Os investimentos da Petrobras somaram R$ 76,315 bilhões em 2015, 12% inferior aos R$ 87,140 bilhões desembolsados em 2014. A queda, já esperada, teve como pano de fundo o delicado momento financeiro enfrentado pela estatal e a decisão da companhia de revisar o ritmo de seus investimentos não apenas para 2015, mas para todo o período até 2019.
O mais recente material divulgado pela estatal, em janeiro deste ano, apontava que os investimentos em 2015 somariam US$ 23 bilhões. A estatal não divulgou estimativas de valores em real.
No quinquênio 2015-2019, os investimentos devem somar US$ 98 bilhões, queda superior a US$ 30 bilhões em relação à estimativa de US$ 130,3 bilhões divulgada em junho do ano passado.
O material de divulgação dos resultados do quarto trimestre aponta que, apenas no intervalo de outubro a dezembro de 2015, os investimentos somaram R$ 20,826 bilhões. O montante fica 8% acima dos R$ 19,315 bilhões investidos no terceiro trimestre do ano passado, mas 15,33% inferior aos R$ 24,598 bilhões desembolsados no quarto trimestre de 2014.
A maior parte dos investimentos feitos pela Petrobras em 2015 foi direcionada à área de Exploração e Produção (E&P), com o equivalente a R$ 63,321 bilhões (82,9% do total). Na sequência aparecem os setores de Abastecimento, com aporte de R$ 8,390 bilhões (11%) no período, Gás & Energia, com R$ 2,581 bilhões (3,4%), Distribuição, com R$ 853 milhões (1,1%), Biocombustível, com R$ 152 milhões (0,2%), e Corporativo, com R$ 1,018 bilhão (1,33%).
O mais recente plano de negócios da estatal prevê que a área de E&P receberá 81%, ou US$ 80 bilhões, do investimento total previsto para o intervalo 2015-2019. A área de Abastecimento deve receber outros US$ 10,9 bilhões (11% do total). A área de Gás e Energia receberá US$ 5,4 bilhões e as demais áreas, incluindo a Corporativa, devem ter mais US$ 2,1 bilhões em investimentos.
ALAVACAGEM
A alavancagem líquida da Petrobras, medida pela relação entre endividamento líquido e patrimônio líquido, fechou o quarto trimestre em 60%, levemente abaixo da marca de 65% registrada no final de setembro de 2015. Já a relação entre dívida líquida e Ebitda, que estava em 5,24 vezes no término do terceiro trimestre do ano passado, fechou o ano em 5,31 vezes. Ambos os números permanecem significativamente acima das metas estabelecidas pela Petrobras, de até 35% e 2,5 vezes, respectivamente.
A gradual elevação do endividamento da Petrobras no decorrer de 2015, tendência parcialmente revertida nos três últimos meses do ano, acompanhou a trajetória de valorização do real em relação ao dólar. Como mais de 80% da dívida da estatal foi contraída em moeda estrangeira, o enfraquecimento do real implica elevação do endividamento, quando convertido para a moeda brasileira. O efeito seria ainda mais adverso à Petrobras não fosse a adoção da contabilidade de hedge, uma prática contábil que ameniza o impacto cambial, e consequentemente financeiro, sobre as demonstrações de resultado da empresa.
A variação cambial contribuiu para que o endividamento da estatal atingisse recordes em 2015, superando inclusive a barreira de R$ 500 bilhões. No dia 31 de dezembro, contudo, as dívidas da Petrobras somavam R$ 492,849 bilhões, valor abaixo do patamar apurado em setembro passado.
Como a estatal terminou o ano com R$ 100,887 bilhões de recursos em caixa, incluindo títulos, o endividamento líquido ao final do ano estava em R$ 391,962 bilhões. O valor é 2,6% inferior à dívida líquida de R$ 402,348 bilhões apurada no final de setembro passado.
As dívidas a vencer da Petrobras em 2016 somam R$ 57,334 bilhões, ou 11,6% do endividamento total da companhia. Em um período de um a dois anos vencem mais R$ 44,505 bilhões. Ou seja, o montante a vencer entre 2016 e 2017, no total de R$ 101,839 bilhões, é equivalente ao total de recursos em caixa por parte da companhia.
O nível de endividamento da Petrobras ganhou importância em 2010, ano em que a estatal realizou sua megacapitalização de mais R$ 120 bilhões. Na oportunidade, uma das razões para que a Petrobras anunciasse a operação foi justamente a preocupação de que a alavancagem líquida superasse 35% e colocasse em risco a condição de grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco.
Concluída a operação, a alavancagem da estatal caiu de 34% no segundo trimestre para 16% no terceiro trimestre de 2010. Desde então, porém, o indicador manteve trajetória ascendente, influenciado principalmente pela tendência de valorização do dólar ante o real. A mesma trajetória foi identificada na relação entre dívida líquida e Ebitda. Como resultado, a estatal perdeu o grau de investimento concedido pelas três principais agências de classificação de risco do mundo (Moody's, Standard & Poor's e Fitch).
O indicador superou os limites desejados pela estatal e só deve retornar a patamares considerados aceitáveis, abaixo de 2,5 vezes, no final da década. Esta é a previsão revelada pela própria Petrobras, no Plano de Negócios e Gestão 2015-2019 - a estatal ainda não divulgou o plano 2016-2019.
O planejamento da estatal projeta que a relação entre dívida líquida e Ebitda deve ser inferior a 3 vezes até 2018 e abaixo de 2,5 vezes até 2020. A estatal também prevê que a alavancagem líquida poderá cair abaixo de 40% até o final de 2018. O desejado patamar de menos de 35% deve ser alcançado até 2020.