Pernambucano, Reive Barros assumiu a presidência da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em maio, depois de deixar a diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em janeiro. Engenheiro de formação, já passou pela Chesf e agora se dedica ao planejamento do setor. Barros foi convidado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco para palestrar sobre a Matriz Energética Brasileira na sexta-feira (19), no Recife.
A cena política e as térmicas no Nordeste foram assunto da entrevista que ele concedeu ao JC.
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JC – Como o setor elétrico vai enfrentar as consequências do atual momento político?
BARROS – O setor elétrico está suficientemente maduro. Temos um desenho regulatório bem definido, regras rígidas, direitos claros. Nesses próximos dez anos vamos investir R$ 400 bilhões, uma prova disso. Então acho que somos o único segmento de infraestrutura onde há estabilidade independentemente do governo que virá. Não há nos portos, nem aeroportos, nem saneamento. Como estamos, na maior parte, com o setor privado e estamos bem organizados em associações, conseguimos sofrer pouca interferência.
JC – A geração distribuída é um ponto essencial no cenário dos próximos anos, mas ainda se cobra mecanismos para que as pequenas unidades sejam tratadas, de fato, como produtoras. O que está sendo feito neste sentido?
BARROS – O modelo de concessão de distribuição pode sofrer a partir do momento em que clientes começarem a migrar para o mercado de livre produção. Além disso, o órgão regulador tem muito cuidado em mexer nisso porque é, através da distribuidora, ou seja, através da tarifa, que é ela quem cobra, que se arrecada para custear a geração, a transmissão, os tributos, o ICMS. Se isso se quebra, quebra-se a cadeia. A tendência é que as distribuidoras passem a cobrar apenas pela operação e manutenção. Quando conseguirmos isso, vamos disparar a geração distribuída, mas já temos incentivos nesse segmento que são suficientes para estimular o segmento.
JC – Outra questão debatida é a instalação de novas térmicas no Nordeste. Qual seu posicionamento?
BARROS – A EPE apresentou um relatório ao Ministério de Minas e Energia defendendo a aposta em uma energia firme para manter a estabilidade do sistema diante das fontes intermitentes. A eólica e a solar não oferecem uma produção que permita o fornecimento constante. É necessária uma outra fonte firme. Podem ser os reservatórios cheios (para as hidrelétricas) ou as térmicas. Mas estamos numa crise hídrica, não podemos contar com reservatórios cheios; nos sobra as térmicas. O Nordeste já tem 2.600 MW de potência instalada com térmicas, mas essas usam principalmente óleo combustível, que tem custo e índice de emissão de CO2 muito elevados. Defendemos que elas sejam substituídas por térmicas a gás à medida em que os contratos forem acabando. E eu, particularmente, advogo por térmicas em todos os grandes portos do Nordeste. Assim vão oferecer segurança energética à região e criar um mercado secundário de gás. Hoje dependemos do Sudeste para firmar a nossa produção de renováveis. As regiões precisam ser autossuficientes.