No mês de implantação da reforma trabalhista, houve mais demissões do que admissões no Brasil. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, 12.292 vagas de emprego formal foram fechadas no País, interrompendo uma sequência de sete meses de geração de postos de trabalho. O comércio é o único setor que conseguiu admitir mais do que demitir, com a criação de 68.602 vagas, graças à contratação de temporários. Em Pernambuco, o varejo ajudou a manter o saldo positivo de 259 vagas novas.
Apesar de o resultado ser negativo e culminar com a saída do ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira para se candidatar às eleições, especialistas afirmam que isso é decorrente de um momento de recuperação lenta da economia e insegurança jurídica em relação à reforma trabalhista.
Em novembro, o fechamento de 29.006 postos formais na indústria de transformação puxou o resultado para baixo, junto com o desempenho negativo em outras áreas, como construção civil (-22.826 vagas) e agropecuária (-21.761 vagas), por exemplo.
No fim do ano, a indústria chega ao fim do ciclo de produção e costuma ter desligamentos ou férias coletivas. Também há uma sazonalidade negativa na agropecuária, afirma o professor da UFPE e consultor de empresas Ecio Costa. “Historicamente, novembro não é um mês tão positivo quanto outros. Estamos um momento de transição na economia. Se comparar com o mês de novembro do ano passado, quando foram fechadas 116.747 postos, o resultado deste mês em 2017 não é tão ruim”, explica Costa.
No acumulado de 2017, houve mais admissões do que demissões, com a criação de 299.635 postos. Já nos últimos 12 meses, o saldo permanece negativo, com fechamento de 178.528 vagas. Para o professor de economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Nassif, o momento de muita turbulência política e econômica impacta no mercado de trabalho. “A retomada da economia está ocorrendo de forma muito lenta. Com o grande número de demissões durante a recessão, há uma grande ociosidade de maquinário, mas os empresários estão esperando para ver o que vai acontecer. Há uma sombra política em relação a assuntos como a reforma da previdência e as eleições no ar”, comenta.
A incerteza também ronda a reforma trabalhista. Implementada no dia 13 de novembro, ainda não deu tempo de ver completamente os reflexos da flexibilização sobre a criação de vagas por causa da insegurança jurídica com a reação negativa dos juízes do Trabalho. Os dados já inclusos sobre trabalhadores intermitentes e em jornada parcial mostram saldos positivos de 3.067 e 231, respectivamente, com maior demanda nos setores de comércio e serviço. “O resultado de novembro não tem a ver com a reforma trabalhista. A reforma trabalhista não induz demissões nem tem o objetivo de gerar empregos. Mal estamos saindo da recessão,”, afirma o professor da faculdade de economia da USP, Hélio Zylberstajn.
No futuro, os efeitos da reforma trabalhista devem ser sentidos no Caged, dizem especialistas. A perspectiva é de que este ano feche com equilíbrio entre admissões e demissões. Em 2018, o Ministério do Trabalho estima potencial de gerar dois milhões de empregos. Segundo Écio Costa, o mercado espera que o País cresça até 3% em 2018, o que acarretaria na criação de mais de 2,5 milhões de postos.