'São cinco anos de atraso', afirma piloto comercial

Wesley Morais desistiu da profissão e se mudou para Massachusetts em busca de emprego
Do Estadão Conteúdo
Publicado em 10/01/2016 às 10:50
Wesley Morais desistiu da profissão e se mudou para Massachusetts em busca de emprego Foto: Foto: USP Imagens


O piloto comercial Wesley Morais não foi a Massachusetts no início do ano para estudar Aeronáutica no renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT), mas para lavar pratos, pintar cercas e consertar caminhões. Ele é um dos brasileiros que, a fim de escapar da crise, abriram mão de suas profissões e de seu País em busca de emprego.

"Meus clientes não estavam tendo dinheiro para me pagar", conta o piloto de 24 anos, que voava para um advogado. "Depois das eleições, veio a devastação." Os pequenos empresários, afirma, logo cortaram custos, e os voos minguaram. 

Assim que chegou aos EUA, Wesley, formado pela PUC-GO havia um ano e meio, conseguiu um emprego na cozinha de um restaurante, lavando louças: 30 dias por mês, 12 horas por dia. Porém, o jovem de Minaçu (GO) ficou aliviado ao perceber que poderia se manter em Boston e ainda pagar o que resta do financiamento de seu curso superior, já que o bacharelado em Ciências Aeronáuticas foi 100% bancado pelo Financiamento Estudantil (Fies). "Sem exigência de qualificação, já estava ganhando praticamente o que eu ganhava aí no Brasil formado", afirma Morais sobre o primeiro trabalho nos EUA. 

Em cerca de seis meses, Wesley viu seu salário engordar bastante. Agora, quase um ano depois, trabalha em uma oficina que personaliza caminhões clássicos. Ele também encontra tempo para um curso técnico de carpintaria. O piloto comercial, que envia dinheiro para a família todo mês, almeja um emprego na construção civil.

Sem folgas, não reclama de cansaço: "São cinco anos de atraso", afirma, referindo-se ao período em que ficou estudando e fazendo cursos. "Não dá para descansar, mas não pode ficar parado. Ninguém espera por ninguém aqui."

A HISTÓRIA SE REPETE

Luís Fernando Azevedo, de 25 anos, é um dos formados da turma de Direito da PUC-GO do segundo semestre de 2014. Completou um ano de graduado do seu "curso dos sonhos". Mas já desistiu de seguir carreira. "Meu sonho mesmo era ser juiz, mas as coisas não fluíram para isso", conta o advogado, que morava em Goiânia e chegou aos EUA em 12 de agosto. Luís já conhecia o piloto Wesley Morais, que havia trocado Goiás pelos EUA. E foi Wesley que foi dando informações a ele de como estava o "sonho americano". Seis meses depois de Wesley, Luís saiu de Goiânia e desembarcou em Boston. "Ele me falou: ‘aqui é tranquilo, tem trabalho, não precisa se preocupar. O ruim é só a neve’", lembra o advogado, que já trabalhou na Procuradoria Geral do Estado de Goiás.

Nos primeiros três meses, já mudou de cidade três vezes - sempre no Estado de Massachusetts. Lavou pratos e pintou casas, mas agora, no inverno, limpa colégios e entrega pizzas. "O que eu ganho em uma semana aqui eu ganhava em um mês no Brasil", afirma. "Pelas circunstâncias em que o Brasil está hoje, é impossível, é fora de cogitação você continuar batendo na mesma tecla, tentando viver em um País que não te faz crescer, que não te dá abertura. Depois desse escarcéu de um ano para cá, o Brasil está ficando para trás".

Luís não faz ideia de quando voltará ao País. Enquanto isso, junta dinheiro da limpeza de escolas e das entregas de pizza e manda parte dos rendimentos para a família regularmente.  Ele reconhece também as dificuldades: conta que penou para receber salários de um patrão brasileiro. Mas ele diz não se abalar. "Tem hora que bate um aperto de lembrar que deixei tudo para trás e estou aqui hoje. Mas é impossível voltar agora", conta o advogado.

 

TAGS
salário emprego comercial
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory