O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, admitiu pela primeira vez oficialmente que terá de escrever a carta aberta ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por deixar a inflação superar o teto de 6,5% este ano, descumprindo, assim, as regras do sistema de meta de inflação. "O regime de metas vem sendo cumprido de 2011 e 2014, nos últimos quatro anos", afirmou durante café da manhã nesta quinta-feira (17), com jornalistas, na sede do BC.
O presidente ressaltou que a meta de inflação de 2015 é de 4,5%, mas que o mercado financeiro (Focus) projeta taxa de 10,61% para o ano. Ele lembrou que o regime de metas contempla o que deve ser feito pelo BC em caso de descumprimento: escrever a carta aberta.
Nesse documento, o BC precisa explicar as razões de a meta não ter sido atingida, mas medidas que serão tomadas e em que prazo isso se dará.
"Já adiantamos que o grande ajuste de preços relativos fez isso, e não há política monetária que compense choques dessa magnitude", afirmou. As razões, portanto, que estarão na carta, de acordo com o presidente, estão relacionadas com esses choques (em especial administrados e câmbio).
Tombini lembrou que, até outubro, o horizonte para a convergência da inflação para a meta trabalhada pelo BC era 2016, mas que depois disso passou a dizer que a convergência pra 4,5% passou a ser 2017. "É isso o que vamos perseguir", afirmou.
Para o ano que vem, o presidente disse que o BC terá de usar as regras de tolerância estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), ou seja usar a banda de 2 pontos porcentuais para entregar a inflação. "Vamos perseguir convergência para 4,5% em 2017 e cumprir objetivo do regime em 2016", resumiu.
Rebaixamento
Menos de 24 horas depois da retirada do grau de investimento do Brasil pela Fitch, o presidente do Banco Central assegurou que o primeiro impacto da decisão na evolução dos fluxos de capitais para o País tem sido recebido com um "muita tranquilidade" pelos mercados. Tombini informou que o BC está monitorando em tempo real a movimentação dos fluxos de capitais.
Pela primeira vez, o presidente do BC admitiu que a perda do grau de investimento pela segunda agência já era esperada. "Essas coisas não aconteceram da noite para o dia. Havia um sentimento que isso poderia acontecer. Os mercados já estavam se preparando para esse possibilidade", afirmou.
Ele indicou que a desvalorização do real de mais de 30% tornaram os investimentos mais baratos para estrangeiros e nacionais. Lembrou que a entrada líquida de dólares está em US$ 10 bilhões no País este ano, o que é positivo nas atuais circunstâncias. "Não estamos vendo um grande impacto", disse Tombini. Ele ressaltou que a previsão de ingresso de investimento estrangeiro direto é de US$ 65 bilhões.