Reservas e conta externa reduzem risco de Brasil não honrar compromissos, diz BC

O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos do BC afirmou que o ajuste nas contas externas evitou 'algum tipo de crise financeira' no Brasil
Do Estadão Conteúdo
Publicado em 21/03/2016 às 12:40
O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos do BC afirmou que o ajuste nas contas externas evitou 'algum tipo de crise financeira' no Brasil Foto: Foto: Marcos Santos/USP Imagens


O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Tony Volpon, afirmou nesta segunda-feira (21) em Kyoto, no Japão, que o ajuste cambial no Brasil, a melhora das contas externas e o elevado nível das reservas internacionais diminuem o risco de calotes pelo País. Ele não usou o termo calote, mas disse que os fatores listados por ele são uma "poderosa combinação" que diminuí o risco de o Brasil não honrar o que deve aos investidores estrangeiros, o que, por usa vez, tem servido como um contraponto às incertezas fiscais. 

A fala de Volpon ocorreu durante palestra no "35th Central Bankers Seminar (CBS)", organizado pela Nomura Securities.

Segundo o diretor, essa visão positiva que os estrangeiros podem ter em função do ajuste nas contas externas não reduz a necessidade de uma consolidação fiscal no País. "Ter mais tempo para fazer o que é necessário não pode ser confundido com o não ter que fazer o que é preciso", disse em referência a dificuldade do Brasil em resolver os problemas nas contas públicas.

Para Volpon, o ajuste fiscal é o único que está atrasado e, na avaliação dele, quando feito trará impactos para o crescimento por meio do canal da confiança. 


Crise evitada

O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos do BC afirmou que o ajuste nas contas externas evitou "algum tipo de crise financeira" no Brasil. Segundo ele, a melhora dessas contas, apesar da recessão e das dificuldades políticas e fiscais, "é um dos motivos de não ter se registrado o que geralmente acompanha os processos de ajuste em muitos países emergentes: algum tipo de crise financeira". Durante palestra do evento organizado pela Nomura Securities, ele afirmou ainda que, apesar de alguns avanços, o desempenho econômico do Brasil desapontou em 2015. 

Volpon tentou ainda ser otimista e disse que, sem diminuir os problemas pelos quais o Brasil têm passado, a visão de que não foi feito progresso em 2015 está errada. "Da perspectiva do processo de ajuste necessário, muito aconteceu que pode servir como base para a recuperação econômica se as escolhas de políticas certas foram feitas", disse. 

Além do ajuste no câmbio e nas contas externas, ele vê a redução dos "custos unitários do trabalho" como favoráveis ao Brasil. Sem citar o processo de impeachment em andamento da presidente Dilma Rousseff e as incertezas políticas geradas em função da Operação Lava Jato e que têm paralisado o Congresso Nacional, ele afirmou que as incertezas no Brasil são "essencialmente não-econômicas". "Uma redução da incerteza, que no Brasil é essencialmente de natureza não-econômica, poderia haver um impacto surpreendentemente rápido no crescimento econômico", ponderou. 

Volpon afirmou ainda que há um grande pessimismo sobre o quanto a economia pode crescer após o ajuste externo, monetário e fiscal. Ponderou, no entanto, que os investidores precisam ter cuidado para não cometer o erro do excesso de pessimismo. 

Ele comparou a situação ao período pós crise de 2008, quando o Brasil apresentou taxas expressivas de crescimento e ocorreu um excesso de otimismo. "Cuidado para não cometer o mesmo tipo de erro, mas na direção oposta", afirmou. 

 

Dívidas soberanas

O diretor do Banco Central afirmou em Kyoto que o financiamento de dívidas soberanas com taxas nominais negativas é o debate global mais importante no momento. Esse processo, segundo ele, traz reflexos para todo o mundo, principalmente para os mercados emergentes. 

Volpon observou que as economias emergentes têm passado por ajustes necessários "há um longo tempo" em função dessas políticas monetárias de taxas de juros baixas por alguns países. Avaliou ainda que, passado esse período de ajuste, essas economias devem voltar a apresentar taxas de crescimento sustentáveis, mas em nível menor que o observado antes do início desse processo.

Ele ponderou também que esses ajustes têm feito os emergentes contribuírem para a redução da demanda agregada global e que a "raiz da recessão" está no impacto gerado pela incerteza na demanda. "Com as políticas certas, o cenário de pós-ajuste pode ser de retorno do crescimento sustentável, mas em níveis menores do que os de antes do processo de ajuste ter início", disse.

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