Maquininhas se espalham e turbinam pequenos negócios

Desde 2010, o BC decidiu pelo fim da exclusividade das máquinas de cartão. Antes, apenas Rede e Cielo concentravam quase 100% do mercado
Lucas Moraes
Publicado em 15/07/2018 às 7:00
Desde 2010, o BC decidiu pelo fim da exclusividade das máquinas de cartão. Antes, apenas Rede e Cielo concentravam quase 100% do mercado Foto: Foto: Felipe Ribeiro/ JC Imagem


Elas estão em toda parte. Da vendinha da esquina até as grandes lojas, na capital ou no interior, as maquinetas móveis para pagamento de produtos e serviços via cartão de crédito são quase onipresentes. Com a comodidade e facilidade que trouxeram aos comerciantes, estão contribuindo para a disparada do mercado de compras e pagamentos via “dinheiro de plástico”, que em 2017 movimentou R$ 1,36 trilhão, superando pela primeira vez os saques em dinheiro no Brasil (R$ 1,31 trilhão).

A feira de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, é um bom termômetro da capilaridade das maquininhas nos pequenos negócios. Ali, José Hildo, 39 anos, e o pai, Manoel Jorge, 59, foram os primeiros a aceitar pagamento em cartão para compra de frutas e verduras. “Se a pessoa comprar R$ 1, a gente tá passando (na maquininha). Hoje, a movimentação na nossa venda é 70% de quem usa cartão. Os clientes nem olham o produto mais aqui. Mandam a listinha no WhatsApp ou Messenger, a gente faz o orçamento e quando ele vem buscar encosta o carro e passa o cartão”, conta José Hildo.

Pai e filho fazem uso na feira de uma máquina alugada da Rede, pagam R$ 400 entre taxas e aluguel e podem fazer transações de até R$ 10 mil. No interior, onde trabalha com o aluguel de mesas e cadeiras, Hildo optou por outra maquineta, da PagSeguro e diz que já está migrando para a Sumup. Isso por causa dos custos. O aumento da demanda tem trazido benefícios aos usuários, com a redução das taxas de uso cobradas. No caso de Hildo, os custos ficam em torno de 6%.

Desde 2010, o BC decidiu pelo fim da exclusividade das máquinas de cartão. Antes, apenas Rede e Cielo concentravam quase 100% do mercado, o que trazia mais custo aos lojistas e promovia uma espécie de “congelamento” das taxas cobradas.
Antes de escolher a maquininha que iria comprar, Tássia Bianka, 23, fez uma pesquisa e analisou uma tabela comparativa entre as empresas. “Montei um espaço de beleza no quarto de casa. De cada 10 clientes, pelo menos três me perguntavam sobre pagamento em cartão. Como são muitas opções, procurei a que mais compensa e passei a fazer uso da Point Mini, com taxa de 3,3% nas operações de crédito”, afirma a jovem.

PEQUENOS

De acordo com o diretor executivo da Abecs, Ricardo Vieira, o pequeno empreendedor é atualmente a fatia mais valiosa do mercado das maquininhas, que já soma mais de 5 milhões em todo o Brasil, numa média de 24,7 equipamentos por mil habitantes. “Com o fim da exclusividade, hoje temos mais de 15 empresas atuando no setor. Os novos entrantes já respondem por quase 30% do mercado. É bom para os negócios, que experimentam um incremento no faturamento, com redução dos custos”, explica.

O Nordeste, segundo indicador divulgado pelo Serasa Experian em fevereiro, foi a terceira região no País com o maior número de MEIs ao longo de 2017. Tal resultado tem atraído a atenção de novas empresas de maquininhas para a região. A fintech iZettle, surgida em 2013 na Suécia, é um exemplo. A empresa já concentra 26% da base de clientes e 35% de seus representantes no Nordeste.

Com o acirramento da concorrência, as empresas até então dominantes no mercado já começam a oferecer mais serviços aos usuários para não perder clientela. No mês passado, a Cielo, que em 2017 realizou mais de 7,3 bilhões de transações e somou R$ 613,8 bilhões em volume financeiro, relançou a plataforma Cielolio, oferecendo ao seus 1,15 milhão de clientes serviços para estruturação de cada modelo de negócio.

A Rede também evoluiu para uma plataforma multiserviços, que oferece soluções como antecipação de recebíveis, consulta de cheques e disponibilização de terminais aos mais de um milhão de estabelecimentos atendidos. “O que podemos esperar é realmente a maior democratização da aceitação do cartão. As taxas devem continuar diminuindo e a qualidade do serviço tende a aumentar. Os pequenos varejistas ganham porque conseguem vender mais e os grandes porque não precisam mais trabalhar com várias credenciadoras”, diz o presidente da consultoria em varejo financeiro Boanerges & Cia.

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