O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse nesta segunda-feira, 19, em São Paulo, que a retomada da economia pode ser mais (ou menos) demorada que a antecipada. O comentário, feito a uma plateia de investidores em evento do Bradesco, retoma ideia contida nos comunicados mais recentes do BC.
De acordo com Ilan Goldfajn, "a manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia pode ter impacto negativo sobre a atividade econômica".
Desde que estourou a crise política trazida pelas delações de executivos da JBS, o BC tem externado preocupações quanto ao efeito da turbulência sobre o andamento das reformas - em especial, da Reforma da Previdência, que tramita na Câmara.
"O fator de risco principal é o aumento de incerteza sobre a velocidade do processo de reformas e de ajustes na economia", disse Ilan. "Isso se dá tanto pela maior probabilidade de cenários que dificultem esse processo quanto pela dificuldade de avaliação dos efeitos desses cenários sobre os determinantes da inflação."
Entre os determinantes da inflação, Goldfajn citou a atividade econômica, as expectativas de inflação, as estimativas da taxa de juros estrutural e os preços de ativos financeiros relevantes
"É necessário acompanhar possíveis impactos do aumento de incerteza recente sobre a trajetória prospectiva da inflação", disse o presidente do BC. "Por um lado, a manutenção, por tempo prolongado, de níveis de incerteza elevados sobre a evolução do processo de reformas e ajustes na economia podem ter impacto negativo sobre a atividade econômica e, portanto, desinflacionário. Por outro lado, o impacto da incerteza sobre a formação de preços e sobre as estimativas da taxa de juros estrutural pode ter impacto oposto", disse. Para ele, as projeções condicionais do Copom envolvem hoje maior grau de incerteza.
Em outro ponto de sua fala, ele reafirmou que a desinflação de alimentos e de preços industriais pode ter efeitos "secundários" na inflação. "Notadamente, pode contribuir para quedas adicionais das expectativas de inflação e da inflação em outros setores da economia", disse.
Ao abordar o cenário externo, Ilan Goldfajn retomou a ideia de que, apesar de favorável no momento, ele apresenta "considerável grau de incerteza e pode dificultar o processo de desinflação".
O presidente do Banco Central citou que existem hoje incertezas sobre a China, a evolução dos preços das commodities e o apetite ao risco por ativos de economias emergentes.
Além disso, pontuou que persistem as incertezas quanto à implementação e às possíveis repercussões externas da política econômica do novo governo nos Estados Unidos, na área do comércio internacional, de estímulos fiscais, desregulamentação financeira e outros.
Em seu discurso, ele afirmou ainda que, a despeito das incertezas sobre o cenário externo, tanto os EUA quanto outras economias centrais vêm retomando o crescimento.
Ao mesmo tempo, ele voltou a destacar o balanço de pagamentos confortável do Brasil, o câmbio flutuante como "primeira linha de defesa contra choques externos e as reservas internacionais, que ultrapassam os US$ 375 bilhões.