A Petrobras é o símbolo de tudo o que está errado com o Estado brasileiro e, sem novas leis e uma reforma completa, a estatal corre o risco de não sobreviver. Quem faz o alerta é um dos principais nomes internacionais e a referência hoje no combate à corrupção no setor privado, Mark Pieth.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, o suíço afirma que a estatal brasileira precisa ser "refundada". Professor da Universidade da Basileia, o especialista liderou as principais iniciativas globais de combate à corrupção.
Pieth foi chefe do Departamento de Crime Organizado do Ministério da Justiça da Suíça, desenhou as leis antilavagem de dinheiro no país.
Por 13 anos, ele presidiu o grupo da OCDE sobre Corrupção no setor privado, além de ter sido um dos investigadores no caso da ONU conhecido como Petróleo por Alimentos. Ele também assumiu o trabalho de reformar a Fifa, foi chamado por dezenas de multinacionais para montar estratégias para combater corrupção e hoje é conselheiro do Banco Mundial sobre integridade. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como o sr. avalia a situação da Petrobras?
Ela atingiu o fundo do poço agora. Não apenas ela. Mas também as empresas que pagaram subornos, como as construtoras. É algo imenso e também altamente problemático. Mas, curiosamente, é também um bom começo. Poderíamos imaginar um novo grupo de pessoas assumindo a empresa, para limpar tudo e começar do zero, expulsando os executivos que são politicamente dependentes. De certa forma, não é muito diferente da Fifa. Às vezes, uma chacoalhada é brilhante. Mas pode ser bem complicado.
Como criar uma nova empresa quando a relação com a política é profunda?
A dificuldade é que a Petrobras é uma estatal. Mas isso não significa que o presidente deve ser escolhido pelo presidente do País. A Petrobras só vai sobreviver se for administrada como uma empresa séria.
O que poderia ocorrer com a estatal se ela não passar pelas reformas necessárias?
Tivemos muitos exemplos disso em outros países, que podem ser vistos como referência. Na Itália, por exemplo, muitas estatais foram sequestradas por políticos locais e usadas como bancos informais. O dinheiro é roubado e elas entram em colapso. Isso é algo que vemos com a Eni na Itália. Na França, vimos algo parecido com a Total. Uma estatal tem o tradicional problema de estar perto demais de um governo. Mas isso não é algo que não tenha como ser resolvido. Há como ter uma administração profissional, mesmo numa empresa estatal.
O que seria um sinal importante aos investidores estrangeiros?
O Brasil precisa imediatamente de uma nova Petrobras. A estrutura precisa ser reformada e novas pessoas precisam entrar. As duas coisas serão necessárias para mudar.
Aliados do governo dizem que a Operação Lava Jato aprofundou a recessão.
Não estou convencido de que a crise no Brasil é consequência do fato de a Justiça ter lidado com a Petrobras e outras empresas. A estatal é símbolo do que está errado com o Estado brasileiro. Portanto, se as pessoas estão sofrendo no Brasil, uma das etapas é lidar com empresas como a Petrobras, reformar. E não o contrário. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo