A inflação do aluguel medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) atingiu 8,24% em julho no acumulado dos últimos 12 meses. Este é o maior valor registrado desde outubro de 2016, quando o índice acumulou 8,7% em 12 meses. Entre os motivos da alta, estão a greve dos caminhoneiros, o preço alto dos combustíveis e a desvalorização cambial. A desaceleração do índice na passagem de junho para julho, de 1,87% para 0,51%, entretanto, dá sinais de que os efeitos da turbulência podem estar começando a se dissipar.
Seja como for, apesar da alta acumulada, o momento é favorável ao inquilino. Isso porque o mercado imobiliário ainda sofre os efeitos da recessão, com imóveis colocados para locação ainda vagos, o que reforça o poder de barganha na hora de negociar com o locador o melhor preço do aluguel.
“O IGP-M é o índice de reajuste dos contratos de aluguel. Quando o contrato faz aniversário, o valor acumulado dos 12 meses é aplicado. Mas independente do desempenho do índice, as negociações diretas entre inquilinos e proprietários têm ditado o dia a dia nessa relação”, explica o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário em Pernambuco (Ademi-PE), Gildo Vilaça.
Na Âncora Imobiliária, empresa especializada em aluguéis, há 400 imóveis vagos hoje, o que representa 18% da carteira de 2,3 mil. No passado, esse índice era de 7%, quando o mercado estava em alta. “Este ano, notamos uma diminuição na desocupação dos imóveis e incremento na locação. Essa melhora na locação é decorrente dos receios do consumidor de assumir financiamento (da casa própria) a longo prazo. Entretanto, o momento econômico não permite que os preços subam muito. Então, negociar é a melhor solução. Imóvel bom é imóvel alugado”, afirma o diretor da Âncora e vice-presidente do Secovi-PE, Luciano Novaes.
Negociar é a aposta do gerente de negócios Moacir Melo. Ele percebeu que os apartamentos colocados para locação no prédio onde mora estão sendo ocupados lentamente. Quando o negócio é fechado, o aluguel é até 30% menor do que o valor que ele paga. “Há três anos, o valor do meu aluguel não aumenta. Mas eu percebi que o momento é ideal para negociar. O mercado de aluguel está muito lento. Vou procurar um apartamento maior por um valor melhor. E também vou procurar o dono do meu imóvel para mostrar o que consegui e tentar baratear”, afirma.
O valor do IGP-M registrado em julho no acumulado dos doze meses corresponde ao dobro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), previsto para 4% este ano, segundo o boletim Focus do Banco Central. Isso acontece porque o IGP-M é formado por três índices mais abrangentes: o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que registra variação de preços agropecuários; o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede o varejo; e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), usado para reajuste de financiamento de imóveis em construção
Com a greve dos caminhoneiros e a desvalorização cambial, matérias-primas agrícolas e de manufatura ficaram mais caras, pressionando a inflação.
Agora, em julho, a desaceleração no ritmo de alta do IGP-M teve influência do IPA, que responde por 60% do índice geral. O índice apresentou variação positiva de 0,50%, contra 2,33% no mês anterior. O destaque ficou para os produtos agropecuários, cujos preços recuaram 1,83%, depois de terem subido 3,03% em junho.
O Índice de Preços ao Consumidor, que tem peso de 30% no índice geral, desacelerou a alta a 0,44%, contra 1,09% antes, com recuo em sete das oito classes de despesa que compõem o índice. A principal contribuição para o movimento veio do grupo de alimentação, que registrou queda de 0,19%, ante avanço de 1,55% no mês anterior.
Já o INCC avançou 0,72% em julho, depois de subir 0,76% antes. Das sete capitais analisadas, três registraram desaceleração em suas taxas de variação em julho ante junho: Recife (de 0,88% para 0,35%), Rio de Janeiro (de 0,68% para 0,51%), e São Paulo (de 1,13% para 0,65%).
O desempenho da inflação do aluguel é bem diferente de 2017, quando o acumulado do ano fechou em -0,5% em dezembro, devido à super safra, que puxou os preços dos alimentos para baixo.
“Acredito que o IGP-M vai continuar a desacelerar nos próximos meses, uma prova de que os choques estão se dissipando. Não é possível prever o comportamento do câmbio e dos preços do petróleo. Com o mercado de aluguel ainda debilitado, os proprietários vão permanecer sensíveis a negociações”, afirma o superintendente adjunto para Inflação do FGV/Ibre, Salomão Quadros.