A equipe que cuida da transição na Caixa está enfrentando dificuldades para ter acesso aos dados de operações sigilosas do banco, usado nos últimos anos como braço do governo na liberação do crédito, segundo apurou o 'Estadão/Broadcast'. A principal fonte de informações do novo comando está sendo o Tribunal de Contas da União (TCU), onde há 200 processos abertos para apurar irregularidades na instituição.
Apenas dados públicos, como balanços do banco e outros relatórios disponíveis na internet, foram colocados à disposição O temor da equipe de transição é encontrar, só depois de assumir, operações que colocam em risco a saúde financeira do banco. Escolhido para presidir a Caixa, Pedro Guimarães já foi oito vezes ao TCU e tem se encontrado com diferentes ministros, que relatam processos distintos em relação ao banco. Procurada, a Caixa não comentou o assunto.
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, orientou Guimarães a acabar com as irregularidades decorrentes do fatiamento político dos últimos anos. Partidos políticos, como o PP - que apadrinhou o presidente atual, Nelson Antonio de Souza - e o PR, o primeiro a declarar apoio formal ao futuro governo após a eleição, estão querendo fazer indicações, embora o novo governo tenha prometido resistir a isso.
Bolsonaro, além disso, tem demonstrado interesse em colocar um militar no posto de vice-presidente de tecnologia da informação do banco, para "vasculhar" os contratos da instituição. Isso, porém, poderia trombar com a política do banco, de escolher os diretores via empresas de contratação de executivos.
Outro ponto que aumentou a pressão sobre o novo comando é a decisão, anunciada por Bolsonaro, de rever os contratos de publicidade e patrocínio do banco. O presidente eleito disse que o banco estatal desembolsará R$ 2,5 bilhões com esses atividades neste ano. A Caixa, porém, contestou o número e disse que o orçamento de 2018 é de R$ 685 milhões, dos quais R$ 500,8 milhões foram gastos até novembro. Os contratos de patrocínio de futebol só serão renovados depois de adotadas exigências feitas pelo TCU.
O Estadão/Broadcast apurou que Bolsonaro orientou que o novo comando do banco priorize patrocínios regionais em vez de grandes eventos esportivos e disse que eles precisarão ter "lógica financeira".
A ideia é que a Caixa passe a focar nas linhas em que já tem tradição, como o crédito imobiliário, e nas políticas públicas, como a gestão do FGTS. Empréstimos a grandes empresas - que diminuíram drasticamente - devem cessar para que o enfoque seja microcrédito e crédito consignado. Na área de infraestrutura, deverão ser priorizados iluminação pública e saneamento.
Ainda na interinidade, o presidente Michel Temer anunciou que barraria o aparelhamento político nas estatais e fundos de pensão. Mas, assim que assumiu definitivamente, colocou nas 12 vice-presidências do banco indicações do MDB, PSDB, DEM, PR, PRB, PSB e PP, que ficou também com a presidência.
Depois que o Banco Central e a Polícia Federal recomendaram o afastamento de quatro vices por suspeitas de corrupção, o conselho de administração do banco, presidido pela número 2 do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, impôs uma nova forma de escolher executivos. A seleção é feita por uma empresa independente.
Dessa forma foram escolhidos quatro vices: de governo, corporativo, loterias e habitação. Eles já estão trabalhando e têm mandato de dois anos. Outro processo está em andamento para a escolha de mais quatro: gestão de ativos de terceiros (área onde fica o FI-FGTS), logística, produtos de varejo e a própria tecnologia da informação.
Além de adotar o novo modelo de escolha dos executivos, a Caixa decidiu mudar a forma de escolha das empresas contempladas com recursos do fundo de investimento que usa parte do dinheiro dos trabalhadores para aplicar em infraestrutura, o FI-FGTS. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.