RECIFE E SÃO PAULO
Quem vivenciou a época em que comprar linhas telefônicas era um investimento talvez ainda encontre dificuldade para manipular um smartphone. Agora imagine como empresas de ramos tradicionais e estruturadas há décadas precisam se esforçar para se encaixar em um mercado onde não é possível ignorar a realidade digital. Por isso, investir na transição de processos deixou de ser uma questão de competitividade. Hoje, trata-se de sobrevivência. Em Pernambuco, no Brasil e no mundo, a indústria está atenta a investimentos tecnológicos que podem aumentar em mais de 50% a produtividade a partir de simples intervenções digitais.
Esse foi o percentual médio conquistado ao longo de um ano e meio de execução do Programa Brasil + Produtivo, criado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, que através da implantação de processos digitais estabelece meios de redução de desperdício. “Se por um lado esse ganho de produtividade é uma amostra de que o investimento surte efeito, por outro mostra que ainda é preciso investir muito nesse aspecto, porque são intervenções ainda muito básicas se comparadas ao que está surgindo de novo”, analisa o diretor do Instituto Senai de Inovação em Pernambuco, Sérgio Soares.
O instituto começou a ser pensando a partir da crise mundial de 2008, quando as indústrias brasileiras (afetadas pelo cenário internacional) perceberam a necessidade de tirar do papel ações que ampliassem a competitividade e o desenvolvimento das empresas nacionais. Um exemplo de um produto desenvolvido em Pernambuco é o SafeSIM, simulador de realidade virtual usado em treinamentos de segurança do trabalho para atividades em altura e com eletricidade. Além de reduzir os custos da capacitação, a plataforma avalia o conteúdo apreendido pelos profissionais e gera métricas para o acompanhamento da evolução de cada um.
A transformação digital de empresas tradicionais é justamente o negócio executado pela pernambucana Much More Digital, que oferece o serviço de “unlocker”, uma espécie de destravamento de instituições que não têm o digital como parte do negócio. Os produtos vão desde a consultoria até o acompanhamento dos resultados da aplicação das mudanças propostas. “Não temos dúvidas de que empresas que já acumulam experiência e lembrança de marca prévias têm as melhores oportunidades para liderar a criação de negócios digitais, pois elas podem usar essas informações a partir de produtos físicos para definir suas decisões de inovação”, afirma o sócio e cofundador da Much More, Bruno Encarnação.
Em Pernambuco, o empresário destaca que o investimento na transição está bem disseminado no que ele chama de primeira fase, a da comunicação – presença institucional na internet e redes sociais. Mas a integração de processos digitais às rotinas produtivas ainda precisa ser assimilada pela maioria das companhias do Estado.
Para o presidente da Softex, Alcides Pires, além dos processos em si, para que as empresas consigam se integrar totalmente à realidade atual, é preciso implantar uma nova cultura entre os funcionários. “Apostar no digital dentro de empresas tradicionais não é uma decisão fácil. Muitas vezes implantar isso envolve extinguir um determinado departamento da empresa, que poderia perder sua função. Mas isso é um desafio global que precisa ser enfrentado por todas as redes”, destaca Pires.
A força com a qual os processos digitais atua sobre o mercado é tanta que nem mesmo as empresas jovens e de tecnologia devem escapar da necessidade de readequar e até repensar suas atuações. “Um dos debates recentes do mercado de TI é justamente sobre como ele irá lidar internamente com o que está acontecendo. É preciso analisar tudo com uma metodologia ágil, porque quem não aderir a essa transição vai estar morto em um curto espaço de tempo”, afirma o presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação em Pernambuco e na Paraíba (Assespro-PE/PB), Ítalo Nogueira.
Além de promover o aumento da produtividade, a transição digital também pode proporcionar a redução de custos, resultado que se torna ainda mais interessante em um momento econômico instável. A BMC – produtora de software para corporações – identifica que esse é um dos principais motivadores para as empresas brasileiras estarem buscando esse direcionamento. Segundo o levantamento feito pela multinacional, foi registrado um aumento de 20% no número de linhas utilizadas para aplicações M2M (entre máquinas).
“A inteligência artificial, a capacidade de máquinas aprenderem e exercerem determinadas funções, isso não é futuro. É realidade. Cada empresa tem a própria maturidade para encarar isso e começar a se movimentar de algum forma. Mas o que vemos é uma demanda crescente”, afirma a diretora da BMC no Brasil, Marcia Nakahara.
Em abril, a empresa decidiu rever a carteira de clientes no País, para alcançar esses clientes em potencial onde não tinha atuação, a exemplo do Nordeste. Em julho, fechou negócio para a implantação de um projeto em uma indústria pernambucana, que ainda não pode ter o nome divulgado por questões contratuais.
Na semana passada, durante o evento BMC Exchange, realizado em São Paulo depois de passar por EUA, Cingapura, China e Inglaterra, a empresa lançou seu novo produto focado em transição digital, o Multi-cloud. A ferramenta integra informações contidas em diferentes tipos de nuvem e cria um guia de gerenciamento de dados para indicar as melhores maneiras de mantê-los.
*A repórter viajou a convite da BMC