Um projeto ambicioso pretende levar segurança energética, hídrica e alimentar para o Semiárido nordestino. O protótipo desenvolvido pela rede Ecolume está sendo instalado na cidade pernambucana de Ibimirim, no Sertão do Moxotó, a 330 quilômetros do Recife. Com um investimento de R$ 420 mil originários do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), placas solares, hortas e tanques de irrigação trabalham em conjunto para minimizar as dificuldades impostas pelo clima local. O mote é a possibilidade de “plantar água, comer caatinga e irrigar com o sol”.
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O protótipo está sendo instalado na unidade educacional do Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) em Ibimirim. São dez placas solares que deverão suprir a demanda de energia do local. Sob os painéis fotovoltaicos, o espaço com sombra será aproveitado para a plantação de hortaliças – mais sensíveis ao sol forte – e criação de animais de pequeno porte, como galinhas. Um tanque de mil litros de água é usado para fazer a irrigação (com uso da energia gerada pelas placas) e criação de peixes.
“A estimativa é de apenas 20% de perda de água ao longo de cerca de dez dias. Ou seja, aquela comunidade só precisa repor aquela quantidade perdida por evaporação ou pelo uso das plantas”, detalha a coordenadora do Laboratório de Mudanças do Clima do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) Francis Lacerda, que faz parte da iniciativa.
Os detalhes da pesquisa serão apresentados nesta terça-feira (7) ao projeto Bota Na Mesa, realizado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. “A proposta é que os três elementos (energia, água e alimentos) trabalhem de forma sinérgica em plena caatinga frente às questões atuais de mudança climática”, explica Francis. O estudo foi um dos três selecionados no Nordeste e o único de Pernambuco entre os 75 escolhidos de todo o País pela FGV.
Nessa segunda-feira (6) a iniciativa foi apresentada em um colóquio promovido pelo Centro de Energias Renováveis (CER) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Além de Francis, o evento contou com a participação do coordenador do Sistema de Modelagem Brasileira das Mudanças Climáticas, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Paulo Nobre, que falou sobre a importância da de exploração de fontes renováveis de energia para o futuro da sociedade.
De acordo com os integrantes da rede Ecolume, a manutenção do sistema integrado exige entre duas e três horas por dia, o que permite que uma família reveze essa atividade e ainda tenha tempo suficiente para se dedicar à agricultura. “Nosso objetivo é encontrar formas de entender as condições da região e usá-las ao nosso favor. Deixar de focar só no problema, que é a seca, e driblar isso com soluções adaptáveis”, destaca a pesquisadora do IPA.
O estudo ainda vai analisar a interação entre os elementos do sistema e verificar se, por exemplo, o plantio de uma horta pode aumentar a eficiência das placas solares, já que o equipamento diminui sua produtividade ao atingir uma determinada temperatura. Outra hipótese a ser confirmada ao longo dos próximos dois anos de realização da pesquisa é a recuperação do solo degradado.
O uso de placas solares para suprir a energia necessária para a irrigação no interior nordestino é um dos focos do programa FNE Sol, do Banco do Nordeste (BNB). “A irrigação exige um consumo de energia significante, que nem sempre é acessível a um produtor rural nordestino. O programa, então, permite que esse agricultor seja autossuficiente”, afirma o superintendente de Negócios de Varejo e Agronegócio do BNB, Luiz Sérgio Farias. A linha os mini e pequenos produtores têm acesso ao financiamento para a compra de sistemas fotovoltaicos com taxa de 5,29% ao ano. As mensalidades ainda podem ter um abatimento de 15% para os consumidores que pagarem em dia.