A crise e a violência serão responsáveis pela diminuição do acesso aos serviços bancários em Pernambuco, principalmente no interior. A reestruturação anunciada pelo Banco do Brasil (BB) neste domingo (20) atinge 402 agências em todo o País e resultará no fechamento de sete unidades da Região Metropolitana do Recife (RMR), além da transformação de nove agências de cidades do interior em postos bancários.
Sete desses municípios – Frei Miguelinho, Jataúba, Macaparana, Riacho das Almas, Tuparetama, Vertentes e Vicência – ficarão sem nenhum banco, uma vez que contam hoje com apenas uma unidade do BB, segundo levantamento feito pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco.
“O transtorno será muito grande nessas cidades. Os postos bancários não vão conseguir resolver as mesmas demandas das agências. As pessoas terão que se deslocar e serão alvo fácil de bandidos. Já estamos vivendo uma situação parecida com as agências que foram fechadas por causa da violência”, resume o presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), Luciano Torres (PSB), prefeito de Ingazeira, no Sertão do Pajeú.
O gestor afirma que a Amupe vai contatar os prefeitos dessas cidades e fazer o levantamento dos impactos que a transformação dessas agências em postos bancários vão trazer aos municípios. “Já percebemos, na prática, que os postos dos Correios não conseguem atender a demanda onde as agências estão fechadas”, conta Luciano.
“O BB podia diminuir os custos, mantendo os mesmos serviços, porque essas comunidades merecem ser atendidas”, diz o gerente de fiscalização do Procon Pernambuco, Roberto Campos. “Caso não sejam oferecidos os mesmos serviços à população, estamos analisando a possibilidade de entrar com uma ação para essas cidades continuarem tendo acesso aos serviços bancários”, acrescenta. Campos não detalhou, no entanto, que tipo de ação poderá ser desenvolvida pelo órgão de defesa dos consumidores, uma vez que as medidas ainda estam sob análise.
No caso dos municípios da RMR, o impacto será menor, já que há outras agências do BB e de outros bancos.
O fechamento de algumas das unidades do Banco do Brasil já era previsível, como a de Ponte dos Carvalhos e a da Avenida Guararapes. A primeira foi implantada para atender os trabalhadores dos projetos de Suape, quando a realidade era outra: as obras estavam a todo vapor, com a construção da Refinaria Abreu e Lima e dos navios do Estaleiro Atlântico Sul. Estima-se que pelo menos 10 mil desses operários moravam nas imediações de Pontes dos Carvalhos. Com a crise e a suspensão dos projetos, a demanda pelos serviços bancários caiu.
Já a agência da Avenida Guararapes remonta à época em que o bairro de Santo Antônio era o epicentro financeiro do Recife. A região foi perdendo importância com a decadência do Centro do Recife. Muitos bancos já haviam fechado suas unidades no local.
Os clientes das agências que serão fechadas não terão a sua rotina alterada por enquanto. Segundo as informações do BB, o encerramento das unidades e a implantação das demais medidas ocorrerá ao longo de 2017 e será feita uma ampla comunicação aos clientes em canais diversificados, como o hotsite www.bb.com.br/novoatendimento, SMS, aplicativo para celular e terminais de autoatendimento, além de correspondências e cartazes nas agências.
Quem tiver dúvidas pode contatar o banco através dos telefones exclusivos sobre mudanças de agência: 0800 729 5282, para pessoas físicas, e 0800 729 5281, para empresas. A Central funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h. Ainda de acordo com o BB, a mudança de agência será automática. Os clientes não precisam fazer qualquer procedimento adicional e podem manter seus cartões e senhas para transações na nova agência, mesmo com alteração no número da conta.
Pernambuco já tem 42 agências bancárias fechadas por causa da violência e sem previsão de reabertura, de acordo com informações do Sindicato dos Bancários do Estado. “O banco público tem uma função social que ajuda no desenvolvimento local, principalmente nos municípios do interior, onde influencia a atuação dos agricultores, micro e pequeno empresários, entre outros setor. Estamos preocupados não só com os empregos, mas com o impacto que isso vai trazer nas cidades que ficarão sem serviço bancário”, critica o diretor do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Fabiano Moura, referindo-se ao projeto de redução de custos do Banco do Brasil.
A instituição espera economizar R$ 750 milhões por ano somente com a reestruturação organizacional, que prevê o fechamento de 402 agências em todo o País, entre outras iniciativas.
A economia, na verdade, deve ser ainda maior, já que também ocorrerá a redução de postos de trabalho. Essa diminuição do quadro de pessoal deve acontecer com a adesão de até 18 mil funcionários ao Plano Extraordinário de Aposentadoria Incentivada lançado pela instituição.
Em Pernambuco, o BB tem 3.140 funcionários, dos quais 533 estão dentro do perfil que podem aderir ao programa. “Por enquanto, aconselhamos os funcionários a esperarem, porque estamos analisando essas medidas”, conta Fabiano. Ele acrescenta também que hoje serão realizadas duas reuniões, uma em Brasília e outra no Recife, entre a direção do BB e os representantes dos trabalhadores para conhecerem detalhes do plano de aposentadoria. “O Banco do Brasil mudou o seu rumo, entrando na lógica do setor privado. Grande parte da população das oito cidades que ficarão sem banco em Pernambuco não têm acesso ao serviço digital”, argumenta Fabiano.
Depois do anúncio da reestruturação, as ações ordinárias do BB lideraram os ganhos na Bolsa de São Paulo ontem. Os papéis encerraram o dia com alta de 7,84% e o Ibovespa, principal índice da Bolsa, teve ganho de 1,85%. Entre os principais bancos, as ações preferenciais do Itaú Unibanco subiram 0,81%, as do Bradesco tiveram ganho de 0,58%, e as do Santander se valorizaram em 2,38%.
Não foi só a Bolsa que reagiu bem ao processo de reestruturação do BB. O plano foi bem recebido por analistas. Para a equipe da Guide Investimentos, as medidas são importantes para o banco estatal ganhar eficiência e conseguir se aproximar do patamar de rentabilidade dos grandes bancos privados. Segundo a consultoria Coinvalores, o banco deve obter ganhos importantes não só de economia, como de competitividade, ao modernizar sua operação. A consultoria destaca que o plano está em sintonia com a estratégia adotada pelos concorrentes privados, que têm priorizado as plataformas digitais de atendimento.
Dentro das medidas anunciadas pelo BB, está a ampliação do atendimento por canais digitais, que prevê a abertura, ainda em 2017, de mais 255 unidades, entre escritórios e agências digitais, que irão se somar às 245 já existentes. Essas unidades digitais já atendem a 1,3 milhão de clientes, com expectativa de chegar a 4 milhões até o final de 2017. Ainda de acordo com informações do BB, as transações bancárias realizadas em canais de atendimento físicos estão em forte redução. O aplicativo do Banco para celular já conta com 9,4 milhões de clientes, que realizam cerca de 1 bilhão de transações bancárias por mês, ou 40% do total. Outras 27% são realizadas pela internet.