre o projeto que amplia o limite de Simples para R$ 7,2 milhões, aprovado em setembro pela Câmara e que tramita no Senado, o presidente do Sebrae disse acreditar na sua aprovação. E voltou a criticar a Receita Federal, que é contra.
"A Receita vai enfiar a faca onde ela puder enfiar. É uma visão restrita, fiscalista."