Em recuperação após ser envolvida em escândalos de corrupção, protestos a Petrobras se encontra no centro das greves que desestabilizam o país a poucos meses da eleições. Entenda o porquê.
A Petrobras foi fundada em 1953 durante a presidência de Getúlio Vargas, em um momento de expansão econômica e uma campanha nacionalista que defendia a nacionalização dos hidrocarbonetos sob o slogan "O petróleo é nosso".
Várias décadas depois, durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e o primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014), a Petrobras se tornou símbolo da pujança econômica do Brasil, impulsionada pelo boom das commodities.
A Petrobras sonhou alto especialmente após a descoberta em 2007 do pré-sal, que atualmente fornece quase 50% de sua produção (2,7 milhões de barris equivalentes de petróleo por dia em 2017).
A partir de 2014, as coisas começaram a desandar. Além do fim do ciclo favorável para as matérias-primas - que derrubou o preço mundial do petróleo - e a crise econômica doméstica, a Petrobras se viu envolvida em escândalos de corrupção que mancharam a sua imagem e prejudicaram as suas finanças.
A operação "Lava Jato" revelou um gigantesco esquema de desvios orquestrado entre políticos, empresários e dirigentes da Petrobras que negociavam contratos da estatal em troca de subornos.
A empresa registrou um prejuízo de mais de 2 bilhões de dólares no balanço de 2014 e seus ativos sofreram uma forte desvalorização.
A partir de 2016, quando o presidente Michel Temer chegou ao poder após o impeachment de Dilma Rousseff, o engenheiro e ex-ministro do Planejamento e de Minas e Energia Pedro Parente assumiu a direção da companhia estatal de economia mista.
Parente foi responsável pela redução e reestruturação da dívida, um programa de desinvestimento e mudou a política de preços.
Apesar de ter fechado 2017 com um déficit de 446 milhões de reais - no quarto ano consecutivo de perdas - a nova direção da empresa despertou otimismo nos mercados, que lhe devolveram em maio o posto de empresa de maior valor na Bolsa de São Paulo.
Ao contrário do que acontecia durante os dois governos de Dilma Rousseff, quando os preços do combustível eram controlados e não acompanhavam as flutuações do mercado internacional, a Petrobras adotou a prática de ajustes periódicos, que a partir do ano passado passaram a ser praticamente diários.
O reflexo dos preços do mercado internacional, entre outros fatores, fez disparar o valor dos combustíveis, e isso foi a gota d'água para os caminhoneiros, que alegavam não conseguir trabalhar sem uma previsão do preço do diesel.
Para o especialista no setor de energia Adriano Pires, outros fatores podem explicar a greve dos caminhoneiros.
Sufocado por uma crise fiscal, o governo dobrou no ano passado os impostos sobre os combustíveis e "para piorar, recentemente o dólar começou a se valorizar em relação ao real, e a economia não cresce [com tanta força]. Tudo isso criou condições para esta greve", disse à AFP Pires, diretor da consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Além disso, o especialista afirma que os estímulos durante o governo de Dilma Rousseff para a compra de caminhões geraram um excesso de frota, reduzindo o valor dos fretes.
"Cada vez que há uma crise como essa, todos acreditam que o governo tem que intervir na Petrobras para baixar os preços nas refinarias. Mas isso é voltar ao passado; o que deveríamos fazer, se o governo acredita que é injusto que o consumidor pague o aumento, é baixar os impostos", opinou Pires.
Outros defendem que, por ser uma empresa de capital misto em que o estado é o principal acionista com direito a voto, Petrobras deve atender outros interesses e não unicamente os do mercado.
Os trabalhadores do setor petroleiro iniciaram na quarta-feira (30) uma greve de 72 horas, exigindo a diminuição dos preços do gás de cozinha e dos combustíveis, o final da venda de ativos da companhia e da renúncia de Parente.
A política de preços de Petrobras "não contempla as necessidades do país", afirma Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia do Brasil.
A Petrobras "tem por objetivo assegurar o abastecimento de derivados do petróleo e petroquímicos para o país em condições estáveis e com preço adequado que possibilite a industrialização e o desenvolvimento econômico", afirma.
Por isso, propõe um caminho intermediário, como uma revisão de preços semestral para dar mais estabilidade.